Mudança histórica
Novo capítulo nas relações EUA-Cuba
Bissau, 19 Dez 14 (ANG)- O presidente Barack Obama anunciou recentemente um novo capítulo nas relações entre os Estados Unidos e Cuba, assinalando que já é hora de acabar com "um enfoque antiquado sobre a ilha comunista".
"Através dessas mudanças, tentamos criar mais oportunidades para os povos americanos e cubanos e iniciar um novo capítulo", afirmou.
Falando em cadeia nacional, Obama também anunciou que os Estados Unidos vão revisar a designação de Cuba como Estado patrocinador do terrorismo e que vai discutir no Congresso a suspensão do embargo aplicado contra Havana, destacando que isolar a ilha por 50 anos não atingiu os seus objectivos.
Obama agradeceu ainda ao Papa
Francisco pela ajuda que proporcionou no processo de aproximação dos dois
países.
Já o presidente cubano, Raul Castro, num pronunciamento simultâneo, anunciou
que durante conversa por telefone com o
presidente americano, acertou "o
restabelecimento das relações diplomáticas" com os Estados Unidos,
lamentando, no entanto, que ainda seja mantido o "bloqueio" económico
sobre a ilha.
"Acertamos o restabelecimento das relações diplomáticas. Isto não quer dizer que o principal tenha sido resolvido: o bloqueio económico", disse Raul, que confirmou, também, a libertação de três agentes cubanos presos nos Estados Unidos, assim como as do funcionário terceirizado do governo americano Alan Gross e de um "espião de origem cubano" a serviço de Washington em Cuba.
Cubanos em Miami consideram "traição" as concessões feitas à Havana. Miami é a cidade americana onde vive a maior parte dos refugiados da ilha, rejeitaram o que consideraram "traição" do presidente Barack Obama de fazer concessões a Havana, após a libertação do funcionário do governo americano, Alan Gross.
"É uma traição", disse à AFP o cubano Evélio Montada, de 70 anos, na conhecida Calle Ocho de Little Havana, por muito tempo epicentro da vida cubana em Miami, na Flórida (sudeste dos EUA), onde várias pessoas se reuniam, sobretudo, idosos, para conversar sobre o acontecimento histórico do dia.O governo americano iniciou uma histórica aproximação com Cuba, ao anunciar a normalização das relações diplomáticas plenas e o alívio de diversas sanções vigentes há meio século.
O anúncio foi feito depois da libertação de Gross, que ficou cinco anos detido na ilha e era o principal obstáculo para uma aproximação após a chegada de Obama ao poder, em 2009.
O americano foi solto em troca de três agentes cubanos que cumpriam penas em presídios de Miami. Os agentes eram acusados de espionar grupos anticastristas.
Diversos grupos do exílio comemoraram que Gross fosse enviado para os Estados Unidos, mas rejeitaram que tivesse sido trocado pelos espiões.
"A decisão do governo do presidente Barack Obama de soltar três espiões terroristas da ditadura castrista, em troca de pôr fim ao injusto sequestro do cidadão americano Alan Gross, é um grave erro", disse o secretário-geral do Diretório Democrático Cubano, Orlando Gutiérrez-Boronat, num comunicado.
Rosa Maria Payá, filha do dissidente Oswaldo Payá falecido em Julho de 2012 num acidente de carro em Cuba, disse à AFP que Gross era um "refém", não um preso comum.
"Não acho que seja o tratamento que se dê ao sequestrador", afirmou Rosa, referindo-se às concessões de Washington a Havana.
"Sabia que isso ia acontecer. Há tempos que ele (Obama) vem com essa confusão", disse à AFP Osvaldo Hernández, de 50 anos, da organização anticastrista Vigília Mambisa, no Café Versailles da Calle Ocho, símbolo do exílio cubano.
Osvaldo chegava ao local para protestar contra a abertura de relações com Havana.
"O embargo nunca vai ser suspenso, porque tem de ser decidido pelo Congresso americano, mas Obama é um covarde por anunciar essa aproximação", afirmou Hernández, com um cartaz denunciando a "traição" de Washington.
"É uma falta de respeito. (Obama) é mais fidelista e comunista do que outros", disse Félix Tirse, indignado, que chegou de Cuba aos EUA há 53 anos.
Para outros cubanos, que saíram de Cuba e já vivem há muitas décadas nos Estados Unidos, a notícia não causou maiores reacções.
"Cuba não me interessa. Isso não me afecta", minimizou Pedro Alvarez, de 79 anos, 52 deles vividos nos Estados Unidos.
Alvarez conversou com a AFP no Domino Park, na Calle Ocho, onde cubanos e outros latino-americanos costumam se reunir e passam o dia a jogar.
"Que as relações vão melhorar? Eu duvido, depois de mais de meio século de disputas", acrescentou o aposentado.
Alan Gross, um americano de 65 anos libertado , após ter passado cinco anos em prisões cubanas, acusado de espionagem.
"Alan é um especialista em desenvolvimento internacional muito respeitado que percorreu o mundo durante mais de 25 anos, ajudando as pessoas em mais de 50 países e territórios de Médio-Oriente, Europa, África e outras partes", relata o site "Bring Alan home" ('Tragam Alan para casa'), a campanha que pedia a sua libertação."Em 2009, Allan foi recrutado como funcionário terceirizado para um projecto da USAID (agência americana para o desenvolvimento internacional) para melhorar o acesso à internet de pequenas comunidades em Cuba, particularmente da comunidade judaica", acrescentou.
Acusado de espionagem, foi julgado e condenado em 2011 a quinze anos de prisão por ter "cometido actos contra a independência e a integridade territorial de Cuba".
Nascido em Nova Iorque, estudou Serviço Social em Maryland e Virgínia (leste dos EUA) e iniciou a sua carreira na área de desenvolvimento internacional.
Este especialista em comunicações por satélite trabalhou sobretudo no Paquistão, nos Territórios Palestinianos, no Azerbaijão e na Bulgária, em projectos de mineração, criação de emprego e agrícolas.
Entrou quatro vezes em Cuba com visto de turista. Na última vez, levou celulares e telefones inteligentes, computadores portáteis e telefones por satélite. Alguns eram autorizados em Cuba, outros, não.
Na sua quinta viagem, em 2009, ele teria mantido em seu poder um chip que impedia a localização de ligações feitas com telefone via satélite.
Por ocasião do quinto aniversário da sua prisão, sua esposa, Judy, esteve muito preocupada com a saúde do marido. "Temo que estejamos perto do fim (...). É tempo de o presidente Barack Obama trazer Alan aos Estados Unidos, se não será tarde demais".
Ela contou que o marido já tinha se despedido dela e dos filhos e que se recusou a que fossem visitá-lo. Também repudiou o restante das visitas.
Segundo a sua família, Gross passava 23 horas por dia trancado numa pequena cela com outros dois prisioneiros, perdeu 45 quilos, sofre de depressão e artrite degenerativa numa perna. Em Abril, encerrou uma greve de fome de dez dias para "protestar contra o tratamento desumano" do qual, em sua opinião, era vítima na prisão. ANG/Angop
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