Caixa negra mostra pessoas sem assistência e falhas no SIRESP
Bissau, 28 Jun 17 (ANG)
- A chamada “caixa negra” da Proteção Civil, que regista a sequência de
todos os acontecimentos e decisões tomadas no combate aos incêndios, revela que
muitos pedidos de ajuda não obtiveram resposta devido às falhas nas
comunicações, sobretudo do SIRESP.
De acordo com o Público, esta “fita do
tempo” resulta do Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO)
da Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) e foi disponibilizada ao
primeiro-ministro no passado dia 23.
O primeiro registo deu-se às 19h45 de sábado. O 112
comunicou o pedido de ajuda de três vítimas, no interior de uma habitação,
cercadas pelo incêndio na localidade de Casalinho. Cinco minutos depois, o
Comando Distrital de Operações de Socorro de Coimbra informa que na localidade
de Troviscais “um popular e o pai necessitam de ajuda urgente”.
Seguem-se relatos
de pessoas que pedem ajuda em vão, como escreve o jornal. Às 21h28, na
localidade de Ramalho, é revelada a existência de uma “habitação a arder e vítima
queimada”. Às 21h47, um homem de 75 anos que estava sozinho, com a casa a
arder, sem água e com problemas respiratórios. Às 22h45, outro homem “interroga
a possibilidade de socorrer a esposa que se refugiou dentro da viatura, a casa
já ardeu”.
As falhas
no SIRESP foram admitidas por volta das 20h55, quando o Centro Nacional
de Operações de Socorro (CNOS) contacta o chefe da Divisão de Informática e
Comunicações da Proteção Civil a solicitar “o reposicionamento de Antenas
SIRESP na zona de Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos”.
Segunda-feira, a ministra da Administração
Interna, Constança Urbano de Sousa,
exigiu um estudo independente ao funcionamento do SIRESP e uma auditoria pela
Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) à Secretaria-Geral Administração
Interna.
Em comunicado, com o título “MAI exige respostas
rigorosas ao funcionamento do SIRESP”, é dito que a ministra determinou estes
dois procedimentos às duas entidades após “informações de caráter técnico
operacional coligidas” e tendo em conta que “foram reportados dificuldades na
utilização” do SIRESP “no trágico incêndio de Pedrógão Grande”.
A ministra determinou a realização pelo Instituto
de Telecomunicações (IT) a “elaboração de um estudo independente sobre o funcionamento do SIRESP em geral, e em
situações de acidente grave ou catástrofe, em particular”.
A governante ordenou também que a Inspeção-Geral da
Administração Interna (IGAI) faça uma auditoria ao cumprimento, por parte da
Secretaria-Geral da Administração Interna, enquanto entidade gestora do SIRESP,
das obrigações legal e contratualmente estabelecidas, designadamente ao nível
da gestão, manutenção e fiscalização.
Ainda de acordo com o Público, uma cláusula no contrato assinado em 2005 determina
que o Estado iliba por completo o
SIRESP de qualquer responsabilidade por falhas na rede de comunicações
em casos de catástrofe.
“Para os efeitos do contrato, considerar-se-ão
casos de força maior imprevisíveis e irresistíveis, cujos efeitos se produzem
independentemente da vontade da operadora ou da sua atuação, ainda que
indiretos, que comprovadamente impeçam ou tornem mais oneroso o cumprimento das
suas obrigações contratuais”, pode ler-se no ponto 1 da cláusula 17.
No ponto 2, especificam-se os tais casos de força maior: “atos de guerra
ou subversão, hostilidades ou invasão, rebelião, terrorismo ou epidemias,
raios, explosões, graves inundações, ciclones, tremores de terra e outros
cataclismos naturais que diretamente afetem as atividades objeto do contrato”,
cita o jornal.
O SIRESP, uma Parceria Público-Privada (PPP) promovida pelo Ministério da
Administração Interna, tem estado envolvido em polémica, depois de ter falhado
nas horas críticas do incêndio que matou 64 pessoas em Pedrógão Grande, no
distrito de Leiria.
O Sistema de Comunicações já tinha tido falhas em anos anteriores, havendo suspeitas em
torno dos moldes em que foi assinado logo desde o início. A PPP vai custar, até
2021, 568 milhões de euros ao Estado.
O maior acionista da entidade gestora do SIRESP é a
Galilei, empresa agora
insolvente que antes era a Sociedade
Lusa de Negócios (SLN), que caiu no seguimento da nacionalização do BPN,
e que detém 33% das acções.
Os outros acionistas são a tecnológica Datacomp (9,55 por cento), outra
empresa do universo Galilei que está em Processo Especial de Revitalização, a PT (30,55por cento), a Motorola (14,9 por cento) e a Esegur, sociedade da CGD e do Novo
Banco que sucedeu ao ex-BES (12 por cento).
ANG/ZAP
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