“ A mulher rural guineense enfrenta barreiras impostas pelos homens", diz
estudo
Bissau, 20 dez 19 (ANG) - Um estudo sobre a situação
da mulher guineense do mundo rural aponta para a existência de várias barreiras
impostas pelos homens, inibidoras da sua participação nas tomadas de decisão.
Boaventura
Santy, coordenador do estudo, promovido pela organização não-governamental
guineense, Tiniguena, disse à Lusa que a amostra retrata apenas a realidade de
30 comunidades rurais, mas espelha a realidade vivida em toda a Guiné-Bissau.
"Constatámos
que existem barreiras exteriores à afirmação da mulher rural, constituídas
pelos homens, mas também concluímos que a pouca instrução dessas mulheres, a
pobreza e o excesso de trabalho, são também outros dos fatores para a sua fraca
participação nas tomadas de decisão", afirmou Santy.
O
também sociólogo e investigador no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa
(INEP) exemplificou que a mulher rural acorda e sai de casa às 06:00 da manhã e
só se deita às 22:00, acabando por deixar para os homens a tarefa de decisão
sobre os assuntos da comunidade.
"A
maior parte dessas mulheres são as provedoras da família, são elas que produzem
o que se come, o que se veste e o que se gasta para outras necessidades. São
levadas a pensar e incorporar na sua mente que o processo decisório cabe apenas
aos homens", sublinhou Boaventura Santy.
O
investigador notou que o estudo concluiu que as mulheres rurais "acabam
por ficar confinadas apenas à produção de bens de consumo e aos cuidados com as
crianças".
Boaventura
Santy realça que o estudo retratou a realidade de 30 comunidades, de Bafatá, no
leste, Oio, no centro, e Cacheu, no norte, mas sublinhou que não há dúvidas em
como espelha o que se passa na generalidade do mundo rural guineense.
"O
estudo, realmente, só veio reforçar o conhecimento que o público tem em relação
à situação de dificuldade, de submissão da mulher e a sua limitação em termos
de participação nos processos decisórios, tanto a nível da sua comunidade como
a nível nacional", frisou Santy.
O
investigador acredita ser possível inverter esse quadro desde que o Estado
guineense reforce a educação e a instrução da mulher rural, crie reais
condições para a sua participação nas tomadas de decisão o que, disse, passa
pela eliminação de barreiras culturais e a ideia de imposição por parte dos
homens.
O
estudo, que é hoje apresentado em Bissau, foi financiado ao abrigo de um
projeto do Fundo das Nações Unidas para a Consolidação da paz na Guiné-Bissau e
executado em parceira com o Programa Alimentar Mundial (PAM).ANG/Lusa
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