Revisão
constitucional/Governo quer
regime presidencial para “resolver tensões políticas”
Bissau,03 Nov 21(ANG) - O
porta-voz do Governo guineense defendeu terça-feira uma revisão constitucional
que consagre um regime presidencial e disse esperar que a vizinha Guiné-Conacri
realize rapidamente eleições livres para normalizar a situação após o recente
golpe de Estado.
“Penso que o regime presidencialista serve melhor os interesses dos guineenses e da Guiné-Bissau. Isto porquê? Porque nós somos aprendizes da democracia, somos democratas apenas desde 1994”, e hoje “aceitar estar na oposição ou ter um Governo que não tem a mesma cor que o Presidente é sinónimo de conflito”, disse, em entrevista à Lusa, Fernando Vaz, que subscreve a vontade do atual Presidente, Umaro Sissoco Embaló, de alterar a constituição.
A atual Constituição
guineense prevê um regime semipresidencial, que concede ao Presidente o poder
de chefiar o Conselho de Ministros ou de dissolver o Parlamento, (em caso de
grave crise política/ artigo 69).
O novo ano legislativo da
Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau arranca a 04 de novembro com o
debate e aprovação de vários projetos de lei e ainda a apresentação, discussão
e votação do projeto de lei da revisão da Constituição da República guineense.
O parlamento da Guiné-Bissau
deveria ter iniciado em maio o debate do projeto de revisão constitucional, mas
o ponto foi retirado da agenda, após os líderes parlamentares de todas as
bancadas terem questionado sobre a pertinência do assunto ser debatido naquele
momento e nos moldes em que foi proposto.
Em julho, o Presidente em
exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e chefe de
Estado do Gana, Nana Akufo-Add, anunciou o envio para a Guiné-Bissau de peritos
daquela organização para dar assistência à revisão constitucional, defendida
por Sissoco Embaló.
“Temos um Presidente eleito
por todos, não aceite por todos, mas eleito pela maioria do povo guineense”,
disse Fernando Vaz.
“Para um regime
semipresidencial, como transparece da atual Constituição”, é necessária uma
“maior maturidade democrática” do que aquela que o povo guineense tem hoje,
considerou o porta-voz do Governo, que compara a Guiné-Bissau com outros países
vizinhos ou com a própria tradição africana.
“Na própria estrutura social
das tribos africanas existe um chefe, não existem dois chefes. Quando existem
dois chefes é uma série de problemas”, sublinhou Fernando Vaz, que abordou
também a situação na Guiné-Conacri, palco de um golpe de Estado que depôs o
ex-Presidente Alpha Conde, adversário político do Umaro Sissoco.
“Não é segredo para ninguém
que o nosso Presidente não morre de amores pelo antigo Presidente da Guiné-
Conacri, nem ele morria de amores pelo nosso Presidente”, admitiu.
Mas o Presidente da
Guiné-Bissau, frisou o porta-voz, “sempre soube separar as águas e as suas
relações pessoais não têm nada a ver com a relação entre os Estados”.
“Sendo republicano, o nosso
Presidente defende a alternância do poder pela via das eleições” e irá “exercer
a sua esfera de influência para uma saída airosa da Guiné-Conacri”, com um
“Governo legítimo eleito pelo povo”, acrescentou Fernando Vaz.
O coronel Doumbouya derrubou
o antigo Presidente Alpha Condé num golpe de Estado em 05 de setembro e foi
depois empossado como presidente por um período de transição indefinido naquele
país da África Ocidental, que faz fronteira com a Guiné-Bissau.
Em 06 de outubro nomeou como
primeiro-ministro de transição Mohamed Béavogui.ANG/ Lusa
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