quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 

          EUA-Eleições/América entre voto de mudança e de continuidade

 

Bissau, 28 Out 20 (ANG) - A sete dias das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América (EUA), as sondagens atribuem favoritismo ao candidato democrata Joe Biden, numa altura em que mais de 50 milhões de eleitores votaram antecipadamente.

Segundo a imprensa dos EUA, o ex-vice-presidente de Barack Obama (2009-2017), que escolheu como slogan de campanha eleitoral “Build Back Better” (Reconstruir Melhor), lidera as intenções de voto com 52% contra 42% do actual inquilino da Casa Branca, Donald Trump.

O último debate televisivo entre ambos os concorrentes não produziu mudanças significativas, pelo que dificilmente alterará a tendência de voto, de acordo com analistas.

A forma como geriu a pandemia da Covid-19, que já matou mais de 220 mil pessoas nos EUA, é o factor principal da desvantagem de Trump, que trocou o slogan de 2016 - “Make America Great Again" (Tornar a América Grande de Novo) - para “Keep America Great” (Manter a América Grande).

As cerca de 240 milhões de pessoas qualificadas para votar (nem todas estão inscritas e muitas nem costumam participar nas eleições) vão às urnas no dia 3 de Novembro neste cenário, em que a pandemia também provocou o desemprego de muitos potenciais eleitores.

A negligência de Trump – que  acabou infectado pela Covid-19 – na   gestão da pandemia, chegando a ironizar sobre a doença, enquanto o vírus progredia vertiginosamente, causou repulsa, revolta e desalento entre os norte-americanos.

Mas, mesmo neste contexto, Trump manifesta-se optimista quanto à sua reeleição, e promete, caso consiga um segundo mandato, concluir a construção do muro na fronteira com o México, e manter a expulsão de imigrantes que entrarem no país de forma ilegal, principalmente muçulmanos associados à ataques terroristas.

Eleito em 2016 pelo Partido Republicano como 46º Presidente dos Estados Unidos da América, Trump garante, caso continue na presidência, encerrar, nos próximos quatro anos, a participação dos EUA em guerras no Médio Oriente, e apoiar o porte de armas por cidadãos norte-americanos.

O emprego e o comércio internacional continuam a ser as principais plataformas eleitorais de Donald Trump, apresentando um plano de governo com medidas proteccionistas para a geração de empregos no país, em vez de favorecer o livre comércio e sua consequente busca por territórios onde o custo de produção e mão-de-obra é mais barato, como a Ásia, Oceania e América Latina.

No campo da saúde, defende a continuação de um sector privado com valores estimados de acordo com a livre concorrência entre os serviços de hospitais, clínicas e profissionais do ramo.

Quanto à política externa, o Presidente Donald Trump, 74 anos de idade, promete focar-se na manutenção da segurança interna, através do combate ao terrorismo internacional e do fortalecimento da política de fronteiras, assim como no controlo da imigração.

Trump defende uma expansão gradual dos efectivos militares norte-americanos, bem como uma aproximação do governo ao sector comercial.

O candidato republicano compromete-se, igualmente, a prover liderança presidencial com forte pendor diplomático, buscando "restaurar o respeito dos Estados Unidos em todo o globo".

Por seu turno, uma vez eleito, Joe Biden pretende expandir o projecto de saúde do ex-Presidente Barack Obama, conhecido como “Obamacare”, que actualmente atende apenas idosos e pessoas com deficiência.

Embora não proponha um sistema de saúde universal, o programa de governo de Biden, que escolheu a afro-americana Kamala Harris para vice-Presidente, tem como objectivo oferecer cobertura médica a partir de valores acessíveis, protegendo a população de dívidas altas quando necessitar de cuidados de saúde.

O herdeiro político de Obama ambiciona dar, a todos os norte-americanos, acesso a um seguro de saúde financeiramente acessível, por meio da criação de um plano público semelhante ao Medicare for All (assistência de saúde para todos – universal e único controlado pelo governo).

No seu programa, o candidato democrata também propõe-se ao aumento das medidas de protecção aos trabalhadores mais vulneráveis, como aqueles que actuam em indústrias de “fast-food” e manufactura.

No capítulo económico, as propostas de Joe Biden, 77 anos, dividem-se em três pautas interligadas: revitalizar a classe média americana, fomentar a equidade racial na economia e impulsionar a manufactura e a inovação do país.

Se comparado a outros candidatos democratas nos pleitos anteriores, a agenda económica de Joe Biden parece ser mais proteccionista quanto à indústria do país.

Essa mudança foi motivada, principalmente, pela pandemia da Covid-19, que expôs a dificuldade da indústria americana em fornecer insumos essenciais à luta contra o vírus.

Outra aposta de Biden para conquistar os trabalhadores é o aumento do salário mínimo, dos actuais 7,25 dólares por hora, para 15 dólares até 2026.

No domínio do ambiente, promete colocar os Estados Unidos da América novamente como signatário do Acordo de Paris sobre o Clima, revertendo a decisão da retirada tomada por Donald Trump, que tem Mike Pence como candidato a vice-Presidente.

A ideia de Joe Biden é construir uma economia de energia limpa, que possa tornar os EUA numa superpotência em energias renováveis, ao mesmo tempo que cria empregos de qualidade no país.

O candidato democrata deseja reverter todas as políticas de imigração adoptadas pela Administração Trump, priorizando a reunificação de famílias que foram separadas ao cruzar a fronteira dos EUA ilegalmente e pôr fim ao limite de solicitações de asilo e refúgio.

Propõe acabar com as restrições de viagens à imigrantes de países de maioria muçulmana e garantir a cidadania à centenas de milhares de pessoas que chegaram aos Estados Unidos ainda crianças.

Igualmente, defende uma reforma do sistema de justiça criminal dos EUA, com o objectivo de reduzir o número de pessoas presas, e eliminar disparidades raciais e de género.

Se assumir a liderança de uma das nações mais poderosas do mundo, a política externa de Biden focar-se-á essencialmente no restabelecimento das relações com os aliados tradicionais do país, particularmente com os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Num artigo de opinião publicado na revista Foreign Affairs, Biden escrevera que, como Presidente, se concentrará primeiro nas questões internas, e que não fará novos acordos comerciais, até que haja investimentos no país, por exemplo, em saúde e infraestruturas.

Disse que a China deveria ser responsabilizada por práticas injustas, mas, em vez de impor tarifas unilaterais, ele propõe formar uma coligação internacional com outras democracias que a China "não poderá ignorar".

Apesar de pesquisas atribuírem vantagem ao candidato Joe Biden, tudo pode acontecer, num sistema em que o que o voto do colégio eleitoral é determinante e tem supremacia sobre o voto popular.

Por exemplo, nas eleições de 2016, a candidata democrata Hillary Clinton obteve o maior número de votos dos eleitores, mas Trump foi o mais votado no colégio eleitoral,  conquistando, assim, a presidência do país, porque os EUA não realizam eleições presidenciais por sufrágio universal, onde os votos contam de igual maneira em todo o país.

O colégio eleitoral é constituído por 538 eleitores distribuídos pelos 50 estados que formam os EUA e Washington D.C., a capital do país. Vence o candidato que obtiver, no mínimo, 270 votos.

Neste sufrágio indirecto, cada um dos 50 estados tem um peso diferente nas eleições, dependendo da sua população.

Os delegados votam de acordo com a maioria dos eleitores do seu estado. Ou seja, na prática, o que os cidadãos elegem são os delegados com que se querem fazer representar para a escolha do Presidente do país.

Cada estado tem um determinado número de delegados no colégio eleitoral.

Por exemplo, o estado mais populoso, a Califórnia, tem o maior número de delegados no colégio eleitoral, 55. Depois do escrutínio, todos os votos são atribuídos ao candidato presidencial que obtiver a maioria no estado.

Pelo contrário, Alaska ou Montana tem uma população relativamente pequena e, por isso, só têm direito a três delegados no colégio eleitoral. Assim, cada um destes estados entrega apenas três votos ao candidato vencedor.

Entre os estados com mais delegados no colégio eleitoral, estão também o Texas (38), a Florida (29), Nova Iorque (29), o Illinois (20) e a Pensilvânia (20), ao passo que, em sentido inverso, Delaware, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Vermont, Wyoming e o Distrito de Colúmbia (Wanshington D.C.), têm apenas três delegados cada.

Até ao dia 3 de Novembro, os holofotes mundiais estarão focados nos acontecimentos políticos nos Estados Unidos da América, que poderá ter, a partir de Janeiro de 2021, um novo Presidente para um mandato de quatro anos, ou continuar com o actual. ANG/Angop

 

 

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