Governo defende SIRESP e culpa PSP e Protecção Civil pela tragédia de
Pedrógão Grande
Bissau, 29 Jun 17 (ANG) -
O Governo critica a PSP e a Proteção
Civil mas a Protecção Civil e os
bombeiros falam em falhas no SIRESP, e ninguém assume culpas pela tragédia em
Pedrógão Grande, onde morreram 64 pessoas num incêndio devastador.
Numa altura em que continuam a apurar-se
responsabilidades pelo trágico
incêndio de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, um relatório da
Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna aponta o dedo à
Protecção Civil e à PSP.
Em relatório citado esta quarta-feira pela revista Sábado, o Governo nota que a Protecção Civil não solicitou a “estação móvel em tempo útil”,
depois de as antenas principais do Sistema de Comunicações de Emergência,
SIRESP, terem queimado no incêndio.
Por outro lado, a PSP não avisou que essa estação móvel estava em revisão. O
relatório indica que o pedido para activar a estação móvel foi feito, por volta
das 21:15 horas de sábado, pelo chefe de gabinete do secretário-geral da
Administração Interna e que, cerca de 15 minutos depois, a Protecção Civil
também a solicitou.
“Nesse momento, era já impossível ter a estação móvel em Pedrógão Grande a
tempo de ajudar a minorar as ocorrências que resultaram em mortes”, conclui o
Governo.
De acordo com a chamada “fita do
tempo” dos acontecimentos, definida pela Secretaria Geral do
Ministério da Administração Interna, nessa altura já teriam morrido, pelo
menos, 49 pessoas.
Segundo o Correio da Manhã, entre a tarde de sábado e a madrugada de
domingo, pelo menos cinco antenas da
rede SIRESP falharam, algumas das quais arderam, enquanto outras ficaram
saturadas devido ao elevado número de comunicações.
Mas o relatório da Secretaria-Geral do MAI,
entidade que gere o SIRESP, não assinala falhas no sistema, notando que “não houve
interrupções” no funcionamento da rede e que “nem houve nenhuma
estação base que tenha ficado fora de serviço em consequência do incêndio”.
O que se verificou, segundo o MAI, foi a saturação da rede de comunicações,
devido ao excesso de pedidos de ajuda, mas o “SIRESP correspondeu e esteve à
altura da complexidade do teatro das
operações, assegurando as comunicações e a interoperabilidade das forças
de emergência e segurança”, aponta o relatório.
O documento nota que, entre as 14 e as 19 horas de
17 de Junho, altura em que se iniciou o fogo, não foram feitas à primeira
tentativa 246 chamadas das 7877 processadas naquele período.
Entre as 12 horas desse dia e as 12 horas de 22 de
Junho, não foram feitas à primeira tentativa 15% das mais de um milhão e cem
mil chamadas processadas.
No final da semana passada, a Protecção Civil
enviou ao primeiro-ministro António Costa um relatório onde assinalava várias falhas no SIRESP – uma ideia
que é corroborada pelo comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande,
Augusto Arnaut.
“Eu já reportei a quem de direito. Passados dois
dias, reportei a quem de direito”, afirmou Augusto Arnaut, em declarações à
agência Lusa, confirmando que “houve falhas”, mas sem se alongar em mais
considerações.
A “fita do tempo” das comunicações registadas pela
Protecção Civil revela também falhas “quase
por completo” nas primeiras horas do incêndio, “impedindo a ajuda às
populações”. Esta espécie de ‘caixa negra’ permite registar a sequência ordenada dos
principais acontecimentos e decisões operacionais.
Os registos foram disponibilizados ao
primeiro-ministro no dia 23, um dia depois de a Protecção Civil ter enviado a
António Costa as primeiras explicações sobre as falhas. “No primeiro documento
era já deixado de forma clara que a rede SIRESP tinha falhado durante
quatro dias”.
A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, já ordenou
também uma auditoria para apurar se a Secretaria-Geral do MAI cumpriu as
respectivas “obrigações legal e contratualmente estabelecidas” quanto ao SIRESP.
O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) e o Bloco de
Esquerda (BE), apoiantes do Governo, defendem uma responsabilização política,
se ela existir, sobre o que se passou.
O deputado do PEV José Luís Ferreira afirma que é
preciso apurar “o que falhou”
para “podermos dizer que aprendemos com os erros e evitá-los no futuro”.
Também a direcção do BE afirma que “este é o tempo
de apurar o que falhou e, em função disso, responsabilizar quem deva ser responsabilizado“.
“Importa esclarecer de que forma as falhas no
sistema de comunicações e a falta de meios e articulação dificultaram o combate
aos incêndios e o auxílio às populações” e assegurar que “são tomadas desde já
medidas para que esta situação não se repita”, aponta ainda o BE.
A Lusa questionou todos os partidos com assento
parlamentar sobre quais as três questões centrais a esclarecer no debate de
quinta-feira, agendado pelo PSD, sobre segurança, protecção e assistência às
vítimas do incêndio de Pedrógão Grande.
BE e PEV foram os únicos a responder. O PCP remeteu
para as posições recentes do partido. PS,
PSD e CDS não responderam.
ANG/ZAP/Lusa
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