Bissau, 9 Mar 16 (ANG9- A Amnistia Internacional afirmou terca-feira que o
princípio de acordo entre a União Europeia e Turquia para conter o
fluxo em direcção à Europa de imigrantes irregulares e refugiados é “desumano”
e apresenta “defeitos morais e legais”.
A União Europeia e a Turquia chegaram a um acordo de princípio, na segunda-feira,
numa cimeira extraordinária em Bruxelas, para intensificar a sua cooperação no
sentido de se travar o afluxo de migrantes às costas gregas. Os pormenores
devem ser determinados até à próxima cimeira, a 17 e 18 de Março.
A União Europeia já “saudou calorosamente” a proposta de Ancara de aceitar o
regresso de todos os migrantes que passam pelo seu território, incluindo os
refugiados sírios, embora neste caso a União Europeia concordasse com o retorno
por vias legais de tantos sírios quanto os reenviados para a Turquia.
Os líderes da União Europeia e da Turquia incorreram “numa farsa muito distante
dos direitos e da dignidade de algumas das pessoas mais vulneráveis do mundo”,
denunciou a directora da Amnistia Internacional nas instituições
europeias, Iverna Mcgowan.
Uma das condições do pacto é que, para cada sírio que a Turquia readmita desde
as ilhas gregas, outra pessoa dessa nacionalidade seja realojada da Turquia aos
Estados-membros, uma troca que Iverna Mcgowan considerou “perigosamente desumanizante”
e que “não oferece nenhuma solução sustentável no longo prazo” à crise.
A Amnistia Internacional disse não acreditar que a Turquia possa
ser considerada “país seguro”, devido ao tratamento aos migrantes e refugiados,
pois devolveu refugiados à Síria e não conta com um sistema de asilo em pleno
funcionamento.
“Muitos refugiados na Turquia vivem em condições terríveis sem uma casa
adequada, e centenas de milhares de crianças refugiadas não podem ter acesso a
uma educação formal”, afirmou a directora do escritório europeu da Amnistia
Internacional. A organização de defesa dos direitos humanos acrescentou que se
opõe ao conceito de um terceiro país seguro em geral, por considerar que isto
“debilita o direito individual de que as reivindicações sejam processadas
completamente e de maneira justa” e pode derivar no reenvio de pessoas a seu
país de origem, o que “viola o princípio de não devolução”.
A Amnistia Internacional advertiu que, com o encerramento da rota dos Balcãs
ocidentais, milhares de pessoas ficam “abandonadas no frio, sem um plano claro
para abordar as suas necessidades humanitárias urgentes e o seu direito à
protecção internacional”.
Sobre os solicitantes de asilo que não são da Síria, a Amnistia Internacional afirmou que o pacto entre a União Europeia e a Turquia não deixou claro como garantir os seus direitos no possível contexto de um sistema de reenvios massivos.
Sobre os solicitantes de asilo que não são da Síria, a Amnistia Internacional afirmou que o pacto entre a União Europeia e a Turquia não deixou claro como garantir os seus direitos no possível contexto de um sistema de reenvios massivos.
O Alto-Comissário da ONU para os Refugiados manifestou “profunda preocupação”
com o projecto de acordo entre Ancara e a UE que prevê reenviar todos os
migrantes para a Turquia, incluindo requerentes de asilo sírios.
Perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, Filippo Grandi afirmou que
“qualquer acordo que implique o regresso indiscriminado de pessoas de um país
para outro e que não especifique as garantias de protecção dos refugiados sob o
direito internacional” o preocupa.
Filippo Grandi indicou três condições prévias para que o regresso dos
requerentes de asilo para “um país terceiro” possa ser considerado conforme ao
direito internacional. O país destinatário deve assumir “a responsabilidade de
analisar o pedido de asilo”, o refugiado não pode ser expulso sem que haja um
processo e se obtiver asilo este deve estar de acordo com as normas
internacionais, incluindo “acesso à educação, emprego e cuidados de saúde”
sublinhou.
ANG/A Bola
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