Oposição acusa MPLA de preparar “lei à medida” na saída
de José Eduardo dos Santos
Bissau, 20 Jun 17
(ANG) - A UNITA (oposição) acusou hoje o
partido no poder em Angola de preparar uma “lei à medida”, com a proposta de
estatuto especial para Presidentes da República cessantes, tendo em conta que
José Eduardo dos Santos não se recandidata.
A posição foi
transmitida hoje à agência Lusa pelo líder da bancada parlamentar da União
Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto da Costa
Júnior, referindo-se ao projecto de Lei Orgânica sobre o Regime Jurídico dos
Ex-Presidentes e vice-presidentes da República Após Cessação de Mandato.
“É uma lei feita à
medida e quando assim se faz é um erro. Além disso, está eivada de muitas
questões que violam a própria Constituição”, apontou Adalberto da Costa Júnior.
Trata-se de uma
iniciativa do grupo parlamentar do Movimento Popular de Libertação de Angola
(MPLA), que deveria ir à votação final global na próxima quinta-feira, na
Assembleia Nacional, mas que foi retirada, entretanto, do debate, após várias
críticas, até internas.
Até ao momento,
segundo Adalberto da Costa Júnior, o projecto de Lei do MPLA não voltou a ser
reproposto, pelo que o deputado da UNITA admite que tenha de voltar à discussão
na comissão de especialidade, após eventuais alterações.
“Faz sentido
começarmos a pensar que não irá a debate a 22 de Junho”, disse o líder
parlamentar da UNITA.
A Lusa noticiou a
15 de Junho que o chefe de Estado angolano que cessar mandato passará a ser
designado “Presidente da República Emérito”, com direito a uma pensão vitalícia
correspondente a 90 por cento do vencimento durante o último ano de mandato,
conforme previsto neste projecto de Lei.
“Aquela proposta
traz a possibilidade do estatuto especial para o ex-vice-Presidente, para a
ex-primeira dama. Parece de tal forma ridículo que eu creio que o MPLA só se
está a expor e a expor a figura do Presidente José Eduardo dos Santos, que não
sei se neste caso tem alguma ligação com a iniciativa”, criticou ainda
Adalberto da Costa Júnior.
Na proposta de lei
levada ao parlamento, com quatro capítulos e 14 artigos, prevê-se que após
cessação de funções, o antigo Presidente da República goze de tratamento
protocolar, imunidades e segurança, nomeadamente oficial às ordens, regime
especial de protecção e segurança, fixado nos termos da lei.
José Eduardo dos
Santos, que deixa o poder, ao fim de 38 anos, depois das eleições de Agosto,
será o primeiro a beneficiar desta lei.
Para o Presidente
da República que cessar mandato, o projecto de lei propõe que receba uma pensão
vitalícia correspondente a 90% do vencimento que auferia no seu último ano de mandato,
actualizado automaticamente ou uma pensão actualizada, se assim optar.
Para o cônjuge do
Presidente da República durante os seus mandatos, a proposta de lei prevê uma
remuneração equivalente a 70 por cento do vencimento do chefe de Estado durante
o seu mandato ou da respectiva pensão, se por esta optar.
A proposta de lei
acautela ainda o direito à habitação, com a atribuição de uma verba para
manutenção e apetrechamento de residência própria, e transporte, sendo-lhe
atribuída uma viatura automóvel de tipo não inferior à do vice-Presidente em
exercício para as funções oficiais deste, igualmente um motorista a expensas do
Estado, substituição da viatura sempre que devidamente justificado, combustível
e manutenção.
A deputada e filha
do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, está contra as
regalias para os antigos chefes de Estado, afirmando que, no caso actual, “as
finanças não serão um problema para os futuros ex-Presidente e
ex-primeira-dama”.
Ao intervir a 15
de Junho na discussão na especialidade desta proposta, a deputada do MPLA e
membro do Comité Central do partido afirmou: “Já o mesmo não se poderá dizer do
primeiro Presidente, em que nem o seu cônjuge e os seus descendentes alguma vez
beneficiaram de lugares em administrações da banca, na mineração ou de qualquer
outro recurso do país, pelo qual tanto se bateu e se conseguiu levar à independência
de forma vitoriosa”.
ANG/Lusa/Inforpress
Sem comentários:
Enviar um comentário