Primeira-ministra britânica acusada de enganar
parlamento sobre acordo do Brexit
Bissau, 06 dez 18
(ANG) - A primeira-ministra britânica,
Theresa May, foi acusada quarta-feira
(5) de ter enganado o Parlamento cada vez mais beligerante sobre as implicações
do seu acordo do Brexit, cujos rumos podem ser alterados após dois duros golpes
sofridos pelo governo.
Em declarações a AFP, o deputado Ian
Blackford, do Partido Nacionalista Escocês (SNP), disse que "desde que ela
voltou de Bruxelas com o seu acordo, a primeira-ministra vem enganando a Câmara
- involuntariamente, ou não".
"Chegou a hora de ela assumir a
responsabilidade por ter escondido os factos", acrescentou.
Referiu-se igualmente à "moção de
desacato", aprovada na véspera pelo Executivo, por ter-se recusado a
fornecer na íntegra os relatórios jurídicos sobre o acordo negociado com
Bruxelas e que deve ser rejeitado em 11 de Dezembro.
Após perder essa moção, antes de iniciar
cinco dias de debates acalorados, o governo se viu forçado a revelar
informações que classificava como confidenciais.
O acordo assinado por May com os 27 sócios
europeus prevê um complexo sistema denominado "backstop", ou
"rede de segurança", para evitar instaurar uma fronteira dura entre a
província britânica da Irlanda do Norte e a República de Irlanda.
O relatório jurídico mostrou que a Irlanda
do Norte poderia ser mantida indefinidamente no mercado único europeu, se não
for possível negociar uma melhor solução no quadro da futura relação entre o
Reino Unido e a União Europeia.
"A primeira-ministra deve explicar por
que ela continua a negar à Escócia os direitos e oportunidades que o acordo
oferece para outra parte" do país, lançou Blackford, cujo partido é
pró-europeu.
Dois anos depois de rejeitar a
independência do Reino Unido, a Escócia votou maciçamente contra o Brexit (63%)
no referendo de Junho de 2016, quando o país decidiu deixar a UE por 52% dos
votos.
"Vamos sair da UE como Reino Unido em
seu conjunto e negociaremos como Reino Unido em seu conjunto", disse May,
pedindo novamente para aprovar o seu acordo sob risco de um Brexit brutal em 29
de Março.
- 'Perdeu o controlo' - As consequências
legais do "backstop" também indignaram o pequeno partido unionista da
Irlanda do Norte, DUP, de cujos 10 deputados o governo de May depende para
sobreviver.
"É totalmente inaceitável (...). Tem
que ser derrotado, e novas condições devem ser negociadas", disse um dos
seus líderes, o deputado Nigel Dodds.
O acordo firmado pelo governo britânico com
os seus 27 parceiros europeus choca com a oposição dos eurófilos, que vêem
condições piores do que as actuais, bem como com os eurocépticos, convencidos
de que fazem concessões inaceitáveis à UE. Muitos destes últimos estão nas
fileiras do Partido Conservador de May.
E foi exactamente daí que veio o segundo
golpe à enfraquecida primeira-ministra na terça-feira: o ex-procurador-geral
Dominic Grieve apresentou uma emenda, aprovada por 321 votos contra 299, para
que o Parlamento possa determinar o que acontece, se o acordo for rejeitado.
Se May perder a votação histórica na
próxima semana, o seu governo tem um prazo de 21 dias para informar os
legisladores sobre o que ela planeia fazer.
Entre as muitas opções, estão: negociar
novamente com a UE, deixar o bloco em 29 de Março sem acordo, convocar eleições
legislativas antecipadas, ou organizar um novo referendo.
O que quer que o Executivo decida, os
deputados poderiam aconselhar o contrário e, embora a sua emenda não seja
vinculativa, seria politicamente difícil para a primeira-ministra ignorar a
opinião maioritária da Câmara.
"O dia em que May perdeu o
controlo", afirmou o jornal "Daily Telegraph" nesta
quarta-feira.
"May sofre pior derrota para os
deputados em 40 anos", insistiu "The Times".
ANG/Angop
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