quarta-feira, 5 de agosto de 2020

             TikTok/Donald Trump deu ultimato a rede social chinesa

Bissau, 05 Ago 20 (ANG) - O Presidente norte-americano, Donald Trump, deu um ultimato à rede social chinesa Tik Tok  para vender as suas actividades nos Estados Unidos até 15 de Setembro, senão pode ser banida do país.

A Propósito, a RFI entrevistou Alcides Fonseca, professor no departamento de Informática da Faculdade de Ciênciais da Univerisdade de Lisboa, começando por lhe perguntar se  TikTok seria  a nova arma política e/ou económica na disputa entre os Estados Unidos e a China.

 “A Internet sempre foi uma plataforma inter-nações muito aberta, tirando aquele cantinho da China e alguns outros países onde existia a chamada grande muralha ou a grande ‘firewall’ da China onde o governo controla o que é que os cidadãos podem ver na internet. O que os Estados Unidos estão a fazer é dar o primeiro passo para fazer a mesma coisa no próprio país”, começa por explicar Alcides Fonseca.

Questionado sobre se a aplicação pode constituir um risco à segurança norte-americana, como justifica a Casa Branca, o especialista em informática recorda que, no início de Junho, a morte de 20 soldados indianos na fronteira com a China levou a Índia a banir o TikTok. “A questão é: quanta desta informação dos utilizadores é que poderá ter ajudado as operações militares chinesas?”.

Alcides Fonseca sublinha, ainda, que em 2017 existia uma rede social, a Strava, que partilhava trajectos de corrida e de bicicleta dos utilizadores e que se notava que “em países como o Afeganistão, onde apenas estrangeiros usavam a aplicação, conseguia-se ver as bases americanas que supostamente deveriam ser secretas”.

Por outro lado, “os vários escândalos que têm vindo a ser revelados ao público” ligados ao Facebook revelaram que “é possível manipular a opinião pública e condicionar o voto a partir das ‘Fake News’".

Não é uma preocupação para o governo americano se for o Facebook, a Google ou a Apple a controlarem os dados dos utilizadores. Todas estas empresas têm uma porta das traseiras em que se dá acesso à CIA e ao FBI aos dados, mesmo que não sejam de norte-americanos, mesmo que sejam dados europeus”, explica.

Segundo a RFI, a Microsoft está na corrida à compra das operações americanas da TikTok. A aplicação, detida pela chinesa  ByteDance, tem cem milhões de utilizadores nos Estados Unidos e cerca de dois mil milhões em todo o mundo. Uma pepita “made in China” que faz sombra ao americano Facebook e que Donald Trump considera como um risco à segurança nacional. Se o negócio for fechado, Trump já avisou que o Tesouro norte-americano deve receber uma fatia.

Alcides Fonseca considera  que é uma consequência dos Estados Unidos terem um presidente capitalista porque no seu passado Donald Trump era um empresário e fazia parte do perfil dele pensar ‘como posso ganhar dinheiro com isto?’.

“ E aqui vê-se mais ou menos o mesmo. Alguém vai comprar o TikTok a um preço abaixo do que seria o preço do mercado por causa desta imposição em vender. Portanto, Donald Trump pensa: Se eu vou dar um desconto a alguém, quero uma fatia por ter feito esse desconto”, disse.

Obrigar o TikTok a vender a sua parte americana aos americanos não constitui uma ameaça à liberdade de expressão, depois de, em Maio, Donald Trump ter ameaçado fechar redes sociais após o Twitter ter advertido para “Fake News” divulgadas por ele na plataforma? Afinal, o TikTok é uma arma política e/ou económica?

Eu diria que o poder é sobretudo económico, em que eles conseguem controlar o que é que se poderá vender em termos de produtos porque o público-alvo [do TikTok] é um público muito jovem. Ainda não é um público que vota, não é um público que está em posição de tomada de decisão. O Facebook transmite muito mais conteúdos que possam influenciar quer votos quer actividade económica em geral, enquanto o TikTok são vídeos mais de entretenimento. Obviamente que, daqui a uns anos, os que eram adolescentes passam a já não ser adolescentes e obviamente que poderá ter outro peso. Mas as redes sociais não tendem a durar muitas décadas, eventualmente poderá surgir outra que substitui esta, que foi o que aconteceu com o Snapchat e com muitas outras antes dessa que tiveram um pico e depois morreram”, conclui. ANG/RFI

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