Visita
de Macron/”França tenta
abrir portas na África Ocidental a partir da Guiné-Bissau”, diz
analista guineense
Bissau, 25 Jul 22 (ANG) - O analista guineense Armando Lona
considerou que a visita do Presidente francês, Emanuel Macron, na próxima
quinta-feira a Bissau deve ser entendida como uma tentativa de a França abrir
novas portas na África Ocidental a partir da Guiné-Bissau.
Para o analista de assuntos políticos na rádio privada Bombolom
FM de Bissau, a França sentiu que está a perder terreno em vários países da
Costa Ocidental africana e decidiu jogar as cartas também a partir da
Guiné-Bissau.
"Por não ter uma porta aberta no Mali, por não ter uma
janela na Guiné, por não ter uma janela no Senegal, a França tem de abrir um
novo caminho.
Está a tentar fazê-lo utilizando todas as cartas para continuar
presente nesta parte de África", defendeu Armando Lona.
A visita de Mácron acontece num momento particular para aqueles
países e também, observou Lona, para a própria Comunidade Económica da África
Ocidental (CEDEAO), presidida, de forma rotativa, durante os próximos doze
meses, pelo Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló.
"A CEDEAO está a atravessar um momento critico da sua
história com revoltas militares em vários países, nomeadamente no Mali, na
República da Guiné, recentemente no Burkina Faso, paralelamente a essa situação
militar há uma outra situação mais preocupante que é o terrorismo na
zona", notou Lona.
Todas estas situações preocupam a França, mas o caso do Mali,
referiu o analista guineense, constitui a principal dor de cabeça para o
palácio do Eliseu, ao ponto de mandar retirar o continente militar que tinha
estacionado naquele país, por incompatibilidades com a Junta Militar no poder
em Bamako.
"Também há uma outra dimensão, para além das duas situações
que citei, que é a geopolítica decorrente da presença de um outro ator maior na
República do Mali que é a Rússia, que está a substituir o espaço que a França
tinha até aqui", destacou Armando Lona.
Assiste-se a um reposicionamento da França nesta zona da África,
observou o analista guineense, que fala num processo complexo em que a
Guiné-Bissau acaba por entrar, sem ser "um ator muito importante",
disse.
Armando Lona é da opinião de que a Guiné-Bissau só dirige a
CEDEAO por força de 'lobbies' do Senegal, da Côte d'Ivoire e da Nigéria.
"O Presidente do Senegal, que está a dirigir a União
Africana, não poderia, paralelamente, também dirigir a CEDEAO e contribuiu,
através de corredores, para que a Guiné-Bissau pudesse dirigir a CEDEAO,
sabemos também que a Côte d'Ivoire, que recentemente abriu um corredor aéreo
para Bissau, através dos voos da Air Côte d'Ivoire que passa agora a operar,
isto constitui um sinal daquilo que é a relação agora entre o regime de Bissau,
Senegal, Côte d'Ivoire, mas também a Nigéria, embora o Presidente (da Nigéria)
esteja quase a terminar o seu mandato", defendeu Armando Lona.
O analista político guineense afirmou que a Guiné-Bissau foi
apanhada no meio de uma disputa geopolítica regional, situação que soube
capitalizar promovendo a visita histórica de um chefe de Estado francês ao
país.
O Presidente francês visitará os Camarões, Benim e a
Guiné-Bissau entre segunda-feira e quinta-feira, anunciou a Presidência
francesa.
Esta viagem é a primeira deslocação de Macron a África desde a
sua reeleição, em Abril.
A crise alimentar causada pela guerra na Ucrânia, a produção
agrícola e as questões de segurança estarão no centro desta viagem, adiantou a
Presidência francesa. ANG/Angop
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