Simões Pereira admite que Senegal possa temer a sua eleição
Bissau,
18 dez 19 (ANG) - O candidato às
eleições presidenciais na Guiné-Bissau Domingos Simões Pereira admite que o
Senegal possa temer a sua eleição por saber que a sua capacidade de defender o
país “é incomparavelmente superior” à do seu adversário.
Em
entrevista à agência Lusa em Lisboa, o candidato apoiado pelo Partido Africano
para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) refere que “provavelmente o
Presidente do Senegal [Macky Sall] e o próprio Senegal” poderão ficar “bastante
mais tranquilos” se for eleito o seu adversário, Umaro Sissoco Embaló, na
segunda volta das presidenciais, em 29 de Dezembro.
“Se for
o caso, será exclusivamente por eles perceberem que a minha capacidade de
defender a Guiné-Bissau é incomparavelmente superior àquela do meu adversário,
que olha para o Governo e olha para o Estado numa perspectiva completamente
folclórica”, diz.
Questionado
sobre se considera que o alegado apoio do Senegal ao seu adversário pode ser
uma ameaça à soberania da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira refere que a
ameaça “não é necessariamente aquilo que é a posição e a visão das autoridades
senegalesas”, mas “a ignorância que pode haver por parte das autoridades
guineenses”.
“É
medonho pensar que nós podemos ter um chefe de Estado que não sabe
rigorosamente nada sobre a história dessas relações”, diz, referindo-se a
Sissoco Embaló, a quem acusa de nunca ter ouvido falar de questões como a
definição da plataforma continental ou a delimitação de fronteiras, que dominam
as relações entre a Guiné-Bissau e o Senegal.
Segundo
o candidato do PAIGC, os guineenses “precisam saber dessas questões” para
perceberem “o risco que paira” sobre a Guiné-Bissau.
Neste
sentido, Simões Pereira defende que a questão que se coloca actualmente é
perceber se “a delimitação da fronteira marítima entre o Senegal e a
Guiné-Bissau está abrangida pelo acordo que foi assinado antes da proclamação
da independência dos dois países e portanto os dois reconhecem esse traçado e a
inalterabilidade dos limites que foram fixados ou se é algo posterior a essa
proclamação” e deve ser reavaliado.
Ressalvando
que não está a propor nenhuma revisão dos tratados existentes, o candidato
defende, no entanto, que esta questão deve ser “um objecto de estudo” e de “um
trabalho consistente”, sobretudo agora que o Senegal anunciou a descoberta de
petróleo.
“O
Senegal descobriu petróleo, descobriu gás, mas descobriu petróleo onde?
Descobriu gás onde?” – questiona, referindo-se ao traçado que delimita a
fronteira marítima entre os dois países e a zona conjunta, bem como os azimutes
que levaram à definição desse traçado.
A Zona
Económica Conjunta tem cerca de 25 mil quilómetros quadrados da plataforma
continental e é gerida por uma agência de gestão e cooperação, baseada em
Dacar, actualmente presidida pelo antigo primeiro-ministro guineense Artur
Silva.
A ZEC é
considerada rica em recursos haliêuticos, cuja exploração determina 50% para
cada um dos Estados, e ainda hidrocarbonetos (petróleo e gás), mas cuja divisão
é 15% para a Guiné-Bissau e 85% para o Senegal.
Sob
orientação do Presidente cessante, José Mário Vaz, o Estado guineense disse
pretender uma nova partilha em relação ao petróleo, mas as negociações que
começaram em 2014 ainda não foram conclusivas.
Várias
personalidades da sociedade civil guineense e o ex-chefe do Estado-Maior das
Forças Armadas Zamora Induta defendem que estas negociações devem ser suspensas
até que o Senegal aceite renegociar a delimitação de fronteiras marítimas e
terrestres.
Domingos
Simões Pereira considera que as suas partes devem respeitar as regras que foram
definidas e que “não pode ser o Senegal a interpretar as regras” pela
Guiné-Bissau.
“Nós
vamos continuar a ser a periferia dos outros Estados que nos deixam migalhas e
nós temos que nos contentar com isso”, questiona.
O
candidato defende ainda que se as interpretações dos acordos não forem
coincidentes, será necessária a intervenção de “entidades terceiras”, mas não
como em negociações anteriores em que o Senegal foi assistido pela França,
ex-potência colonial, enquanto a Guiné-Bissau foi assistida pela Argélia.
“Não
compreendo e certamente enquanto chefe de Estado irei querer compreender, mas
na base de um diálogo franco, de um diálogo sem comprometimento porque os
chefes de Estado africanos que me conhecem hoje sabem que eu falo sem
restrições porque a minha única responsabilidade é defender a verdade e o meu país”,
diz.
“Isto
não pode ser folclore, isto não pode ser brincadeira. Isso pode pôr em causa a
nossa soberania”, remata. ANG/Inforpress/Lusa
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