Moçambique/Líder de guerrilheiros dissidentes disposto ao diálogo
Bissau,
27 Out 20 (ANG) - Mariano Nhongo, dissidente da guerrilha da Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo), disse segunda-feira estar disponível para
"negociar com o Governo" uma solução para acabar com os ataques
armados do seu grupo no centro do país.
A Junta Militar está
disposta a negociar com o Governo, mas só se for uma negociação de verdade",
disse em declarações por telefone, à Lusa, em reacção à trégua anunciada no
sábado pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Nhongo pediu a
divulgação prévia de uma petição enviada há um ano ao Governo.
"Primeiro, divulgar
o documento, depois afastar Ossufo (Momade, presidente da Renamo) como
interlocutor activo na comunicação com o partido e daí acabou o problema. Hoje
mesmo não haverá mais a Junta Militar a disparar", disse.
O fundador da
autoproclamada Junta Militar da Renamo disse que ainda não recebeu uma
comunicação oficial da trégua, mas manifestou-se disponível para criar um
corredor de diálogo com o Governo se este tiver uma intenção genuína de
pacificação do país.
Mariano Nhongo disse que
anteriores tentativas de negociação fracassaram devido a falsidades por parte
do Governo.
"Em negociações
falsas a Junta Militar não vai entrar", disse o antigo estratega militar
do histórico líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu na Gorongosa em maio
de 2018 por complicações de saúde.
Nhongo disse que no
domingo, primeiro dia da trégua, dois membros do seu grupo foram sequestrados
no distrito da Gorongosa, em Sofala, centro de Moçambique, sem mais detalhes.
O Presidente
moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou no sábado uma trégua na perseguição das
Forças de Defesa e Segurança (FDS) à Junta.
"Não vamos
perseguir a Junta durante uma semana precisamente para dizer que nós estamos
abertos, o país está aberto, eu estou aberto" ao diálogo, reiterou.
"As vias
necessárias" para esse diálogo "estão abertas", referiu -
dizendo que a Junta sabe como esse trabalho está a ser feito - para que se
encontre "uma solução" para acabar com o problema de haver
"moçambicanos a matar outros moçambicanos".
A Junta Militar da
Renamo é um movimento de ex-guerrilheiros dissidentes do principal partido da
oposição de Moçambique que contesta o líder eleito no congresso de 2019, Ossufo
Momade, e as condições de desmilitarização, desarmamento e reintegração por ele
negociadas com o Governo.
O grupo surgiu em Junho
de 2019 e ameaçou pegar nas armas caso não fosse ouvido nas reivindicações de
destituição da liderança da Renamo e quanto a uma renegociação do acordo de paz
que Momade assinou em Agosto do último ano com Nyusi.
Desde então é o
principal suspeito da morte de cerca de 30 pessoas em ataques contra
autocarros, aldeias e elementos das FDS no centro do país, mas ao mesmo tempo
tem recusado vários apelos ao diálogo, inclusive patrocinados pelas Nações
Unidas e União Europeia, entre outros parceiros.
A violência ocorre na
mesma altura em que o país enfrenta uma crise humanitária no norte, na
província de Cabo Delgado, onde uma insurgência armada que dura há três anos já
provocou entre 1.000 e 2.000 mortos e 300.000 deslocados.ANG/Angop
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