Covid-19/ Lar de abrigo
de crianças cegas com dificuldades de
alimentação
Bissau,22
Mai 20(ANG) - As crianças acolhidas pela Agrice, único lar de abrigo de pessoas
cegas, mudas e surdas na Guiné-Bissau, enfrentam "muitas
dificuldades" na alimentação e medicamentos, devido à pandemia provocada pelo
novo coronavírus, disse quinta-feira à Lusa um responsável da instituição.
Adjé
Mané, professor da escola Bengala Branca, que acolhe crianças de toda a
Guiné-Bissau, com problemas visuais e de audição, explicou que com o início da
pandemia da covid-19, "a situação dos dois lares piorou".
A
Agrice, associação guineense de reabilitação e integração dos cegos, conta com
um lar de crianças cegas no bairro de Cuntum Madina, onde acolhe 66 crianças, e
outro em Bissaguel, onde dá abrigo a 23 crianças, todas em regime de internato.
Nos
dois lares estão crianças dos seis meses aos 14 anos, de ambos os sexos e
maioritariamente oriundas das comunidades do interior da Guiné-Bissau, onde são
ostracizadas por serem portadoras de deficiências visuais e de audição.
O
professor Mané referiu que as crianças precisam de alimentação, medicamentos e
vestuário, porque com a pandemia provocada pelo novo coronavírus as entidades
que apoiavam a Agrice deixaram de o fazer.
"Recebíamos
apoios da cooperação portuguesa, mas há já algum tempo que não recebemos nada,
também compreendemos que esta situação do coronavírus afetou a toda a
gente", afirmou Adjé Mané.
Algumas
crianças até já pediram para serem devolvidas aos familiares, gesto que o
professor considerou ser improcedente porque as dificuldades dos pais, nas
comunidades, "são ainda maiores ou até piores".
"Os
familiares das crianças não aparecem aqui. Mas também tirar uma criança
invisual da sua comunidade para Bissau, isso é um alívio, nunca mais a família
quererá saber dessa criança que é um fardo", frisou Adjé Mané.
Para
superar as dificuldades nos dois lares, os monitores das crianças recorrem aos
pedidos de favores "aqui e ali", às vezes arranja-se algo para o
pequeno-almoço, às vezes já não se consegue nada para o almoço ou jantar,
contou o professor.
Os
medicamentos para as crianças eram levantados, fiado, numa farmácia, mas há já
algum tempo que o proprietário cancelou o procedimento, alegando dificuldades
no negócio, e para piorar a situação Manuel Rodrigues, presidente e benemérito
da associação, adoeceu.
"Ele
é que é o pilar da nossa instituição e até tirava do próprio bolso, às vezes
recorria às pessoas conhecidas", disse Adjé Mané, que lançou um
"grito de socorro às pessoas de boa vontade".
Além
dos dois lares, a Agrice tem a escola Bengala Branca que é frequentada por 566
alunos, que está atualmente parada por ordens do Governo, no âmbito do estado
de emergência em vigor no país desde finais de março.
A
Guiné-Bissau regista mais de 1.000 casos de infeção pelo novo coronavírus,
incluindo seis vítimas mortais e 42 recuperados.
No
âmbito do combate à pandemia, o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló,
decretou o estado de emergência, até 26 de maio, e o recolher obrigatório entre
as 20:00 e as 06:00 no país.
Além
daquelas medidas, as pessoas só podem circular entre as 07:00 e as 14:00
locais.
A nível
global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19
já provocou mais de 328 mil mortos e infetou mais de cinco milhões de pessoas
em 196 países e territórios.
Mais de
1,8 milhões de doentes foram considerados curados.
ANG/Lusa
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