Guiné-Bissau
e São Tomé e Príncipe com níveis elevados de destruição
Bissau, 12 dez 18 (ANG) - A Guiné-Bissau
e São Tome e Príncipe, em termos de Segurança Alimentar, apresentam os níveis
de desnutrição mais elevados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
(CPLP), dados “preocupantes” que exigem “alguns apoios”, admitiu terça-feira à
Lusa Manuel Lapão, director de cooperação daquela organização.
Esta é uma questão que
"vai ter, com certeza, algum investimento nos próximos anos",
acrescentou o responsável, à margem de um seminário que decorreu, na sede da
CPLP, em Lisboa, para apresentação do estudo sobre a caracterização da agricultura
familiar de cada um dos Estados-membros daquela Comunidade, para que o
relatório completo possa ainda ser apresentado no primeiro trimestre de 2019.
Das conclusões preliminares
apresentadas terça-feira pelos consultores que realizaram o estudo, Manuel
Lapão destacou também o facto positivo de que a produção da agricultura
familiar cresceu "de forma significativa em alguns dos países da
CPLP", como foi o caso de Angola, onde, disse, o nível de desnutrição
baixou.
Consagrar aquilo que é a
caracterização da pequena agricultura familiar no espaço da CPLP, que produz
80% das necessidades de consumo, mas com um nível de rendimento que não
ultrapassa os 10%, é agora o desafio ao nível da CPLP, sublinhou Manuel Lapão.
Em declarações à Lusa o
director de cooperação da CPLP, sublinhou que a desnutrição baixou de forma
significativa na maioria dos Estados-membros, considerando este um aspecto
positivo. Apontou, contudo, o caso da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe,
países em que se registou um aumento ligeiro, situação que considera de
“preocupante”.
Angola, Moçambique e
Guiné-Bissau estão entre os países africanos onde os choques climáticos foram
uma das causas de crises alimentares em 2017, segundo um relatório das Nações
Unidas, apresentado em Setembro, em Roma.
Esta foi uma das principais
conclusões da avaliação global sobre segurança alimentar e nutricional (SOFI
2018), elaborada por cinco agências da ONU, incluindo a Organização para a
Alimentação e a Agricultura (FAO).
A avaliação foi pessimista,
realçando que os objectivos de erradicação da fome em 2030 estão em risco, face
ao crescimento da situação de fome, que atingiu 821 milhões de pessoas em 2017,
ou seja, um em cada nove habitantes do mundo.
O SOFI 2018 destaca que a
segurança alimentar e a nutrição são tanto mais afectadas quanto maior for o
grau de exposição e a vulnerabilidade dos países aos choques provocados pela
variabilidade e extremos climáticos.
Os choques climáticos são uma
das causas associadas às crises alimentares, em alguns casos agravadas por
conflitos, sendo África, Ásia, América Latina e Caraíbas as regiões mais
atingidas.
Entres os países africanos
identificados no relatório incluem-se Angola (períodos de seca/baixa
pluviosidade), Guiné-Bissau (início tardio das estações e inundações) e
Moçambique (secas, inundações, tempestades ou outros choques climáticos).
Nos últimos 20 anos "não
só a exposição a choques climáticos aumentou, em termos de frequência e
intensidade, mas isto aconteceu também em países que já eram vulneráveis à
insegurança alimentar e malnutrição", registando-se um acréscimo de
choques climáticos em países onde a subnutrição, produção e rendimento das
colheitas já eram vulneráveis aos extremos climáticos.
O número de países mais
expostos a fenómenos extremos passou de 83% no período de 1996-2000 para 96% em
2011-2016.
Em termos de intensidade
(diferentes fenómenos extremos num período de cinco anos), 36% dos países
estiveram expostos a três ou quatro tipos de incidentes (calor extremo, seca,
inundações ou tempestades) entre 2011-2016, o dobro do período anterior.
A ocorrência destes extremos
climáticos aumentou 160% nos países africanos, passando de 10% em 1996-2000
para 25% ente 2011 e 2016.
Angola, Moçambique e
Guiné-Bissau estão também na lista dos países afectados por várias formas de
malnutrição, incluindo crianças com desnutrição crónica (prevalência maior ou
igual a 20%), anemia nas mulheres (prevalência maior ou igual a 40%) e
obesidade em adultos (prevalência maior ou igual a 20%).
Segundo o relatório das Nações Unidas,
das 821 milhões de pessoas com fome registadas em 2017 em todo o mundo, cerca
de 256 milhões viviam em África.
ANG/Angop
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