Luso-asiáticos
criticam a organização
Bissau, 28 Dez 15(ANG)
- Luso-asiáticos de dez países estão a organizar-se em bloco em resposta ao que
consideram ser o esquecimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), voltada para as "nações ricas", segundo o lusodescendente
Joseph Sta Maria.
Em declarações à
agência Lusa, o também representante das minorias junto da administração de
Malaca, na Malásia, e autor do livro "Pessoas Proeminentes na Comunidade
Portuguesa em Malaca", disse que os lusodescendentes de dez países
asiáticos estão a organizar a primeira Cimeira da Comunidade dos Portugueses
Asiáticos.
O encontro, adiantou,
terá lugar em Malaca, onde reside uma das maiores comunidades de descendentes
de portugueses, por altura da festa do São Pedro, entre "23 e 29 de
junho" do próximo ano.
O bloco terá
representantes da Malásia (Malaca), Índia (Goa, Damão e Diu), Sri Lanka,
Singapura, China (Macau), Tailândia (Banguecoque), Austrália (Perth), Indonésia
(Jacarta, Ambon e Flores), Timor-Leste e Myanmar.
O lusodescendente
afirmou que o bloco poderá vir a ter "muito mais" membros, por
acreditar que ainda existem grupos de descendentes de portugueses por
identificar.
Joseph Sta Maria, que
está a liderar a iniciativa, adiantou que vai convidar para a cimeira o
primeiro-ministro português, o "mestiço" António Costa, porque também
ele é um luso-asiático com antepassados goeses.
O mesmo responsável
justificou esta decisão "rebelde" com o facto de a CPLP "estar
interessada nas nações ricas", como a Guiné Equatorial, onde a língua
oficial é o espanhol.
"Eu não sei se
eles [CPLP] sabem que nós existimos", questionou.
O lusodescendente
reconheceu que os euro-asiáticos em causa são minorias sem força política, ou
seja, não administram países e, como tal, não podem ser incluídas como membros
na CPLP.
O representante das
minorias em Malaca frisou que o facto de haver comunidades como a sua, que
"mantém a cultura portuguesa há cinco séculos e vive num ambiente de
comunidade, comunicando em português [crioulo malaio-português]", é algo
que "não tem preço".
Deu ainda o exemplo
dos portugueses negros de Tugu, que "foram levados como escravos para a
Batávia [antiga Jacarta], forçados a converterem-se ao protestantismo e a
mudarem os seus nomes para nomes holandeses" e que, mesmo assim,
"ainda se sentem orgulhosos por serem chamados de portugueses".
"Portugal não se
sente orgulhoso disto?", questionou, considerando que o país "tem uma
responsabilidade moral" para com os seus "filhos" espalhados
pelo mundo.
Após reconhecer que
Portugal enfrenta dificuldades, o autor destacou que a "CPLP tem nações
ricas", como o Brasil.
Questionado sobre
ajudas concretas, Joseph Sta Maria deu a ideia de "montar uma aldeia
cultural dos portugueses asiáticos" na Ásia, caso "Portugal e os seus
parceiros da CPLP" estejam interessados.
Essa aldeia de
"80 a 100 hectares" totalmente portuguesa seria "um negócio
muito lucrativo para a CPLP e para organizações ricas no mundo, com as
fundações [Calouste] Gulbenkian e Oriente", prosseguiu.
O projeto, reforçou,
seria útil para disseminar a cultura e a língua portuguesas e o catolicismo, ao
atrair turistas de todo o mundo.
Os portugueses foram
responsáveis por muitos dos primeiros contactos dos europeus com o Oriente e
chegaram a administrar várias zonas na região, desde Malaca e Timor-Leste a
Macau.
ANG/Lusa
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