Ébola
União Africana concorda com utilização de “medicamento
experimental”
Bissau, 15 Ago 14 (ANG) - A União
Africana saudou a autorização de utilização de um medicamento experimental
contra o vírus ébola, mas defendeu que o consentimento dos pacientes e os
efeitos secundários do remédio “devem ser considerados num continente onde os
serviços médicos figuram entre os menos eficazes do mundo”.
A posição da União Africana foi
divulgada depois de a OMS anunciar, na quarta-feira, novos 128 casos de ébola e
mais 56 mortes na Guiné Conacri, Libéria, Nigéria e Serra Leoa, que fizeram
subir para 1.975 os casos confirmados da doença e os de morte para 1.069.
O comissário da União Africana para os Assuntos Sociais recordou que o
tratamento experimental foi administrado a pacientes norte-americanos.
“Os resultados mostram que os centros norte-americanos foram mais eficazes na
gestão dos efeitos secundários destes medicamentos. Será que podemos dizer o
mesmo das estruturas de saúde que vão tratar as duas mil pessoas expostas em
África?”, questionou Mustapha Kaloko.
O comissário africano disse que a UA está a trabalhar com a Organização Mundial
da Saúde (OMS) para tomar medidas de controlo eficazes e que é muito cedo para
determinar se os Estados da África Ocidental afectados pelo vírus podem
garantir uma administração destes medicamentos com segurança.
O consentimento dos pacientes e o estudo dos efeitos secundários do
medicamento, acrescentou, “são elementos essenciais que devem ser considerados,
tendo em conta a taxa de mortalidade que oscila em torno dos 90 por cento e que
necessita de atenção urgente”.
Entrar em pânico, disse, não resolve as coisas. “Devemos explicar aos países o
que é preciso fazer e intensificar os nossos trabalhos de pesquisa para conter
a transmissão do vírus”. O comissário da União Africana qualificou a resposta
internacional de “totalmente eficaz”.
A OMS, o Banco Mundial e a Cruz Vermelha “reagiram em regiões onde os sistemas
sanitários são fracos. Devemos reforçar as capacidades das instituições
sanitárias para reagir”, concluiu.
O embaixador adjunto do Burkina Faso na Etiópia e junto da União Africana, cujo
país acolhe a cimeira que vai discutir a criação de empregos e questões
relativas ao acesso aos serviços de saúde, disse que o seu país assinou um
acordo com a Costa do Marfim para o reforço de medidas conjuntas de luta contra
o ébola. Acrescentou que foram instalados centros de despistagem e estão
preparados sistemas de controlo eficazes para os viajantes provenientes dos
países afectados.
Os países da África Ocidental que apresentam
casos de ébola tentam conter o pânico da população perante uma epidemia que já
fez mais de mil mortes na região.
A autorização de tratamentos experimentais pela Organização Mundial da Saúde
trouxe uma pequena esperança, mas poucas pessoas vão ser beneficiadas, entre as
centenas de casos registados. A Libéria informou que o tratamento experimental
vai ser administrado apenas a dois médicos liberianos.
“A Agência de Alimentos e Medicamentos (FDA) dos Estados Unidos autoriza o
fabricante a enviar o remédio para o Ministério da Saúde apenas para que seja
utilizado nos dois médicos. O medicamento chega ao país nas próximas 48 horas”,
informou a Presidência da Libéria.
O país lidera no número de mortos, 377. O exército pôs de quarentena mais uma
província do país, a terceira, como parte dos esforços para evitar a
transmissão do vírus a outras regiões.
O Chefe de Estado da Guiné Conacri, Alpha
Condé, decretou “emergência sanitária” devido à epidemia de ébola e anunciou
uma série de medidas a adoptar. O da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, pediu 18
milhões de dólares à comunidade internacional, para financiar a luta contra a
epidemia no seu país.
A Serra Leoa registou as maiores
ocorrências, com 783 casos confirmados. O primeiro-ministro de
Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, anunciou o encerramento da fronteira com
a Guiné Conacri “até nova ordem”.
Os líderes africanos participam de 3 a 7 de Setembro numa cimeira da União
Africana em Ouagadougou, Burkina Faso, com o objectivo de arrecadar uma ajuda
de emergência de cem milhões de dólares para financiar a resposta contra o
vírus ébola na África Ocidental.
A União Africana calcula que a taxa de propagação da febre na África Ocidental
pode aumentar com um acréscimo das mortes, porque os pacientes receiam informar
da infecção devido à estigmatização. Também anunciou que a administração do
tratamento experimental depende da sua disponibilidade.
A Bloomberg disse que a epidemia do ébola pode cortar dois pontos ao
crescimento da economia da Libéria, Serra Leoa e Guiné Conacri, os países mais
afectados. A agência, que refere cálculos da consultora Teneo Intelligence,
salienta que os custos económicos imediatos da epidemia podem chegar ao
equivalente a dois pontos percentuais do PIB destes países.
Apesar de nenhuma mina ter sido ainda fechada, o encerramento ia significar um
abrandamento ainda maior do crescimento, adverte a consultora, porque estes
países “são muito dependentes de ajuda externa” e um agravamento da epidemia
pode resultar no fecho das operações.
A consultora cita o abandono das
terras por parte dos agricultores, o adiamento dos planos de expansão da maior
fabricante de aço do mundo para a Libéria, o adiamento de uma emissão de
títulos de dívida pública na Serra Leoa e a suspensão da exportação de borracha
da Libéria por uma empresa da Costa do Marfim. ANG/ Jornal de Angola
Sem comentários:
Enviar um comentário