Complexidade do
conflito dificulta saída para paz
Bissau, 21 jan
20 (ANG) - A Alemanha saiu do armário e assumiu a responsabilidade de convocar
uma conferência internacional em Berlim para tratar dos conflitos na Líbia, um
país destruído pela guerra sem a mínima perspectiva de solução.
A Líbia é quase só um deserto sem
importância, se não fosse o seu petróleo de muito boa qualidade abastecendo os
países europeus. E também os milhares de emigrantes e refugiados africanos
fechados em campos de internamento desumanos.
Sem uma autoridade política na Líbia, os
europeus podem ter que enfrentar, de novo, uma maré humana tentando passar para
o Velho Continente. Sem falar na possibilidade de o território líbio virar uma
base ainda maior para os terroristas islâmicos.
Mas o problema não são só as diversas
milícias e pseudo-exércitos líbios . Uma série de atores estatais externos
estão metendo o dedão nesse puré indigesto: Rússia, Turquia, Egito, Emirados
Árabes, Catar, França.... Cada um apoiando um dos lados do conflito. Sem falar
da ONU que reconhece o governo de Trípoli, mas que não tem a mínima condição,
militar ou econômica, de ter um peso real no processo.
Não é por acaso que a reunião de
Berlin anunciou objetivos mais do que modestos: tentar consolidar um
cessar-fogo declarado há poucos dias e negociar um consenso mínimo sobre as
regras do jogo diplomático daqui para diante.
Na verdade, a falta de interesse dos
Estados Unidos de cumprir o papel de “polícia” na região abriu uma avenida para
todas as outras potências médias interessadas no assunto. Mas a Líbia virou um
tabuleiro geopolítico tão complexo que vai ser difícil inventar um fim de jogo
que traga de volta alguma forma de paz.
Desde de sempre, o país está dividido
entre a Cirenaica no Leste e a Tripolitânia no Oeste e a Fazânia no Sul. Só o
coronel Gaddafi, com mão de ferro, conseguiu manter um Estado unificado de
verdade. Hoje, a velha realidade se impôs novamente.
O marechal Khalifa Haftar é o maior chefe
militar do Leste. Com o apoio de mercenários russos, do Egito, dos Emirados
Árabes e – mais discreto – da França, ele lançou uma ofensiva para conquistar a
capital Trípoli no Oeste.
Do outro lado, o Governo de Unidade
Nacional de Fayez al-Sarraj, encurralado na capital, pediu auxílio à Turquia
que acaba de mandar 2.000 soldados para conter o avanço das milícias e tropas
de Haftar. É muita gente armada num território só.
Mas o problema não é somente saber quem
vai mandar no governo líbio. Os países árabes que apoiam Haftar, sobretudo o
Egito, são inimigos figadais da seita sunita da Irmandade Muçulmana que
controla o governo de Trípoli. Enquanto a Turquia de Tayyip Erdogan, quer
aparecer como o grande protetor da Irmandade Muçulmana em toda a região, junto
com o Catar.
Infelizmente, a confusão não para aí.
Foram descobertas importantes reservas de gás natural nas águas do Mediterrâneo
oriental. Israel, Egito, Chipre e Grécia já se entenderam para explorá-las e
construir um gasoduto para abastecer a Europa.
A Turquia quer um pedaço desta
riqueza , e assinou um tratado de fronteiras – que não respeita o direito
internacional – com o governo de Trípoli. Só que a fronteira desenhada impede a
construção do gasoduto dos outros países.
E o
marechal Haftar já declarou que não respeitaria o tratado com os turcos.
Enquanto Moscou, por seu lado, tenta por
mais um pé na África.
Vai ser difícil resolver todas essas
pendengas religiosas e geopolíticas em Berlim. Haftar e al-Sarraj não querem
nem sentar na mesma mesa. Sem os Estados Unidos, está faltando um poder capaz
de garantir uma saída multilateral e impor uma solução.
O
secretário de Estado americano, decidiu sentar na mesa de Berlim. Mas não é
para impedir uma guerra de todos contra todos. É só para garantir que os
diversos participantes vão continuar respeitando os interesses diretos de
Washington. ANG/RFI
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