Crise Política
PM revela pontos
de discórdia com Presidente da República
Bissau, 06 Ago 15 (ANG) - O primeiro-ministro, Domingos
Simões Pereira, revelou quinta-feira os
pontos de discórdia com o Presidente da Republica e que diz estarem a ser usados
por José Mário Vaz para provocar uma
crise política que justifique a demissão do Governo.
"Considerando que essa ameaça permanente de demissão
do Governo pelo Presidente da República prejudica séria e profundamente o país",
Simões Pereira disse ter "chegado o
momento" de falar.
E fê-lo numa comunicação ao país, perante jornalistas,
apos encontros com representantes de partidos sem assento parlamentar e da
sociedade civil.
Nessa declaração, explicou que a certeza sobre as
intenções do Presidente tomaram forma na quarta-feira, quando Vaz deu conta ao
líder do Parlamento de que não confia "no chefe do Governo" e por
isso pretende "destituir o Executivo".
No mesmo dia, "mandou cancelar, sem
explicação", a reunião semanal com o primeiro-ministro e anunciou o início
de auscultações aos partidos, como a Constituição manda fazer no caso de
pretender derrubar o Executivo.
Por outro lado, a Assembleia Nacional Popular (ANP)
denunciou a existência de um "plano estratégico" para demitir o
elenco governativo - e para constituição de um outro de Unidade Nacional de
base alargada.
Face a estes dados, Simões Pereira referiu hoje que há
"uma intenção deliberada de provocar uma crise para justificar a decisão
de destituição do Governo".
Partindo das conversas que manteve com o presidente do
Parlamento, o primeiro-ministro divulgou e rebateu hoje os cinco pontos com que
José Mário Vaz justifica uma crise.
O Presidente queixa-se de estarem na proposta de
remodelação do Governo elementos sobre os quais há suspeitas de atos ilícitos,
mas o primeiro-ministro responde que as pessoas indiciadas pela Justiça foram
removidas e Vaz quer agora fazer valer as suas suspeições pessoais.
Noutro ponto, Vaz alega existir um fundo com dinheiro de
doadores internacionais que está a ser ocultado pelo Governo, facto negado pelo
primeiro-ministro, que diz já ter dado explicações ao Presidente com a ajuda de
outros diplomatas, mas sem sucesso.
O chefe de Estado quer ainda retirar da esfera do
ministro das Finanças a gestão dos recursos financeiros resultantes da mesa
redonda de doadores - realizada em março, com o anúncio de mil milhões de euros
de intenções de apoio.
A pretensão foi negada pelo primeiro-ministro: "se
tem dúvidas em relação ao ministro das Finanças, então falamos dele",
acrescentou num comentário em crioulo, reafirmando que cabe a cada Ministério e
aos seus titulares gerir os respetivos dossiês.
Vaz "reagiu negativamente" noutro tema,
relativo a uma proposta de Simões Pereira de "inclusão no Governo de
elementos próximos ao Presidente", entendendo ser esse "o caminho
para o apaziguamento".
"O PR reagiu negativamente, afirmando nunca ter
tratado do assunto com ninguém", sublinhou.
Num quinto ponto, José Mário Vaz referiu que o Governo
terá permitido o regresso à Guiné-Bissau do antigo chefe militar, o
contra-almirante Zamora Induta, "com o propósito de desestabilizar o
país".
No entanto, o primeiro-ministro rejeita a informação e
disse estar na posse de dados segundo os quais o Presidente da República foi
informado e concordou com o regresso de Induta, ex-chefe de Estado-Maior
General das forças Armadas.
O primeiro-ministro classificou a intenção do Presidente
derrubar o Governo como "uma falta grosseira de ponderação sobre as
implicações e o alcance de tal medida para a ordem interna e
estabilidade", após as eleições gerais de 2014, "além de ser um rude
e traiçoeiro golpe à esperança que a todos tem animado".
"Todos os mecanismos e dispositivos legais e democráticos
serão mobilizados para preservar a ordem e evitar a interrupção desta caminhada
do país rumo à paz e ao desenvolvimento", referiu, numa alusão à
estabilidade política conquistada no último ano com o apoio da comunidade
internacional.
O primeiro-ministro garantiu ainda que procurará "a
responsabilização política e judicial do autor de atos que ponham em causa a
ordem interna e a estabilidade do país".
Ao mesmo tempo, no Palácio da Presidência, Vaz prosseguiu
quinta-feira a tarde as audições com líderes partidários, sem prestar
comentários públicos sobre a situação política.
Lusa/ANG
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