Cabo Verde/PM pede "frente comum" e "cerrar fileiras" devido à crise
Bissau, 12 Jul 22 (ANG) - O primeiro-ministro
cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, assegurou hoje, terça-feira, que o
Estado tem absorvido os principiais impactos da crise provocada pela guerra na
Ucrânia, mas pediu uma "frente comum" nacional e "cerrar
fileiras" para responder às consequências.
"Ganhar
essa consciência de que estamos numa situação difícil e grave é importante para
podermos melhorar comportamentos, atitudes e fazer a assunção de facto da
intervenção, sem prejuízo de o Governo assumir as suas responsabilidades,
porque tem a responsabilidade da liderança do processo, mas não pode ser o
único actor (...). É importante que possamos ter esta frente comum para a acção
e ao nível dos nossos parceiros há várias formas de agir e actuar",
afirmou Ulisses Correia e Silva.
Ao
intervir esta manhã na abertura do Fórum Nacional Emergência de uma Frente
Comum para Enfrentar e Vencer as Crises, que está a decorrer no palácio do
Governo, na Praia, com a presença de parceiros sociais e representantes da
sociedade civil, o primeiro-ministro recordou que Cabo Verde está a viver
"há algum tempo uma sucessiva fase de crises".
"Desde
2016 praticamente. Tem a ver com a seca severa, que está muito ligada a
fenómenos meteorológicos extremos provocados pelas mudanças climáticas, a
pandemia da covid-19 e agora os efeitos gravosos da guerra na Ucrânia e sobre
um país como Cabo Verde que tem as suas vulnerabilidades. Uma economia aberta
ao mundo com forte exposição a choques externos, o que faz com que nós sintamos
com níveis muito mais elevados aquilo que são os efeitos externos",
explicou, admitindo que o país, que importa 80% dos alimentos que consome, não
tem como acomodar, nomeadamente, os efeitos da escalada de preços, ao mesmo
tempo que recupera das consequências económicas da pandemia de covid-19.
Dados
avançados pelo Governo cabo-verdiano em Junho apontam que o custo total para
implementação das medidas de mitigação dos efeitos das crises alimentar e
energética, para conter a escalada de preços no arquipélago, é de 8,9 mil
milhões de escudos (80,7 milhões de euros) até ao final deste ano.
"E
se o Governo não tivesse introduzido medidas de estabilização de preços,
estaríamos com preços a disparar nas famílias, nas empresas. Isto quer em
relação à energia, combustíveis, gasóleo, gasolina, gasto, butano,
electricidade. Aquilo que está a ser sentido pelas famílias e pelas empresas é
apenas uma parte do efeito. A parte maior está a ser absorvida e essa absorção
significa custos, encargos e compensação desses encargos, para além dos efeitos
sobre a produção alimentar, os produtos alimentares, os preços dos produtos
alimentares e a segurança alimentar", sublinhou o chefe do Governo.
Segundo
Ulisses Correia e Silva, o país tem adoptado as medidas possíveis, como a
recente declaração da situação de emergência social e económica, com objectivos
claros: "Para termos uma percepção muito clara que estamos de facto em
crise. Crise mundial e Cabo Verde faz parte do mundo, e recebe os efeitos dessa
crise, e ter essa consciência é importante. Primeiro para podermos acomodar o
nosso nível de consumo. Estou a falar dos cidadãos, estou a falar das empresas,
estou a falar das organizações, à situação. Em segundo lugar, essa
consciencialização permite valorizar também as medidas, a compreensão dessas
medidas", apontou.
Depois,
enfatizou, para apoiar a mobilização de recursos "junto dos
parceiros", para dar respostas "de mitigação e de protecção".
"E
é neste ponto que nós entendemos que deveremos criar uma grande frente comum de
acção para podermos fazer esta sensibilização e podemos aumentar os níveis de
acção e de solidariedade e dar as respostas que são necessárias", apelou,
num fórum que tem como objectivo principal a construção de uma "plataforma
comum de acção" com a sociedade cabo-verdiana.
"Temos
uma tendência muito forte aqui em Cabo Verde que tudo o que acontece é Estado e
Governo e responsabilidade governamental. E a vida não é assim, as situações
não são assim e quanto mais se afunila apenas numa entidade, mais problemas
temos de respostas. E é preciso que essa responsabilização, mais do que a
responsabilização, que essa ideia colectiva da resposta de acção, seja de facto
compreendida, interiorizada", disse anda.
Numa
crise com claros efeitos nos preços e por consequência "económicos e
sociais que podem ser muito mais gravosos do que a pandemia", Ulisses
Correia e Silva apelou ao envolvimento de todos, desde as Igrejas, às
associações e organizações não-governamentais, passando também pelos
municípios.
"No
sentido da fazermos acções que façam, primeiro, uma compreensão muito clara da
situação. Deixar essa coisa muito cabo-verdiana também de distribuir culpas,
que não resolve problemas nenhuns. A culpa, se houver, está lá onde a guerra
está a acontecer e por quem começou essa guerra, mas concentrarmo-nos
relativamente ao essencial das respostas que precisamos para sermos eficientes,
eficazes e conseguirmos. E já demos provas de que podemos conseguir, e
conseguimos, relativamente à pandemia", acrescentou.
"Portanto,
termino com este pedido para nós podermos cerrar fileiras. Temos condições de o
fazer. Conseguimos fazer nas várias outras situações, temos séculos de
resiliência nesta nação, mas isso não é suficiente para poder dar as respostas
que precisamos. Precisamos é olhar para trás, para a nossa resiliência, e fazer
uma acção proativa de respostas que precisamos neste momento", apelou.
O
país vive ainda uma profunda crise económica, após uma recessão de quase 15% do
Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, face à ausência de turismo provocada pela
pandemia de covid-19, sector que garante 25% do PIB e do emprego.
A
economia cabo-verdiana cresceu 7% em 2021, impulsionada pela retoma da procura
turística, e previa 6% de crescimento em 2022, projecção entretanto revista
para 4%, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia.ANG/Angop
Sem comentários:
Enviar um comentário