“A maioria dos jornalistas guineenses não está preparada para cobertura
eleitoral independente”, diz Sinjotecs
Bissau,02 Out 18(ANG) - Vários meios de comunicação
social guineenses, incluindo rádios, jornais e a agência de notícias do
país, estão desprovidos de meios e de formação profissional adequada para
garantir a sua independência na cobertura da campanha eleitoral para as eleições
legislativas agendadas para 18 de novembro, revela o Sindicato de
Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social da Guiné-Bissau (Sinjotecs).
Presidente do SINJOTECS |
A maioria dos jornalistas guineenses
ganha menos de 50 euros por mês. Os órgãos de comunicação não têm
dinheiro para a deslocação dos jornalistas, não há equipamentos profissionais,
não há subvenções do Estado, falta formação profissional para os repórteres e,
com a constante crise política, quase não há mercado de publicidade para
as rádios privadas, segundo vários jornalistas entrevistados em Bissau.
Para inverter esta tendência, a nova direção
do SINJOTECS, liderada por Indira Correia Baldé, está à procura
de apoios junto dos parceiros de desenvolvimento da Guiné-Bissau.
"Queremos que haja condições para que os
profissionais da Comunicação Social exerçam com profissionalismo, sem depender
de um ou outro partido político", disse a presidente do sindicato.
O SINJOTECS espera, com a ajuda dos
parceiros, inaugurar uma "nova era" na comunicação social
guineense, acrescentou Correia Baldé, que está à frente do sindicato dos
jornalistas há pouco mais de quatro meses.
"Este projeto irá permitir que o jornalista
tenha a sua independência e trabalhe de forma livre e de acordo com a sua
consciência. Porque, quando um jornalista vai ao terreno a reboque dos
políticos, fecha os olhos a muitos outros acontecimentos ao redor do círculo do
comício."
Os órgãos nacionais geralmente não têm a capacidade
de fazer chegar os seus repórteres aos locais dos comícios, sobretudo no
interior do país, e vão à boleia e custa dos atores políticos, que acabam por
assumir as despesas da deslocação e, eventualmente, influenciar as notícias.
Salvador Gomes, diretor da Agência de Notícias da
Guiné (ANG), entende que a independência dos jornalistas na cobertura das
eleições depende muito da responsabilidade, experiência e competência
profissional do próprio jornalista.
DG da Agência de Notícias |
"Isto de independência tem muito a ver com a
própria pessoa, o jornalista. Acho que quem trabalha na base da competência
profissional e ética deontológica pode ser independente. Agora, no caso de quem
é fraco, em termos da competência profissional, é fácil fazer um trabalho mais
para servir o partido em causa e publicitar a sua atividade", afirma.
Salvador Gomes acrescenta que o sindicato não deve
apenas pedir meios ao Estado - deve também consciencializar os
jornalistas para que façam um trabalho digno, com rigor e imparcialidade.
Refere ainda que "a campanha eleitoral é um momento particular que
requer também uma certa formação, para o jornalista saber o que é uma notícia
nos discursos políticos."
À DW África, o diretor da rádio
privada Capital FM, Lássana Cassamá, afirma que os órgãos privados ainda
estão muito vulneráveis face a investidas económicas e financeiras por
parte dos interesses políticos. Sobre a falta de subvenção do Estado aos órgãos
privados, Cassamá entende que é uma forma de exercer uma "censura
inteligente" no setor privado.
"Quando os órgãos privados não têm condições,
porque o mercado publicitário não favorece, o Estado não paga pela prestação do
serviço público, aí, sim, os privados ficam limitados para exercer plenamente
as suas funções", refere.
"Há um
exercício entre todos os órgãos privados para criar um Fórum de Concertação que
terá o objetivo de pressionar o Estado, para que cumpra com a legislação sobre
a subvenção e acertar posições sobre como atuar em conjunto". ANG/DW África
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