Bissau, 02 out 18
(ANG) - Há sessenta anos, a 2 de outubro de 1958, a Guiné-Conacri foi o
primeiro país sob domínio francês da África subsaariana a declarar a
independência.
Presidente da Guiné Conacri |
Com o aval da
esmagadora maioria da população guineense, Sékou Touré, líder do Partido
Democrático da Guiné, rejeitou, a 28 de setembro de 1958, a proposta do general
Charles De Gaulle para que a Guiné integrasse uma Comunidade Francesa.
Sékou Touré
optava assim pela independência da Guiné-Conacri, que acabou por ser decretada
quatro dias depois, a 2 de outubro.
"Nós
preferimos a liberdade na pobreza à riqueza da escravidão", afirmou na
altura. "Não há nada mais valioso para um povo do que a sua independência,
a sua soberania, a sua dignidade."
Sékou Touré
liderou a Guiné durante 26 anos, sendo hoje uma figura controversa da história
do país.
É amado por uns,
mas há também os que não esquecem os crimes políticos cometidos pelo seu
regime, como lembra Lamine Camara, um sobrevivente do Camp Boiro - um campo de
concentração na cidade de Conacri onde foram presos, em condições desumanas,
opositores políticos, alegadamente com ligações ao Governo francês.
"Por volta
de 1975, tivemos um período de fome nas prisões. Havia ratazanas que se
aventuravam nas nossas celas… e nós tentávamos apanhá-las para nos
alimentarmos", recorda Camara.
Depois do
"não" ao general Charles de Gaulle, o Executivo francês recrutou
mercenários e opositores guineenses que queriam afundar o regime de Touré, como
o próprio denunciou: "Queriam destruir o regime guineense porque a Guiné
era o trampolim para os nacionalistas que lutavam pela independência dos seus
países", afirmou.
Hoje, 60 anos
depois da independência, a Guiné-Conacri não é o país próspero que aqueles que
disseram "não" ao regime francês, em 1958, desejavam que fosse.
O país enfrenta uma
grave crise económica, sendo a maioria da sua população pobre. Para além disso,
o Governo guineense voltou a ter relações estreitas com o seu colonizador. Por
exemplo, o atual Presidente, Alpha Condé, fez todos os seus estudos em Paris e
tem como amigos pessoais o político Bernard Kouchner e o ex-chefe de Estado,
François Hollande. O porto de Conacri é gerido pelo grupo francês Bolloré.
Esta é uma situação
que não agrada aos jovens, segundo o rapper Masta X, que apela a um
"despertar" das "consciências adormecidas", através do
protesto pacífico.
Nos últimos anos,
muitos dos jovens da Guiné-Conacri abandonaram o país rumo à Europa em busca de
uma vida melhor. ANG/DW
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