África do Sul/ Ex-presidente adverte para “guerra civil” no país
Bissau,
15 Out 20 (ANG) - O ex-Presidente sul-africano, Kgalema Motlanthe, advertiu
hoje que o agravamento da situação económica e da violência racial na África do
Sul pode precipitar o país para uma "guerra civil".
Motlanthe, que serviu o
país como 3.º Presidente da África do Sul por cerca de sete meses entre 2008 e
2009, após a renúncia ao cargo de Thabo Mbeki, adiantou que a situação social e
política actual “pode agravar-se ao ponto de evoluir para uma guerra civil”,
salientando que “os seus direitos [dos agricultores] devem ser protegidos
também, e a sua segurança também deve ser garantida”.
"Esses agricultores
são ex-soldados porque vieram de um passado de colapso militar e podem estar
armados", declarou Kgalema Motlanthe ao canal de televisão por cabo
sul-africano Newsroom Afrika.
O político sul-africano
do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), partido no poder,
referia-se aos últimos episódios de violência racial no país após o brutal
assassínio do jovem agricultor branco de 22 anos Brendin Horner,
presumivelmente por dois homens negros, em Paul Roux, uma localidade próxima a
Senekal, no Estado Livre, a mais de 200 quilómetros a sudoeste de Joanesburgo.
Segundo um porta-voz da
Polícia, os dois homens, de 34 e 43 anos, que devem comparecer pela segunda vez
na sexta-feira no tribunal de Senekal, foram presos no sábado, 03 de Outubro,
um dia depois de o corpo do jovem agricultor ter sido encontrado pela Polícia
pendurado num poste num terreno próximo da fazenda agrícola onde trabalhava
como gerente.
O adiamento do
julgamento na semana passada motivou manifestações de centenas de agricultores
armados do Estado Livre, que saíram à rua em protesto contra o agravamento da
violência e criminalidade na área, a confrontar a Polícia no tribunal de
Senekal, invadindo a cela do tribunal onde estavam os dois suspeitos do homicídio
do jovem agricultor.
Um dos homens suspeitos
do homicídio de Brendin Horner já havia sido detido por 16 vezes por vários
crimes, incluindo roubo de gado, tendo sido condenado a 18 meses de prisão num
dos casos e a 12 meses noutro, segundo o ministro da Polícia, Bheki Cele.
Na segunda-feira, o
Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, apelou à calma, após episódios de
violência racial, afirmando que “as tensões são uma triste memória de que a
África do Sul ainda está a recuperar do regime do ‘apartheid'”.
A mensagem do chefe de
Estado, surge após uma semana que culminou com uma acusação de terrorismo
apresentada pelo Ministério Público sul-africano contra um empresário local por
alegadamente liderar a manifestação de agricultores brancos, que incendiou uma
viatura da Polícia à porta do tribunal, onde os suspeitos negros do assassínio
do jovem agricultor branco estavam a ser ouvidos.
O Presidente
sul-africano, que preside também ao Congresso Nacional Africano, no poder desde
1994, salientou que, no contexto de alta criminalidade que afecta o país, a
maioria das vítimas de crimes violentos continua a ser “negra e pobre”.
“O brutal assassínio
deste jovem agricultor branco, presumivelmente por homens negros, seguido do
espectáculo de agricultores brancos a invadir uma esquadra de Polícia para
atacar um suspeito negro”, é uma sequência que “reabre feridas que remontam a
gerações atrás”, sublinhou o chefe de Estado.
O empresário
sul-africano, 51 anos, detido pela Polícia após as manifestações de protesto
contra a criminalidade em fazendas agrícolas, e a pressão de líderes políticos
do ANC e EFF (Economic Freedom Fighters), de esquerda radical, nega as
acusações e recorreu esta quarta-feira ao tribunal supremo, em Bloemfontein,
depois de o tribunal de Senekal rejeitar um pedido de liberdade condicional.
O chefe da Polícia,
Bheki Cele, reuniu-se com o líder do EFF, Julius Malema, que ameaça defender na
sexta-feira o edifício do tribunal e a Polícia com “o próprio corpo”, antes de
visitar na terça-feira a família do agricultor assassinado em Paul Roux, onde
manteve também encontros com os agricultores latifundiários e trabalhadores
rurais sobre o crime na área.
No encontro destinado a
aliviar as tensões na área, os agricultores no Estado Livre indicaram ao
governante prejuízos superiores a mais de um milhão de rands (51 mil euros) por
mês devido ao roubo de gado e deram um prazo de “três semanas” ao Governo para
implementar medidas de segurança nas áreas rurais.
Na quarta-feira, líderes
religiosos da comunidade rural de Senekel reuniram-se para orar pela paz após o
agravamento das tensões com a Polícia na sequência das declarações de Julius
Malema.
O líder da esquerda
radical instou os membros do partido a proteger a “propriedade pública” em
Senekal e a “efectuar detenções se a Polícia não agir contra os agricultores”,
agravando ainda mais as tensões raciais no país onde, nos últimos meses, se
registaram vários protestos contra o agravamento do desemprego, alto crime e
assassínios, principalmente contra brancos, na zonas rurais.
Fonte do sindicato dos
agricultores comerciais na África do Sul (TLU SA, na sigla em inglês), a
organização agrícola mais antiga no país, disse hoje à Lusa que 287 ataques e
43 assassínios em fazendas agrícolas foram registados este ano.
Desde 1990, referiu a
mesma fonte, a organização agrícola registou até à data 2.091 homicídios e
5.637 ataques deste tipo, sendo o Estado Livre a sexta província do país (de um
total de nove) mais afectada com 616 ataques a fazendas e 220 assassínios.ANG/Angop
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