"Os
países do ocidente vão precisar cada vez mais de imigrantes"-Bispo
Cabo-verdiano
Bissau, 13 ago 18
(ANG) - Um problema global deve ser resolvido também de uma forma global.
Devemos olhar para aqueles que acolhem mas também para os que governam países
que produzem emigrante forçados", disse este domingo em Fátima D. Arlindo
Gomes Ventura, o bispo cabo-verdiano que preside à peregrinação aniversária de
agosto, dedicada ao migrante e refugiado.
"Essa
situação de grande dor, de grande drama para todos, deve fazer-nos refletir
também sobre o nosso passado. Porque se não o fizermos teremos muita
dificuldade em construir um futuro mais sólido", sublinhou D. Arlindo, sem
isentar de responsabilidades países como Portugal, no que toca ao passado
colonial.
" Toda a
história colonial e mesmo pós colonial, dos países que emitem emigrantes, deve
ser alvo de reflexão. E ver o que houve de errado para não repetir no futuro,
para que esse seja mais equilibrado".
O bispo falava
sobretudo dos países do ocidente, "que vão precisar cada vez mais de
imigrantes, mas devem regularizar cada um, para que tenhamos cidadãos de corpo
inteiro e não equivocados e ambíguos. Que as forças celestes nos ajudem a fazer
essa caminhada", sustentou.
O prelado está
certo de que muitos países ocidentais "não pensaram nas
consequências" dos seus atos. Primeiro com a colonização.
"Durante
muito tempo desestabilizaram o processo natural de dinamismo social". E
quando compara a situação de África (hoje) com a da Europa, D. Arlindo conclui
que faltou à primeira a oportunidade de se unir como a segunda. "A Europa
teve muitas guerras, até chegar a uma consciência de colaboração mútua, até ter
a União Europeia. Houve uma luta até chegar a esse ponto. E África não teve
essa oportunidade de ter as suas lutas internas e fazer o percurso de uma
integração. Isso foi muito devido à colonização que a fragmentou", disse.
Nessa viagem no
tempo que o bispo quis fazer, antes de qualquer celebração, lembrou que durante
muito tempo "os países ocidentais tentaram explorar África com compra a
bom preço de matérias primas, de venda de armas, de por e depor os governantes,
com favorecimento de grupos coniventes com determinadas políticas".
E por isso África
teve durante muito tempo "dirigentes políticos que são uma espécie de
mandatários dos grandes patrões políticos europeus. Ainda hoje há situações
dessas", advertiu. Por isso defende que agora os africanos "devem ser
adultos, seres pensantes, responsáveis para dizer "nós precisamos da vossa
ajuda. Não para mandar comida e dinheiro, mas para ajudar a organizar os países
e a desenvolver setores profissionais, através de técnicos que, no terreno,
ajudem a conhecer a nossa realidade e descobrir o processo de fazer a
reintegração".
Quando questionado
sobre essa ideia de abandono de áfrica que passou na conferência de imprensa,
D. Arlindo Ventura foi perentório: "Não quero atirar culpas, mas ao menos
a partir dessa experiência dramática todos possamos tirar conclusões".
Antes dele, também
o cardeal D. António Marto, bispo da diocese de Leiria-Fátima, expressou as
preocupações da Igreja com o drama dos refugiados. "É um exército de
pobres que aqui chega, após dois anos de viagem pelo norte de África. Não estão
em causa os números, mas pessoas concretas, com uma história, uma cultura, uma
família, sentimentos, dramas e aspirações", disse, lançando também o mesmo
olhar crítico sobre o colonialismo das potências ocidentais europeias, que
"explorou e roubou" África, mantendo-a numa "condição de guerra
permanente".
"Assim se
destrói a vida de milhões de pobres, obrigados a partir para não morrerem
vítimas da miséria, da fome e da guerra. Crianças sem país, e pais e mães sem
filhos. Sabemos tudo isto e não nos podemos calar", disse.
Durante a
conferência que reuniu os responsáveis do Santuário de Fátima, da Diocese, da
comissão episcopal para a pastoral social e mobilidade humana e da Obra Católica
Portuguesa para as Migrações, outra preocupação ficou expressa: a integração da
segunda geração.
"Um problema muito complexo e
delicado", no dizer de D. Arlindo Ventura. "Eles não se sentem bem
nem no país onde nasceram e cresceram, nem no país de origem dos pais. E essa
integração é muito importante para termos uma sociedade cada vez mais
saudável", considerou.
Nessa altura já o
recinto do Santuário de Fátima se enchia de emigrantes portugueses que, 12 e 13
de agosto, integram uma das maiores peregrinações do ano. Eugénia Quaresma,
diretora da Obra Católica para as Migrações, fez questão de sublinhar "a
diáspora cabo-verdiana , com quem Portugal e a Igreja têm aprendido
tanto".
E recordando o
mote desta semana que agora começa em Fátima - "cada forasteiro é ocasião
de encontro - migrantes e refugiados ao encontro de Cristo" - lembrou que
forasteiro "é todo aquele que vem de fora, pode ser cada um de nós, em
qualquer altura da história, em qualquer circunstância da vida".
"É preciso modificarmos atitudes,
modificar políticas, aprofundar a cooperação, colocar verdadeiramente em
prática aquilo que já se colocou por escrito, nomeadamente na doutrina social
da igreja", enfatizou.
Eugénio Quaresma
acredita que "já fazemos muito, mas a razão de ser desta semana é recordar
que há ainda muito por fazer": atuar no trabalho em rede, nos países de
origem, nos países de trânsito e de destino.
"É preciso navegar em territórios
perigosos, ousar políticas arrojadas", de forma a recentrar a economia
"na dignidade humana". " É preciso promover verdadeiramente o
direito a emigrar e o direito a não emigrar", disse.
A diretora da OCM
lembra que "está muito por fazer a nível do acolhimento e da
integração". A propósito, recordou, por exemplo, "os nossos irmãos
que vêm da Venezuela. Os filhos e filhas de emigrantes da nossa diáspora mais
antiga".
ANG/DN
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