Covid-19/Zâmbia torna-se primeiro país africano em “default” devido à pandemia
Bissau, 22 Out 20 (ANG) - A agência de notação financeira Standard & Poor's (S&P) colocou esta quinta-feira em Incumprimento Financeiro ('default') a Zâmbia, que se torna assim o primeiro país africano a entrar em 'default' devido à pandemia de covid-19.
"A 13 de Outubro, o
Governo da Zâmbia emitiu um comunicado segundo o qual disse que seria incapaz
de fazer pagamentos relativamente às obrigações financeiras externas devido a
pressões de liquidez que foram criadas pela pandemia", dizem os analistas
da S&P na nota que acompanha a decisão de colocar o 'rating' do país em
'Default Selectivo'.
"A S&P desceu
quarta-feira o 'rating' do crédito soberano em moeda externa de longo e curto
prazo para SD (Selective Default, no original em inglês) e, ao mesmo tempo,
manteve o nível de CCC- para os ratings relativos às emissões de dívida em
moeda local", anunciam os analistas da agência de notação financeira.
Com a decisão de colocar
a Zâmbia em 'default', este país africano que faz fronteira com Angola e
Moçambique torna-se o primeiro a entrar em incumprimento devido ao aumento da
despesa pública para combater a pandemia de covid-19 e, simultaneamente, à
descida do preço das matérias-primas e da procura mundial.
Na semana passada, o
Governo falhou o pagamento de uma prestação de 42,5 milhões de dólares, cerca
de 35 milhões de euros, relativa à emissão de mil milhões de dólares (843
milhões de euros) que vence em 2024, já depois de ter pedido aos credores
privados para suspender os pagamentos durante seis meses, ou seja, uma
reestruturação da dívida privada.
"A declaração de 13
de Outubro (na qual afirmava que não iria pagar a prestação) segue-se a um
anúncio anterior de solicitação de consentimento, na qual pedia efectivamente
aos detentores de títulos de dívida que concordassem num congelamento dos
pagamentos de dívida durante seis meses", escrevem os analistas,
afirmando: "Vemos este pedido aos detentores de títulos de dívida como uma
oferta problemática ao abrigo da nossa metodologia", que implica uma
descida no 'rating' para 'default'.
A S&P antevê que a
Zâmbia vá continuar em 'default' durante os próximos seis meses, período em que
vai tentar completar uma reestruturação mais ampla, mas alerta que
independentemente do resultado dessas negociações, "a qualidade de crédito
geral é constrangida por factores estruturais, incluindo pouca riqueza, grandes
défices orçamentais e um elevado peso da dívida".
A S&P estima que a
economia da Zâmbia tenha um crescimento negativo de 4% este ano, recuperando
para uma expansão de 2% em 2021, e que o rácio da dívida pública face ao PIB
suba de 85,9%, em 2019, para 106,1% este ano.
África passou hoje os 40
mil mortos (40.222) devido à covid-19, tendo registado nas últimas 24 horas
mais 9.800 infecções, para um total de 1.664.212 casos, segundo os últimos
dados relativos à pandemia no continente.
De acordo com o Centro
de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nas últimas
24 horas o número de recuperados nos 55 Estados-membros da organização foi de
9.672, para um total de 1.372.778 desde o início da pandemia.
O primeiro caso de
covid-19 em África surgiu no Egipto, em 14 de Fevereiro, e a Nigéria foi o
primeiro país da África subsaariana a registar casos de infecção, em 28 de
Fevereiro.
A pandemia de covid-19
já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 40,8 milhões de casos de
infecção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida
por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro, em Wuhan, uma cidade do
centro da China.ANG/Angop
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