Gaza/Metade dos habitantes enfrentam situação de fome
"catastrófica"
Bissau, 18 Mar 24(ANG) - Mais de 1,1 milhões de habitantes de Gaza enfrentam "uma situação de fome catastrófica", o que constitui "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU, que se baseia no relatório sobre segurança alimentar no mundo, hoje publicado.
O relatório, realizado
por um grupo de organizações internacionais e instituições de ajuda humanitária
conhecido como Iniciativa Integrada de Classificação da Fase de Segurança
Alimentar, ou IPC, refere a existência de uma situação terrível para mais de
metade da população de Gaza,
Segundo adianta o
relatório, o cenário ameaça estender-se por todo o enclave, e coloca 2,2
milhões de palestinianos na mais ampla e grave crise alimentar do mundo.
Na classificação de
crises alimentares, que o IPC distribui por cinco níveis, a Faixa de Gaza tem
agora a maior percentagem de população a enfrentar o nível mais grave de
insegurança e de carência alimentar (nível 5) desde que o organismo começou a
reportar, em 2004.
O enclave palestiniano,
controlado pelo grupo islamita Hamas desde 2007 e alvo de uma ofensiva militar
israelita desde Outubro de 2023, ultrapassa situações registadas em países como
Sudão, Somália ou Afeganistão, segundo explicou a vice-diretora-geral da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Beth
Bechdol.
As pessoas no nível 5
são classificadas como "famintas" e enfrentam um risco real e
agravado de desnutrição aguda e até de morte.
"O facto de Gaza
ter 1,1 milhões de pessoas no IPC 5 não tem precedentes", garantiu a
responsável da FAO, acrescentando que "esta é uma crise 100% provocada
pelo homem: "Não há furacões, não há ciclones, não há inundações de 100
anos e não há secas prolongadas".
Este novo relatório deve
se intensificar as duras críticas que têm sido dirigidas a Israel ao longo das
últimas semanas, devido aos bloqueios de água, alimentos, energia e de ajuda
humanitária, tendo hoje mesmo o chefe da diplomacia da União Europeia (UE),
Josep Borrell, reiterado que Telavive está a usar a fome como "arma de
guerra".
"Em Gaza já não
estamos à beira da fome; estamos num estado de fome, que afeta milhares de
pessoas", afirmou Borrell no início de uma conferência sobre ajuda
humanitária, em Bruxelas.
De acordo com este novo
relatório, praticamente todos os agregados familiares em Gaza saltam refeições
todos os dias e os adultos estão a reduzir as suas refeições para que as
crianças possam comer.
No norte de Gaza, quase
dois terços de todos os agregados familiares tiveram membros a passar dias e
noites inteiros sem comer pelo menos 10 vezes nos últimos 30 dias, com uma em
cada três crianças com menos de 2 anos de idade "gravemente
desnutridas".
Nas zonas a sul do
enclave, cerca de um terço dos agregados familiares enfrentam dias e noites sem
comida.
Mais de 20 pessoas, na
sua maioria crianças, morreram no norte do enclave devido a subnutrição aguda,
de acordo com informações recentes do Ministério da Saúde de Gaza, controlado
pelo Hamas.
O relatório atribui as
condições ao "conflito generalizado, intenso e implacável" que forçou
aproximadamente 1,9 milhões de pessoas, ou 85% da população de Gaza, a fugir
das suas casas, e fez mais de 31.000 mortos e 73.000 feridos, segundo as
autoridades de saúde de Gaza.
A isto acrescentam-se
perdas importantes de infra-estruturas, incluindo para produção e distribuição
de alimentos, e um acesso humanitário extremamente limitado.
A avaliação anterior do
IPC sobre Gaza, divulgada em Dezembro, referia que toda a sua população sofria
de elevada insegurança alimentar e estava em risco de fome.
Embora as hostilidades
em curso sejam um fator-chave para a rápida deterioração da situação, o
"acesso humanitário extremamente limitado" à Faixa de Gaza agravou a
situação, denunciou ainda o relatório hoje publicado.
A publicação do
relatório irá agora desencadear uma avaliação por parte de um Comité de Revisão
da Fome, composto pelos principais especialistas internacionais independentes
em segurança alimentar, nutrição e mortalidade.
A guerra em curso entre
Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo
islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de Outubro, que causou cerca de
1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades
israelitas. ANG/Angop
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