As mulheres são o segredo para acabar com a fome em África
Bissau, 11 Abr 17 (ANG)
- O ativista sul-africano Jay Naidoo, responsável de uma organização
multinacional que combate a desnutrição, defende que a aposta na agricultura e
na capacitação das mulheres permitirá acabar com a fome e a pobreza em África.
A África detém 60 por cento da área cultivável
livre no mundo, mas 242 milhões de africanos “vão deitar-se com fome hoje“, disse, em entrevista à Lusa, o
antigo político sul-africano, durante o “Fim de Semana da Governação Ibrahim”,
que terminou segunda-feira a noite em Marraquexe, Marrocos.
Jay Naidoo, antigo ministro das Comunicações do executivo de Nelson Mandela, é
presidente da Aliança Global para uma Nutrição Melhorada – GAIN, membro da
direção da Fundação Mo Ibrahim e consultor de vários organismos internacionais,
incluindo da UNESCO e do comité do secretário-geral das Nações Unidas para a nutrição.
“Temos a capacidade de nos alimentar e de alimentar
o mundo”, referiu, comentando que 90
por cento da produção agrícola em África é da responsabilidade das mulheres,
mas também são elas as mais afetadas
pela fome, porque em muitos casos não têm direito a deter a terra ou a
contrair empréstimos.
“É preciso
capacitar as mulheres. Sabemos que resolveremos a fome em África.
Sabemos que as mulheres, quando têm dinheiro, investem na educação e na saúde
dos filhos”, diz o ativista.
“Sabemos que
investir nas mulheres e na
agricultura cria milhões de empregos para o nosso povo em África e
resolve a pobreza, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas”, afirmou
Naidoo.
Para Naidoo, um dos principais problemas é África “continuar a agir como 54 países
e não como um continente”.
“Temos a riqueza do mundo, mas não a exploramos
para beneficiar o povo africano. Somos muito
ricos abaixo do solo, mas o nosso povo é pobre“, disse, acrescentando
que “o tema da governação tem a ver com construir uma agenda africana, que
coloque o povo africano no centro”.
“Não
precisamos de Messias que venham do norte, não precisamos de
celebridades que pensam que vêm e conseguem resolver os problemas e salvar os
pobres africanos de si próprios. Temos de olhar para nós próprios. Temos a
capacidade intelectual, a riqueza mineral, temos o povo. Temos tudo para gerar uma genuína
solução africana”, sustentou.
“Na nossa vida louca para atingir o sucesso, entrámos numa trajetória de consumo, a
custo de tudo o que é sagrado neste mundo, incluindo o ambiente. Temos de mudar
e fazer o que está correto”, refere.
Para Naidoo, o mundo atravessa “uma transformação”,
e nestes tempos voláteis, é preciso “agir
com o coração para tomar as decisões corretas“.
Realidades como a eleição de Donald Trump como Presidente dos
Estados Unidos, o crescimento do populismo de direita no mundo ou a subida da “presidência divina, em que os
presidentes acreditam que são um presente de Deus para as pessoas” são, na
opinião do responsável, “uma aberração
que o mundo vai ultrapassar“.
“O facto de termos estas pessoas, que representam
dos piores aspetos dos seres humanos, une-nos. Une os jovens, pessoas do norte, do sul, do leste e do ocidente,
que procuram um caminho diferente”, conclui Jay Naidoo.
ANG/ Lusa
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