O secretário-geral que viveu
um dos períodos mais turbulentos da ONU
Bissau,20 Ago 18 (ANG) – O ex-secretário-geral da ONU Kofi
Annan, que morreu sábado aos 80 anos, foi o primeiro africano subsaariano a
assumir o cargo e esteve à frente das Nações Unidas num dos períodos mais
turbulentos da organização.
“É com grande tristeza que a família Annan e a Fundação Kofi
Annan anunciam que o ex-secretário-geral das Nações Unidas e vencedor do prémio
Nobel da Paz morreu pacificamente no sábado, 18 de Agosto, após uma curta
doença”, publicou a fundação do ex-diplomata ganês num comunicado, divulgado
pela agência de notícias AFP.
O antigo secretário-geral da ONU morreu na Suíça, de acordo com
a fundação Kofi Annan. O Gana, terra natal de Kofi Annan, decidiu decretar uma
semana de luto nacional pela morte do antigo diplomata.
“Onde quer que houvesse sofrimento ou necessidade, [Kofi Annan]
tocou muitas pessoas com a sua profunda compaixão e empatia”, disse a fundação
no comunicado sobre Annan.
Kofi Annan, que fez a sua carreira profissional nas Nações
Unidas, cumpriu dois mandatos como secretário-geral da ONU, entre 01 de janeiro
de 1997 a 31 de Dezembro de 2006.
Durante o seu mandato, Annan – que foi galardoado juntamente com
a ONU com o prémio Nobel da Paz em 2001 – presidiu alguns dos piores fracassos
e escândalos das Nações Unidas, sendo um dos períodos mais turbulentos desde a
fundação da organização em 1945.
Liderou a organização durante o conturbado período da Guerra no
Iraque (2003-2011), antes de ver o seu registo manchado por acusações de
corrupção no caso “petróleo por comida” para o Iraque, tendo sido
posteriormente ilibado.
Kofi Annan assumiu o cargo na ONU seis anos após o colapso da
União Soviética e no seu mandato o mundo uniu-se contra o terrorismo após os
ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos, mas depois dividiu-se
profundamente com a guerra liderada pelos norte-americanos no Iraque.
O relacionamento com os Estados Unidos testou-o como líder
diplomático mundial.
Quando Annan saiu das Nações Unidas, deixou para trás uma
organização global mais preocupada com a manutenção da paz e na luta contra a
pobreza, estabelecendo a estrutura da resposta do século XXI às atrocidades em
massa e a ênfase nos direitos humanos e no desenvolvimento.
Já fora do cargo, Annan nunca saiu completamente da órbita da
ONU, tendo retornado em cargos especiais, inclusive como enviado especial da
Liga Árabe-ONU para a Síria em 2012.
O antigo secretário-geral da ONU permaneceu um poderoso defensor
de causas globais através de sua fundação.
Kofi Atta Annan nasceu a 08 de abril de 1938, em uma família de
elite em Kumasi, Gana, filho de um governador provincial e neto de dois chefes
tribais.
O ex-secretário-geral da ONU compartilhou seu nome do meio Atta
– “gémeo” na língua Akan de Gana – com uma irmã gémea, Efua.
Tornou-se fluente em inglês, francês e em várias línguas
africanas, frequentando um colégio interno de elite e a Universidade de Ciência
e Tecnologia em Kumasi.
Koffi Annan terminou a sua graduação em Economia no Macalester
College em St. Paul, Minnesota, em 1961.
Em 1965, casou-se com Titi Alakija, de uma rica família
nigeriana. Tiveram um filho, Kojo, e uma filha, Ama, mas separaram-se no final
dos anos de 1970. Em 1984, Annan casou-se com Nane Lagergren, uma advogada
sueca que lhe daria uma filha, Nina.
Após terminar a graduação nos Estados Unidos, partiu para
Genebra, na Suíça, onde começou os seus estudos de pós-graduação em Relações
Internacionais e lançou a sua carreira na ONU.
Kofi Annan foi responsável pelos recursos humanos das Nações
Unidas, depois dos assuntos orçamentais e antes de, a partir de 1993, ser
responsável pelas Operações para a Manutenção da Paz.
Quando chefiou o departamento de Manutenção da Paz, a ONU viveu
dois dos episódios mais sombrios de sua história: o genocídio do Ruanda e a
guerra na Bósnia.
Os capacetes azuis retiraram-se do Ruanda em 1994, sob o caos e
a violência étnica. E, um ano depois, a ONU não conseguiu impedir as forças
sérvias de massacrar vários milhares de muçulmanos em Srebrenica, na Bósnia.
Esses fracassos, escreveu Kofi Annan em sua autobiografia,
“confrontaram-me com o que se tornaria o meu mais importante desafio como
secretário-geral: fazer as pessoas entenderem a legitimidade e a necessidade de
intervir em casos de flagrante violação dos direitos humanos”. ANG/Inforpress/Lusa
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