Itália/ Transplante de fígado
inédito com recurso a dadora com mais de 100 anos
Bissau, 23 Nov 22 (ANG) - Uma equipa médica do Hospital Universitário de Pisa, em Itália, conseguiu transplantar com sucesso, um fígado proveniente de uma dadora com mais de 100 anos.
É a primeira vez
na história, que um fígado provém de uma pessoa centenária.
Em entrevista à RFI, João Santos Coelho, membro da direcção
da Sociedade Portuguesa de
Transplantação e cirurgião
sénior do centro Hepato-bilio-pancreático e Transplantação
no Centro Hospitalar Universitário Central de Lisboa, defende que este passo se
trata de um avanço gradual por parte da ciência, com o objectivo de diversificar
cada vez mais o leque de dadores disponíveis.
"É um avançar progressivo na
utilização de fígados marginais. Em todos os centros, a evolução tem sido
dramática em termos da utilização de fígados marginais, ou seja, fígados um
pouco fora dos critérios que habitualmente utilizamos. Como é sabido, em todo o
mundo, há efectivamente uma procura sistemática de todas as formas para
podermos aumentar o pólo de dadores porque não temos dadores para todos os
doentes que gostaríamos de transplantar e muitos deles acabam por falecer em
lista activa", começou por referir o nosso entrevistado.
João Santos Coelho reconhece que esta
procura pela diversificação de dadores tem vindo a acontecer ao longo dos
anos e recorda que, no início
da transplantação, em Portugal, no final dos anos 90,
início dos anos 2000, o dador era homem, na casa dos 40 anos, e,
geralmente, alguém que tinha sido vítima de um acidente de viação.
"Nos dias actuais, a
caracterização dos dadores fixa-se nos 63 anos, em média, e são
pessoas que foram vítimas de acidentes vasculares cerebrais, na sua
maioria", explicou.
Esta pesquisa e procura por mais dadores levou a que se utilizem fígados com mais idade,
nos processos de transplantação, conforme recordou o cirurgião sénior.
"No nosso hospital é muito
frequente utilizarmos dadores com 80 anos e já transplantámos, inclusivamente,
um dador de quase 90 anos. Aqui não é tanto a idade cronológica que conta",
salientou.
Questionado sobre se o tempo de vida útil do órgão não
é, de certo modo reduzido, pelo facto de, neste caso, se tratar de uma dadora
centenária, João Santos Coelho é peremptório: o fígado está
"programado" para funcionar até aos 150 anos.
"Nós verificamos isso nos longos
sobreviventes. Temos sobreviventes com 30 anos, que, neste momento, foram
transplantados com fígados de 60/70 anos que, neste momento, têm um fígado a
funcionar com mais de 100 anos", explicou ainda.
João Santos Coelho entende, por isso, que
este feito mostra o avanço eficaz
e gradual que tem sido feito nos últimos anos na área da
medicina.
O profissional da área da saúde falou
depois, à margem da entrevista, de dois
cenários possíveis que considera que, a médio/longo prazo, poderão revolucionar a área da transplantação do fígado: em
primeiro lugar, a transplantação de um fígado geneticamente modificado,
proveniente de porcos e, em segundo, o fígado artificial, feito em
laboratório, com recurso a células da própria pessoa. ANG/RFI
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