Mali/ Junta militar acusa ONU de
“narrativa fictícia”
Bissau, 15 Mai 23
(ANG) - A Junta militar no poder no Mali acusa o
recente relatório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações
Unidas, que dá conta de pelo menos 500 execuções em Moura, de ser
"tendencioso e baseado numa narrativa fictícia".
De acordo com
Bamaco, "nenhum civil perdeu a vida durante a operação militar”. O
Mali vai "abrir uma investigação" por "espionagem, ataque à
segurança externa do Estado" e "conspiração militar".
“Um
relatório tendencioso, baseado numa narrativa fictícia”, é assim que a Junta
militar no poder no Mali começa por caracterizar o recente relatório da ONU que
acusa exército maliano e combatentes "estrangeiros” de ter executado, pelo
menos, 500 pessoas numa operação antijihadista em Moura, em Março de 2022.
De acordo com o porta-voz do governo
maliano, coronel Abdoulaye Maïga, a justiça local abriu um processo de
investigação ao sucedido em Moura e "nenhum civil perdeu a vida durante a
operação militar”, entre os mortos, acrescenta o coronel "apenas se
encontravam combatentes terroristas”.
Segundo o relatório divulgado, na
sexta-feira, pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas,
os acontecimentos em Moura (centro do país), alvo de versões contraditórias
desde há um ano, são os piores do género num país já familiarizado com
atrocidades cometidas por jihadistas e outros grupos armados desde 2012.
O Alto-comissário "tem motivos para
acreditar" que, pelo menos, 500 pessoas, incluindo cerca de 20 mulheres e
sete crianças, foram "executadas pelas Forças Armadas do Mali e militares
estrangeiros" entre 27 e 31 de Março de 2022 nesta localidade, pode ler-se
no texto.
Este relatório baseia-se numa investigação
da Divisão de Direitos Humanos da missão Capacetes Azuis implantada no Mali
desde 2013 (Minusma), 157 entrevistas individuais e 11 entrevistas em grupo,
entrevistas às vítimas, testemunhos, fontes médico-legais e imagens de
satélite. Os autores do documento não obtiveram autorização das autoridades de
transição para se deslocarem ao local.
A junta militar no poder no Mali, diz ter
tomado conhecimento "com espanto" da investigação que utilizou
satélites sobre Moura para obter imagens "sem autorização e sem o
conhecimento das autoridades" locais.
Bamaco acrescentou que vai "abrir
imediatamente uma investigação" por "espionagem, ataque à segurança
externa do Estado", bem como "conspiração militar".
Acrescentar, ainda, que o relatório avança
que há fortes indícios que confirmam a "violação e outras formas de
violência sexual" de 58 mulheres e raparigas.
Os peritos da ONU começam por relatar a
chegada de cinco helicópteros militares num dia de mercado, atirando
indiscriminadamente sobre a população. Depois falam em quatro dias de execuções
sumárias de habitantes, nas suas próprias casas, simplesmente por usarem barba
comprida e calças largas. As pessoas executadas foram atiradas para valas
comuns, cavadas por elas próprias.
Os actos agora relatados podem constituir
crimes de guerra e, "dependendo das circunstâncias", crimes contra a
humanidade, segundo Volker Türk, alto-comissário das Nações Unidas para os
Direitos Humanos. ANG/RFI
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