Observadores nacionais queixam-se
de burocracia e atrasos na credenciação
Bissau, 21 Ago 17 (ANG) - Avisto Tchongolola Bota
vai ser observador nas eleições gerais angolanas de quarta-feira, mas diz que a
Comissão Nacional Eleitoral angolana colocou tanta burocracia e demorou tanto
tempo a enviar-lhe a credenciação que apenas conseguirá fazê-lo no dia da
votação.
Natural de Benguela, Avisto Bota é activista e
fundador do Movimento Revolucionário de Benguela (conhecidos como Revús). Há
muito tempo que decidiu - integrado numa organização não governamental chamada
OMUNGA - que seria um dos observadores nacionais às eleições gerais de
quarta-feira e precaveu-se, enviando toda a documentação a tempo e horas, para
que não ficasse sem a imprescindível credenciação.
"Foi muita volta que a CNE deu: a princípio
disse-nos que os que estavam em Benguela e queriam ser credenciados deveriam ir
a Luanda (a mais de 500 km), que só lá é que poderiam receber a credencial.
Depois de muitas voltas eles decidiram mandar as credenciais, mas só chegaram
no sábado", contou à Lusa.
Já a prever os tempos da burocracia, foram muitos
os observadores que foram mesmo a Luanda ao centro de credenciação, instalado
perto do Centro de Convenções de Talatona (arredores da capital).
Uma jovem, que preferiu o anonimato, relatou à Lusa
ter viajado toda a noite do Cuanza Sul (ainda assim, uma província adjacente a
Luanda) para poder estar ali a registar-se. Já levava cinco horas de espera e
antecipava que, passadas mais algumas, teria de desistir e iniciar a viagem de
regresso.
Num país com o tamanho e as estradas de Angola, uma
viagem de 600 quilómetros pode demorar toda uma noite. E isso com um carro
próprio, já que em transportes públicos a situação agrava-se.
No total, Avisto Bota esperou três semanas pela
burocracia. O suficiente para impedir a observação dos atos de campanha ou
daquilo que se está a passar nas Assembleias de Voto. No Bié foi reportado um
caso de roubo de boletins de voto.
"No próprio cartão diz que nós já poderíamos
estar a observar durante a campanha eleitoral. A campanha já está no fim e nós
não observamos porque não tínhamos a credencial. Só vamos poder fazer a
observação eleitoral no próprio dia das eleições", lamentou o ativista.
Por outro lado, revela Avisto Bota, só 24 dos 40
que pediram credenciais foram acreditados. E pior: há casos de pessoas de
Benguela já acreditadas que só vão poder observar no Bengo (arredores de Luanda,
a mais de 500 quilómetros).
"Pretendíamos controlar quase todas as
assembleias ao nível de Benguela, mas isso não será possível porque não fomos
todos credenciados. Os nossos 24 vão ficar concentrados nos centros das
cidades, porque não temos possibilidade de ir aos locais mais distantes",
explicou Avisto Bota.
A OMUNGA está integrada, por sua vez, numa
plataforma de ONG chamada Observatório Eleitoral Angolano (OBEA), que
canalizará em conjunto as queixas reportadas. A OBEA terá uma quota total
(definida pelo parlamento angolano) de 500 observadores nacionais, enquanto
outras organizações - como o Conselho Nacional da Juventude (CNJ) e várias
igrejas - terão entre 300 e 375 credenciais.
Mas Avisto Bota desconfia do CNJ, afirmando que é
uma organização afiliada ao MPLA, o partido no poder em Angola desde há 42
anos.
"O processo que a CNE está a fazer é
irregular. As eleições são um assunto sério e eles também o deveriam ser. Não
podem criar muita burocracia, até porque os observadores europeus não foram admitidos
e nós, como nacionais, não estamos também a ser admitidos", lamentou o
ativista de Benguela.
"Então só as ONG afiliados ao próprio MPLA
podem observar. Assim não serão umas eleições transparentes e livres como está
escrito na Constituição", concluiu.
No total, até sexta-feira tinham sido credenciados
1.200 observadores nacionais e 200 internacionais (provenientes de organizações
internacionais como a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral
(SADC), a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC), a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ou a União Africana).
A CNE desvalorizou às críticas de que houve atrasos
no processo de credenciação. A porta-voz da entidade disse à Lusa que as
dificuldades resultam do mau preenchimento dos formulários, da ausência de
assinaturas dos próprios requerentes ou documentação de identificação pessoal
caducada.
Indicou ainda que nenhum observador foi forçado a
vir a Luanda para obter o documento. ANG/Lusa
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