Patroa filma empregada a cair da janela em vez de a
ajudar
Bissau, 07 Abr (ANG) -
Uma empregada doméstica caiu da janela de um sétimo andar, no Kuwait,
enquanto a sua empregadora filmava tudo, sem a ajudar. O caso está a gerar
revolta e defensores dos direitos humanos notam que exemplifica o abuso
generalizado sobre os trabalhadores domésticos na zona do Golfo Pérsico.
O vídeo com o arrepiante momento em que a empregada
doméstica pede ajuda, perante a inércia da patroa que se limita a filmar, foi
publicado nas redes sociais e está a gerar muita revolta e a chocar o mundo.
O vídeo começa com a empregada, que será de origem
etíope, pendurada na janela apenas por uma mão e a gritar, pedindo ajuda.
“Segure-me, segure-me”, diz a mulher, conforme a tradução do jornal Kuwait Times. “Louca,
volta para dentro”, responde a patroa enquanto continua a filmar,
conta a publicação.
A empregada acaba por cair em cima de um toldo que
amortizou a queda, sobrevivendo assim, ao incidente apenas com um braço partido.
A patroa foi detida pelas
autoridades e terá alegado que a empregada estava a tentar
suicidar-se e que não a ajudou para não ser acusada de homicídio.
A polícia está a investigar o caso. O advogado Nouf
Al-Ruwaih explica ao Kuwait Times que a mulher pode ser acusada de negligência ou de falta de auxílio, incorrendo, nestes
casos, numa pena máxima de três meses de prisão ou numa multa.
Ainda segundo o jornal, a empregada terá sido dada
como desaparecida pelo seu empregador original, em 2014, e terá sido contratada
pela actual patroa de forma ilegal.
No Kuwait há
cerca de 600 mil imigrantes, de
acordo com estimativas da organização não governamental Human Rights Watch que
tem recolhido vários casos de abusos e de exploração destes trabalhadores.
O jornal norte-americano The Washington Post refere que “não é a primeira vez que um
empregado doméstico cai de um edifício no Kuwait”.
Há relatos de patrões que atiram empregadas de janelas do terceiro andar, como
forma de castigo, e alguns trabalhadores saltam eles próprios pela janela para tentar escapar aos abusos de que são
alvos. A argumentação dos patrões é então, que tentaram suicidar-se.
Num país
rico em petróleo, com cerca de 3 milhões de habitantes, contratar
empregados domésticos é prática acessível a muitas famílias e milhares de
imigrantes estão dispostos a trabalhar por pouco dinheiro, ficando à mercê da
exploração dos seus empregadores.
A Human Rights Watch aponta casos de patrões que
encerram os seus empregados em apartamentos, não lhes permitindo sequer sair à
rua e agredindo-os.
Em 2015, o Kuwait aprovou a primeira Lei de
protecção aos trabalhadores estrangeiros proibindo os empregadores de lhes confiscarem os passaportes,
concedendo-lhes um dia de folga por semana, férias pagas e um máximo de 12
horas de trabalho por dia.
Mas na prática, aquilo que é recorrente é a chamada
lei da “kafala“,
em que os imigrantes abdicam de direitos para conseguirem um visto de trabalho.
Estamos a falar de uma forma de escravatura que é um
pouco generalizada em todos os países do Golfo Pérsico. E o Kuwait é visto como o mais progressista de
todos.
ANG/ZAP
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