Justiça/Presidente da LGDH acusa chefe de Estado de ter "esquadrão de repressão"
Bissau,13 Out 20(ANG) - O presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, Augusto Mário Silva, acusou esta segunda-feira (12.10) Umaro Sissoco Embaló de defender a violência ao afirmar: "Quem não se cuidar, alguém há de cuidar dele".
"O Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, tem adotado, como método do seu consulado, a implantação de terror para controlar a mente e liberdade de expressão dos cidadãos.Para a materialização desta sua intenção maléfica emergiu em Bissau um esquadrão de repressão cuja referência moral é supostamente o senhor Umaro Sissoco Embaló, que, com a bênção deste, anda a espalhar terror em tudo quanto é sítio", salientou.
O presidente da Liga falava em conferência de imprensa realizada na Casa dos Direitos, em Bissau, onde dois ativistas do Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15, partido político no Governo e o partido do Presidente) acusaram alegados elementos do batalhão da Presidência de os terem espancado na Presidência da República.
Os dois
ativistas, Carlos Sambú e Queba Sani (Kelly), revelaram que foram raptados no
bairro da Ajuda, na capital guineense, por um militar e por Tcherno Bari, mais
conhecido por 'Tcherninho', da segurança do chefe de Estado, Umaro Sissoco
Embaló.
O
Madem-G15 já condenou o ataque aos dois ativistas. Também o primeiro-ministro
guineense, Nuno Nabian, afirmou no sábado que ninguém está acima da lei no país, nem o
próprio, nem o Presidente da República, e que os autores dos alegados
espancamentos de dois ativistas políticos serão levados à Justiça.
O chefe
de Estado guineense já tinha lamentado o sucedido aos dois ativistas. Em
declarações em Lisboa, no aeroporto Osvaldo Vieira, após ter regressado da sua
visita oficial a Portugal, Umaro Sissoco Embaló disse que os dois eram como seus
filhos e que os iria receber em Bissau.
Em
reação às declarações de Sissoco Embaló, que acusou a Liga Guineense dos
Direitos Humanos de ser parcial, Augusto Mário Silva recorda que a Liga
"foi a primeira organização a denunciar o rapto do deputado Marciano
Indi". Nota ainda que, no caso do Armando Dias, dirigente do Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), a intervenção da
Liga permitiu que tivesse acesso a um advogado e medicamentos.
"Queremos
garantir ao senhor Presidente que a Liga Guineense dos Direitos Humanos não tem
uma agenda seletiva na sua luta pela consolidação do Estado de Direito
democrático. Nunca o teve e nem nunca o terá", salientou.
Na
declaração à imprensa, a organização não-governamental de defesa dos Direitos
Humanos aconselhou também o chefe de Estado a ter uma "conduta republicana
digna das funções que ocupa, evitando deste modo proferir declarações que
instiguem à violência e ao ódio".
A Liga
Guineense dos Direitos Humanos ainda indicou que os vários casos de ataques
contra ativistas políticos e jornalistas que têm acontecido no país
"evidenciam fortes indícios de que teriam sido materializados por homens
do tal esquadrão de terror que conta com o beneplácito do Presidente".
Augusto
Mário Silva sublinhou que a Liga tem de condenar "tanta barbárie",
que "visa criar um clima de terror e de medo generalizado" e que é um
"retrocesso nas várias décadas de conquista" de um Estado de Direito.
A Liga
disse também que na República da Guiné-Bissau "ninguém está acima da
lei" e que todos os cidadãos têm o direito de "recorrer aos órgãos
jurisdicionais para garantir a responsabilização do infrator".
Augusto Mário Silva deixou também
críticas ao Ministério do Interior, que, segundo ele, em vez de proteger os
cidadãos, passou a ser "símbolo de tortura e de repositório de cidadãos
sequestrados".ANG/DW-África
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