EUA-Eleições/América entre
voto de mudança e de continuidade
Bissau,
28 Out 20 (ANG) - A sete dias das eleições presidenciais nos Estados Unidos da
América (EUA), as sondagens atribuem favoritismo ao candidato democrata Joe
Biden, numa altura em que mais de 50 milhões de eleitores votaram
antecipadamente.
O último debate
televisivo entre ambos os concorrentes não produziu mudanças significativas,
pelo que dificilmente alterará a tendência de voto, de acordo com analistas.
A forma como geriu a
pandemia da Covid-19, que já matou mais de 220 mil pessoas nos EUA, é o factor
principal da desvantagem de Trump, que trocou o slogan de 2016 - “Make America
Great Again" (Tornar a América Grande de Novo) - para “Keep America Great”
(Manter a América Grande).
As cerca de 240 milhões
de pessoas qualificadas para votar (nem todas estão inscritas e muitas nem
costumam participar nas eleições) vão às urnas no dia 3 de Novembro neste
cenário, em que a pandemia também provocou o desemprego de muitos potenciais
eleitores.
A negligência de Trump –
que acabou infectado pela Covid-19 – na gestão da pandemia,
chegando a ironizar sobre a doença, enquanto o vírus progredia
vertiginosamente, causou repulsa, revolta e desalento entre os
norte-americanos.
Mas, mesmo neste
contexto, Trump manifesta-se optimista quanto à sua reeleição, e promete, caso
consiga um segundo mandato, concluir a construção do muro na fronteira com o
México, e manter a expulsão de imigrantes que entrarem no país de forma ilegal,
principalmente muçulmanos associados à ataques terroristas.
Eleito em 2016 pelo
Partido Republicano como 46º Presidente dos Estados Unidos da América, Trump
garante, caso continue na presidência, encerrar, nos próximos quatro anos, a
participação dos EUA em guerras no Médio Oriente, e apoiar o porte de armas por
cidadãos norte-americanos.
O emprego e o comércio
internacional continuam a ser as principais plataformas
eleitorais de Donald Trump, apresentando um plano de governo com medidas
proteccionistas para a geração de empregos no país, em vez de favorecer o livre
comércio e sua consequente busca por territórios onde o custo de produção e
mão-de-obra é mais barato, como a Ásia, Oceania e América Latina.
No campo da saúde,
defende a continuação de um sector privado com valores estimados de acordo com
a livre concorrência entre os serviços de hospitais, clínicas e profissionais
do ramo.
Quanto à política
externa, o Presidente Donald Trump, 74 anos de idade, promete focar-se na
manutenção da segurança interna, através do combate ao terrorismo internacional
e do fortalecimento da política de fronteiras, assim como no controlo da
imigração.
Trump defende uma
expansão gradual dos efectivos militares norte-americanos, bem como uma
aproximação do governo ao sector comercial.
O candidato republicano
compromete-se, igualmente, a prover liderança presidencial com forte pendor
diplomático, buscando "restaurar o respeito dos Estados Unidos em todo o
globo".
Por seu turno, uma vez
eleito, Joe Biden pretende expandir o projecto de saúde do
ex-Presidente Barack Obama, conhecido como “Obamacare”, que actualmente atende
apenas idosos e pessoas com deficiência.
Embora não proponha um
sistema de saúde universal, o programa de governo de Biden, que escolheu a
afro-americana Kamala Harris para vice-Presidente, tem como objectivo
oferecer cobertura médica a partir de valores acessíveis, protegendo a
população de dívidas altas quando necessitar de cuidados de saúde.
O herdeiro político de
Obama ambiciona dar, a todos os norte-americanos, acesso a um seguro de saúde
financeiramente acessível, por meio da criação de um plano público semelhante
ao Medicare for All (assistência de saúde para todos – universal e único
controlado pelo governo).
No seu programa, o
candidato democrata também propõe-se ao aumento das medidas de protecção aos
trabalhadores mais vulneráveis, como aqueles que actuam em indústrias de
“fast-food” e manufactura.
No capítulo económico,
as propostas de Joe Biden, 77 anos, dividem-se em três pautas interligadas:
revitalizar a classe média americana, fomentar a equidade racial na economia e
impulsionar a manufactura e a inovação do país.
Se comparado a outros
candidatos democratas nos pleitos anteriores, a agenda económica de Joe Biden
parece ser mais proteccionista quanto à indústria do país.
Essa mudança foi
motivada, principalmente, pela pandemia da Covid-19, que expôs a dificuldade da
indústria americana em fornecer insumos essenciais à luta contra o vírus.
Outra aposta de Biden
para conquistar os trabalhadores é o aumento do salário mínimo, dos actuais
7,25 dólares por hora, para 15 dólares até 2026.
No domínio do ambiente,
promete colocar os Estados Unidos da América novamente como signatário do
Acordo de Paris sobre o Clima, revertendo a decisão da retirada tomada por
Donald Trump, que tem Mike Pence como candidato a vice-Presidente.
A ideia de Joe Biden é
construir uma economia de energia limpa, que possa tornar os EUA numa
superpotência em energias renováveis, ao mesmo tempo que cria empregos de
qualidade no país.
O candidato democrata
deseja reverter todas as políticas de imigração adoptadas pela Administração
Trump, priorizando a reunificação de famílias que foram separadas ao cruzar a fronteira
dos EUA ilegalmente e pôr fim ao limite de solicitações de asilo e refúgio.
Propõe acabar com as
restrições de viagens à imigrantes de países de maioria muçulmana e garantir a
cidadania à centenas de milhares de pessoas que chegaram aos Estados Unidos
ainda crianças.
Igualmente, defende uma
reforma do sistema de justiça criminal dos EUA, com o objectivo de reduzir o
número de pessoas presas, e eliminar disparidades raciais e de género.
Se assumir a liderança
de uma das nações mais poderosas do mundo, a política externa de Biden
focar-se-á essencialmente no restabelecimento das relações com os aliados
tradicionais do país, particularmente com os membros da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN).
Num artigo de opinião
publicado na revista Foreign Affairs, Biden escrevera que, como Presidente, se
concentrará primeiro nas questões internas, e que não fará novos acordos
comerciais, até que haja investimentos no país, por exemplo, em saúde e
infraestruturas.
Disse que a China
deveria ser responsabilizada por práticas injustas, mas, em vez de impor
tarifas unilaterais, ele propõe formar uma coligação internacional com outras
democracias que a China "não poderá ignorar".
Apesar de pesquisas
atribuírem vantagem ao candidato Joe Biden, tudo pode acontecer, num sistema em
que o que o voto do colégio eleitoral é determinante e tem supremacia sobre o
voto popular.
Por exemplo, nas
eleições de 2016, a candidata democrata Hillary Clinton obteve o maior
número de votos dos eleitores, mas Trump foi o mais votado no colégio
eleitoral, conquistando, assim, a presidência do país, porque os EUA não
realizam eleições presidenciais por sufrágio universal, onde os votos contam de
igual maneira em todo o país.
O colégio eleitoral é
constituído por 538 eleitores distribuídos pelos 50 estados que formam os EUA e
Washington D.C., a capital do país. Vence o candidato que obtiver, no mínimo,
270 votos.
Neste sufrágio
indirecto, cada um dos 50 estados tem um peso diferente nas eleições,
dependendo da sua população.
Os delegados votam de
acordo com a maioria dos eleitores do seu estado. Ou seja, na prática, o que os
cidadãos elegem são os delegados com que se querem fazer representar para a
escolha do Presidente do país.
Cada estado tem um
determinado número de delegados no colégio eleitoral.
Por exemplo, o estado
mais populoso, a Califórnia, tem o maior número de delegados no colégio
eleitoral, 55. Depois do escrutínio, todos os votos são atribuídos ao candidato
presidencial que obtiver a maioria no estado.
Pelo contrário, Alaska
ou Montana tem uma população relativamente pequena e, por isso, só têm direito
a três delegados no colégio eleitoral. Assim, cada um destes estados entrega
apenas três votos ao candidato vencedor.
Entre os estados com
mais delegados no colégio eleitoral, estão também o Texas (38), a Florida (29),
Nova Iorque (29), o Illinois (20) e a Pensilvânia (20), ao passo que,
em sentido inverso, Delaware, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Vermont, Wyoming e
o Distrito de Colúmbia (Wanshington D.C.), têm apenas três delegados cada.
Até ao dia 3 de
Novembro, os holofotes mundiais estarão focados nos acontecimentos políticos
nos Estados Unidos da América, que poderá ter, a partir de Janeiro de 2021, um
novo Presidente para um mandato de quatro anos, ou continuar com o actual. ANG/Angop
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