Angola/Alguns filhos de José Eduardo dos Santos dispostos a aceitar um funeral nacional
Bissau, 20 Jul 22 (ANG) - Uma carta tornada pública, terça-feira, pelos serviços de assessoria de Isabel dos Santos, uma das filhas do antigo presidente angolano falecido no passado dia 8 de Julho em Espanha, informa que alguns dos filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos comprometem-se a colaborar com as autoridades angolanas para a realização de um funeral nacional para o pai, mas isto só depois das eleições gerais de 24 de Agosto.
"Seja qual for o resultado das próximas eleições, no futuro, nós, a família, junto das instituições e do Presidente eleito, colaboraremos na união da Nação e, a organizar com tempo necessário as condições para homenagem e o funeral nacional do Pai da Nação, o nosso pai, Eng. José Eduardo dos Santos, para que um dia este em dignidade e respeito descanse em paz na terra dos seus antepassados", escrevem os autores da carta.
Neste texto em que constam as assinaturas
de Isabel, José Filomeno "Zenu", Joess e José Eduardo Paulino
"Coreon Dú" dos Santos é não só mencionado o compromisso em trabalhar
no sentido de se realizar um funeral nacional a seguir às eleições, como também
são expressados alguns desejos. Os autores da carta referem nomeadamente
pretender que sejam apuradas por completo as causas do falecimento do pai, que
sejam garantidas "todas condições físicas e de segurança” para
as exéquias e que seja construído um mausoléu para albergar os restos mortais
de José Eduardo dos Santos “de forma digna e honrada”.
Nesta missiva, os filhos mais velhos do
antigo Presidente preconizam também a adopção de uma lei de amnistia geral e
o “fim
dos processos judiciais e institucionais contra muitos angolanos”.
Segundo os autores do texto “chegou o momento de pedir desculpa” e
pôr fim aos processos judiciais.
Alguns dos familiares do antigo Presidente
angolano, nomeadamente a empresária Isabel dos Santos, filha mais velha de José
Eduardo dos Santos, mas igualmente o irmão José Filomeno dos Santos “Zenu”,
assim como os generais “Dino” e “Kopelipa” enfrentam contenciosos com a justiça
angolana, sendo nomeadamente acusados de ter desviado milhões de Dólares dos
cofres do Estado.
Estas propostas surgem depois de vários dias de desentendimentos
entre o governo angolano e alguns dos filhos do antigo chefe de Estado angolano
sobre as modalidades das exéquias de José Eduardo dos Santos, os familiares e
em particular uma das filhas, Tchizé dos Santos, acusando o actual poder em
Angola de pretender retirar dividendos políticos das cerimónias fúnebres em
pleno período eleitoral.
Ao considerar que deve prevalecer a vontade dos filhos, Salvador
freire, advogado e activista da associação "mãos livres", mostra-se
dubitativo quanto à eventualidade de se chegar a um qualquer acordo para a
realização de um funeral nacional.
"O que deve prevalecer é a vontade da família, neste caso dos
filhos, que em primeira instância e de acordo com a nossa cultura, quem deve
mandar no corpo do seu ente querido, deve ser os familiares", começa por sublinhar
o advogado que por outro lado, considera que "mesmo que o corpo vá para Luanda, vai ser muito difícil porque os
próprios filhos já disseram publicamente que o corpo só irá para Angola depois
de João Lourenço deixar de ser Presidente de Angola".
Esta é precisamente a tonalidade do esclarecimento dado terça-feira
por Tchizé dos Santos que ao dissociar-se da carta divulgada , coloca em
dúvida a sua autenticidade e explica que vai lutar "até ao fim" pela honra
do pai."Eu não assinei esta carta, não tive
conhecimento e não assinei. Concordo que o meu pai não deve ser enterrado agora
porque não faz sentido. Concordo que o corpo do meu pai seja enterrado em
Angola quando houver condições e quando as pessoas que o perseguiram até à
morte já não sejam Governo" vinca ao referir-se
ao actual Presidente de Angola.
Tchizé dos Santos também disse ser contra amnistias.“Eu sou uma pessoa para quem a honra está acima
de qualquer dinheiro e eu estou preocupada com o enterro do meu pai, agora não
vão aproveitar a morte do meu pai para ilibar uma série de pessoas que
cometeram uma série de crimes, inclusive João Lourenço, porque elas têm de
pagar. As pessoas que não cometeram crimes não precisam de amnistia, vão e
provam que não roubaram”, sublinha a empresária antes
de acrescentar que “se
essa lei da amnistia é por causa dos filhos de José Eduardo dos Santos, eu
oponho-me totalmente a que seja proposta sequer, porque eu não faço parte do
grupo de pessoas que acham que isto faz algum sentido”.
Ao ser questionado sobre as repercussões que um acordo desta
natureza poderia ter em Angola, Salvador Freire considera que isto poderia
colocar em questão a credibilidade da acção do Presidente João Lourenço. "Eu acho que se houver esta excepção, vai fazer com que este
projecto do próprio Presidente da República João Lourenço, do combate à
corrupção, derrape. Não pode haver excepção. Não podem alguns serem julgados e
outros não (...) Se assim acontecer, é o próprio país que vai cair no
descrédito, é o próprio Presidente da República que vão considerar como um
charlatão",diz o activista.
O antigo Presidente José Eduardo dos Santos que morava em
Barcelona desde 2019 onde estava a ser acompanhado havia largos anos devido a
problemas oncológicos faleceu no passado dia 8 de Julho depois de cerca de duas
semanas de hospitalização numa unidade de cuidados intensivos.
Na semana passada, Angola observou 7 dias de luto nacional pela morte
do antigo dirigente que foi homenageado numa cerimónia na segunda-feira 11
de Julho.
José Eduardo dos Santos foi um dos chefes de Estado com maior longevidade no poder, tendo liderado Angola durante mais de 38 anos, de 1979 até 2017.ANG/RFI
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