Situação financeira é “séria e
preocupante” e a principal dificuldade – Ribeiro Telles
Bissau,
01 jan 20 (ANG) – O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP), Francisco Ribeiro Telles, em funções há um ano, alertou hoje
que a situação financeira da organização “é preocupante”.
“Vim
encontrar uma organização internacional complexa e difícil, mas que está a
fazer o seu caminho e penso que tem dado os seus frutos”, disse o diplomata,
considerando, por isso, que ao fim de um ano de mandato “o balanço é
necessariamente positivo”.
Porém,
com uma “dificuldade” a destacar, a financeira, que considerou não ser
“dramática”, mas “é uma situação séria e preocupante”, afirmou.
“Todos
nós temos consciência dessa situação e os Estados-membros, de uma forma ou de
outra, vão tentar resolvê-la”, pagando as suas contribuições, que “estão
estabelecidas há algum tempo”, adiantou em entrevista à Lusa.
O
secretário-executivo não vê necessidade de se alterarem regras ou de aplicar
sanções aos incumpridores.
“O que
vejo é a necessidade de os Estados-membros poderem atempadamente pagar as suas
contribuições”, reforçou.
Contudo,
lembrou que esta é “uma dificuldade recorrente, que qualquer organização
internacional hoje em dia tem”, citando como exemplo as Nações Unidas e
recordando que recentemente o seu secretário-geral, o português António
Guterres, admitiu que poderia já não ter dinheiro para pagar ordenados caso se
mantivesse o actual estado de contribuições dos membros.
“A CPLP
não foge à regra, e há Estados que passam por dificuldades económicas, que são
perfeitamente compreensíveis, portanto o que nós temos de lidar aqui no
dia-a-dia é com o orçamento disponível”, referiu.
Assegurando
que ainda não está numa situação de dificuldade de pagar os salários dos
funcionários da CPLP, aponta as limitações que esta situação representa.
“Não
podemos pensar que poderíamos ter grandes projectos quando no fim de contas às
vezes falta uma capacidade financeira para os realizar”, reconheceu.
Do lado
positivo, destacou a evolução no dossiê da mobilidade, uma prioridade da actual
presidência rotativa da CPLP, que é de Cabo Verde.
Mas,
sublinhou que sobre essa matéria gostaria que fosse a própria presidência
cabo-verdiana a pronunciar-se, porque cabe-lhe a gestão deste dossiê que, na
sua opinião, “tem sido feita de uma forma notável”.
Assim,
sobre este assunto apenas adiantou que vai haver “uma última” reunião técnica
sobre a mobilidade em finais de Janeiro, a que se seguirá uma outra de
ministros dos Negócios Estrangeiros, “especialmente convocada para fazer um
balanço daquilo que foram as decisões a nível técnico” e, “muito
possivelmente”, na cimeira de chefes de Estado e de Governo, em Luanda,
previsivelmente em Julho, deverá ser assinado “um documento que vai ser
aprovado”.
“Eu
acredito, eu tenho de acreditar que vai ser aprovado. Penso que estaremos em
condições de apresentar um documento bastante significativo e que representa um
grande impulso àquilo que já existia antes na CPLP”, afirmou, escusando-se mais
uma vez a dar pormenores.
Até
porque, acrescentou: “Há uma reunião técnica em Janeiro, há pormenores a serem
limados e, depois, a presidência cabo-verdiana estará em condições de poder já
dizer qualquer coisa daquilo que, possivelmente, será uma nova Convenção Quadro
sobre mobilidade no espaço CPLP”.
“Isso é
um aspecto para mim muito positivo”, sublinhou.
Para
Ribeiro Telles, a CPLP tem funcionado bem em alguns sectores, nomeadamente ao
nível da concertação política ou diplomática, mas também da cooperação e da
difusão da língua portuguesa.
Mas,
alertou, “é preciso criar um sentimento de pertença, é preciso que o cidadão
comum se aproxime da CPLP e veja alguma utilidade na CPLP”, considerando que “a
questão da mobilidade é crucial para isso”.
Reconhecendo
que a tarefa “não é fácil”, porque é preciso “consensualizar posições entre
nove Estados-membros, que estão espalhados por quatro continentes”, realçou que
“os avanços que já foram feitos a esse nível são bastante significativos” e por
isso, disse estar “optimista”.
O que
está a ser discutido é, à imagem do que sucedeu com a União Europeia, uma
mobilidade a várias velocidades, e sobre isso “já há um consenso dos
Estados-Membros que deve ser assim”, sublinhou. ANG/Inforpress/Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário