Moçambique/Polícias dizem que falta
“vontade política” para travar raptos
Bissau, 11 Mar 24 (ANG) – A Associação
Moçambicana de Polícias considera que falta vontade política para travar a onda
de raptos no país, defendendo uma reforma e investimentos na corporação para
eficácia das autoridades no combate a este tipo de crime.
“Para termos a segurança desejada no
combate a este crime precisamos de uma força organizada. A nossa polícia hoje
não está preparada para garantir a ordem e segurança públicas. Isso não quer
dizer que nós não temos polícias, temos sim muitos e bons, mas falta vontade
política”, diz Nazário Muanambane, em entrevista à Lusa, em Maputo.
Em causa está a onda de raptos em
Moçambique, que começou em 2011, afetando, sobretudo, empresários e seus
familiares. Após um período de relativa estabilidade, os casos voltaram a ser
registados nos últimos anos, principalmente nas capitais provinciais, com
destaque para Maputo.
As autoridades moçambicanas, entre as quais
a Procuradoria-Geral e o Comando-Geral da polícia, admitiram, por várias vezes,
o envolvimento de membros da polícia e de magistrados nestes crimes, cujas
ramificações se estendem até à vizinha África Sul, país com o qual Moçambique
tem fortes relações.
O presidente da Associação Moçambicana de
Polícias, com registo de 14 mil membros, critica este posicionamento dos
dirigentes, considerando que este argumento esconde “a incapacidade de gestão
do Estado” por parte das próprias lideranças.
“Se eles são os dirigentes e dizem que a
nossa política é frágil porque está envolvida no mundo do crime, isto significa
que eles é que estão a admitir a sua incapacidade de gestão e de controlo do
Estado”, diz.
Nazário Muanambane defende maior
investimento na polícia para evitar que os membros da corporação sejam
empurrados para o mundo do crime, bem como a aposta na tecnologia para fazer
face à dinâmica do crime.
“Não tomem só o facto de que o polícia fez
um juramento à bandeira, ele também é humano, tem família e necessidades como
todos têm (…) Mas quando estas condições não são encontradas, sendo alguém com
capacidade, acaba se deixando aliciar”, explica o presidente da Associação Moçambicana
de Polícias, lembrando que os raptos são registados, em muitos casos, em locais
com câmaras de vigilância.
Enquanto se debatem eventuais soluções para
o problema, nas ruas de Maputo o receio de um novo caso de rapto à luz do dia
prevalece, sobretudo para aqueles cujo trabalho é proteger os outros.
“Temos receio”, admite à Lusa Manuel
Gamito, um segurança de um supermercado em Maputo que presenciou o último rapto
na capital moçambicana, ocorrido na manhã de 11 de Fevereiro, a poucos metros
da Casa Militar, quartel responsável pela guarda do Presidente da República,
Filipe Nyusi.
“A ação deles não levou nem dois minutos.
Eles estavam armados, apontaram-lhe uma arma e levaram-no para o carro e depois
saíram”, lembra Manuel Gamito.
Este é o segundo rapto registado este ano
na cidade de Maputo.
Em 20 de Janeiro, um empresário foi raptado
na capital moçambicana por um grupo de homens armados, dois dos quais já
detidos, mas a vítima “continua em cativeiro”, segundo os últimos dados
avançados pela polícia.
No dia 16 de Janeiro, um gestor de uma loja
de venda de mobília foi ferido no abdómen durante uma tentativa de rapto
frustrada por populares que atiraram pedras contra os autores do crime, disse
então à Lusa o porta-voz da polícia em Maputo, Leonel Muchina.
Desde Janeiro de 2023, as autoridades
moçambicanas detiveram 38 pessoas envolvidas na onda de raptos no país, que
registou um total 13 casos no mesmo período, segundo dados oficiais. ANG/Inforpress/Lusa
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