ONU/EUA consideram “não vinculativa” resolução do Conselho de Segurança sobre Gaza
Bissau, 26 Mar 24 (ANG) - O Governo norte-americano considerou segunda-feira que a resolução adotada pelo Conselho
de Segurança da ONU a exigir um cessar-fogo em Gaza “não é vinculativa”, apesar
de vários diplomatas garantirem o contrário.
Esta
interpretação, explorada pela primeira vez pela embaixadora dos Estados Unidos
junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, durante a sessão de segunda-feira do
Conselho de Segurança, foi posteriormente acolhida por vários altos
funcionários do Governo de Joe Biden.
Questionado
durante uma conferência de imprensa se acredita que Israel anunciará um
cessar-fogo como resultado da resolução, o porta-voz diplomático dos EUA,
Matthew Miller, negou.
“É
uma resolução não vinculativa”, acrescentou.
Miller
não deu mais explicações sobre esta posição adotada pelos Estados Unidos,
contrariando a consideração geral de que as resoluções aprovadas pelo Conselho
de Segurança são vinculativas.
“Consideramos
que a resolução não é vinculativa”, insistiu quando pressionado.
O
porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, manteve essa mesma
posição durante uma conferência de imprensa na Casa Branca: “É uma resolução
não vinculativa, por isso não tem impacto sobre Israel ou na sua capacidade de
continuar a lutar contra o Hamas”.
Tal
como Miller, Kirby também não forneceu uma explicação jurídica para a razão pela
qual os Estados Unidos consideram esta resolução específica como não
vinculativa.
Contudo,
apesar da posição norte-americana, vários diplomatas das Nações Unidas
confirmaram que se trata de uma resolução vinculativa, como é o caso dos
embaixadores de Moçambique e da Serra Leoa, ambos com formação jurídica.
"Ao
abrigo da Carta da ONU, todas as resolução do Conselho de Segurança da ONU são
vinculativas e obrigatórias e todos os Estados-membros estão obrigados a
implementar essas resoluções. (...) Eu fui membro da Comissão de Direito
Internacional [um órgão responsável por ajudar a desenvolver e codificar o
direito internacional] durante 15 anos e sei o que estou a dizer", afirmou
o representante de Moçambique junto da ONU, Pedro Comissário Afonso.
"Seguindo
a visão do representante permanente de Moçambique, que foi membro e presidente
da Comissão de Direito Internacional, e sendo eu próprio um advogado e fazendo
parte do Sexto Comité [principal fórum para a consideração de questões
jurídicas na Assembleia Geral da ONU] há mais de cinco anos, direi que é
vinculativa. Não são apenas as minhas palavras. São também as palavras do
Tribunal Internacional de Justiça (...) Logo, acho que deveria ser claro para
todos que esta resolução é vinculativa para as partes", salientou o
embaixador da Serra Leoa, Michael Imran Kanu.
A
resolução, aprovada com 14 votos a favor e uma abstenção – a dos Estados Unidos
– exige “um cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza durante o período do
Ramadão.
A
exigência de um cessar-fogo não está condicionada a outras ações, mas o texto
também apela à libertação dos reféns detidos pelo Hamas.
O
secretário-geral da ONU, António Guterres, aplaudiu a aprovação da resolução do
Conselho de Segurança e defendeu a aplicação da mesma, argumentando que o seu
"fracasso seria imperdoável".
O
facto de os Estados Unidos terem permitido que a resolução fosse aprovada com a
sua abstenção, após terem vetado várias tentativas, provocou a ira do Governo
de Israel e, em particular, do seu primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.
O
ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, em visita oficial a Washington,
disse após a aprovação que o seu país não iria parar a guerra: “Moralmente, não
temos o direito de parar a guerra enquanto ainda houver reféns detidos em
Gaza”.
“Operaremos
contra o Hamas em todo o lado, mesmo em locais onde ainda não estivemos”,
acrescentou, sem mencionar diretamente Rafah, onde mais de um milhão de pessoas
se refugiam e que constitui um importante ponto de atrito entre Washington e
Israel. ANG/Lusa
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