Moçambique/Parlamento aprova em definitivo acordo de extradição com o Rwanda
Bissau, 27 mar 24 (ANG) - O parlamento moçambicano aprovou hoje, na especialidade, e em definitivo o acordo de extradição com o Rwanda, com os votos a favor da Frelimo, partido no poder, e contra da Renamo e do MDM, da oposição.
A Proposta de Resolução que Ratifica o Acordo de Extradição
entre Moçambique e Rwanda passou hoje com 168 votos da bancada da Frente de
Libertação de Moçambique (Frelimo), enquanto, com um total de 42 votos, a
Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, e o
Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira bancada, rejeitaram o
documento.
"Votamos a favor e em definitivo, porque compreendemos a
importância do reforço da cooperação jurídica e judiciária que vem sendo
implementada no âmbito do Acordo Geral de Cooperação", assinado em 1992
com o Rwanda, disse o deputado Afonso Lopes Nipero, deputado da Frelimo, que
leu a declaração de voto da bancada que suporta o Governo.
Nipero afirmou que o entendimento fortalece o quadro legal de
combate ao terrorismo e branqueamento de capitais.
O deputado da Renamo António Muchanga disse que o principal
partido da oposição rejeitou o acordo, porque abre caminho para a perseguição
de opositores políticos do Governo do Presidente Paul Kagamé, do Rwanda.
"O Governo da República do Rwanda destaca-se pela
perseguição e eliminação física dos opositores políticos", declarou
Muchanga.
Aquele deputado do principal partido da oposição criticou a
falta de clareza por parte do Governo, que assinou o acordo, em relação à
situação dos rwandeses exilados em Moçambique.
A bancada do MDM disse que se opõe ao pacto porque vai permitir
a perseguição de rwandeses que fugiram da opressão das autoridades rwandesas.
"Este acordo não beneficia nem vai beneficiar nenhum
moçambicano", realçou o deputado do MDM Silvério Ronguane.
Ronguane acusou o executivo moçambicano de usar os cidadãos
rwandeses exilados em Moçambique "como contrapartida" pela ajuda dos
militares rwandeses na luta contra os grupos armados que actuam na província de
Cabo Delgado, norte de Moçambique.
A ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos,
Helena Kida, que defendeu o acordo em nome do executivo, disse na última
semana, durante a votação na generalidade, que o entendimento não visa "a
perseguição política", mas apenas impedir que "o país seja um refúgio
de pessoas desonestas envolvidas na prática de crimes num ou noutro país".
Kida avançou que o entendimento é parte do compromisso no
combate à criminalidade organizada e transnacional, no quadro dos tratados de
que os dois países são signatários.
Sobre os assassínios de membros da comunidade rwandesa em
Moçambique atribuídos pela oposição moçambicana e organizações da sociedade
civil às forças de segurança de Kigali, a ministra admitiu a ocorrência desses
casos, mas considerou especulação a imputação de culpa às autoridades do
Rwanda.
Desde 2021, as forças ruandesas têm desempenhado um papel
fundamental no combate aos rebeldes em Cabo Delgado, tendo ajudado na
reconquista de localidades conquistadas pela insurgência.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma
insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado
Islâmico, que levou a uma resposta militar desde Julho de 2021, com apoio do
Rwanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC),
libertando distritos junto aos projectos de gás.
Em Setembro de 2021, a Associação dos Rwandeses Refugiados em
Moçambique pediu uma intervenção "urgente" da União Africana (UA) e
da SADC face à alegada perseguição pelo Governo de Kigali.
"A ideia de chamar a comunidade internacional é muito boa
porque esta situação não está a acontecer apenas aqui em Moçambique, acontece
também na África do
Sul, no Burundi, no Uganda e no Quénia", declarou, na altura, à Lusa, o presidente da Associação dos Rwandeses Refugiados em Moçambique, Cleophas Habiyareme. ANG/Angop
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