quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

                             Crise Ucrânia/UE aprova sanções à Rússia

Bissau, 23 Fev 22 (ANG) - A presidente da Comissão Europeia anunciou esta quarta-feirao pacote de sanções contra a Rússia adoptado pelos 27 e prometeu que a União Europeia vai "tornar tão difícil quanto possível para o Kremlin a prossecução das suas políticas agressivas".

Numa declaração em Bruxelas, Ursula von der Leyen advertiu que caso "a Rússia continuar a agravar esta crise que criou", a União Europeia está pronta a tomar rapidamente "novas medidas em resposta".

Relativamente às sanções aprovadas pelos 27 Estados-membros, a representante considerou tratar-se de um "sólido pacote", com "uma série de medidas calibradas", que constituem "uma resposta clara às violações do direito internacional por parte do Kremlin".

"As sanções visam directamente os indivíduos e empresas envolvidos nestas acções. Visam os bancos que financiam o aparelho militar russo e contribuem para a desestabilização da Ucrânia. Estamos também a proibir o comércio entre as duas regiões separatistas e a UE - tal como fizemos após a anexação ilegal da Crimeia em 2014. E, finalmente, estamos a limitar a capacidade do Governo russo de angariar capital nos mercados financeiros da UE", declarou.

A eurodeputada portuguesa do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, duvida da eficácia destas sanções aprovadas ontem pelos 27 Estados membros. A União Europeia tem um papel importante na solução da crise no Leste da Europa."Já tivemos várias circunstâncias em que se reforçaram as sanções à Rússia e cujos resultados não foram necessariamente os esperados", lembra.

"Não nos podemos esquecer que do outro lado há contra-sanções. Tivemos essa experiência quando foi da Crimeia e os impactos que as sanções russas tiveram na agricultura europeia, afectando tantos países como Portugal, Espanha ou França", alerta Marisa Matias.

Este é um instrumento legítimos e utilizado em algumas circunstâncias recorda a eurodeputada, duvidando que "no caso da Rússia, e tendo em conta o passado recente, esta seja a abordagem que vá trazer mais efeitos".

Questionada quanto à solução para travar esta escalada de tensão no Leste da Europa, Marisa Matias, acredita que a União Europeia "pode ter um papel na promoção da Paz e da diplomacia". Contudo, sublinha a importância da União Europeia "ter uma agenda própria, sem ser uma extensão da agenda de Washington ou da NATO, sem tomar parte do conflito, escolhendo um dos lados e deixando de ter o papel relevante que pode ter, contribuindo para a Paz".

A eurodeputada portuguesa  lembra que se têm levantado, nas últimas semanas, provocações parte a parte entre os Estados Unidos e a Rússia. Já não vivemos num mundo bipolar aponta a eurodeputada.

"Infelizmente e conhecemos bem o regime russo, o regime oligarca, muito longe de ser uma democracia, um regime super dominado por Putin, no qual nem se pode confiar em actos como as eleições. Conhecendo isso sabemos que Putin está a jogar as cartas numa lógica absolutamente reprovável, nomeadamente, o reconhecimento dos territórios independentistas. Tudo isto vai muito além do que foi a situação da Crimeia", recorda e eurodeputada portuguesa.

Por outro lado, "tem havido provocações atrás de provocações. Acho difícil que se possa sequer ter condições práticas para se exercer uma solução pela via diplomática quando o diálogo que existe é um diálogo de provocação parte a parte. Estamos a reeditar um conflito antigo, numa lógica de mundo bipolar que não existe, há outras potências mundiais. Parece um recuo ao passado com pressões, provocações que têm vindo de Moscovo, mas de Washington também".

"Vamos tornar tão difícil quanto possível para o Kremlin a prossecução de políticas agressivas", declarou a presidente do executivo comunitário, que voltou a acusar a Rússia de estar a "desrespeitar as suas obrigações internacionais e a violar princípios fundamentais do direito internacional".

"Acordamos por unanimidade um primeiro pacote de sanções", anunciou o chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian. As sanções "vão prejudicar muito a Rússia", acrescentou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell.

Entre as sanções estão o congelamento de activos e a proibição de vistos contra os 351 deputados russos que aprovaram o reconhecimento da independência dos territórios separatistas. "As sanções são dirigidas a 27 pessoas e entidades que contribuem para prejudicar ou ameaçar a integridade territorial, a soberania e a independência da Ucrânia", afirmou Josep Borrell.

Jean-Yves Le Drian anunciou ainda o cancelamento da reunião que estava prevista esta sexta-feira em Paris com seu homólogo russo Serguéi Lavrov.

O presidente norte-americano anunciou a “primeira fase de sanções contra a Rússia", lembrando que as sanções podem vir a ser agravadas consoante o comportamento de Moscovo.

“Temos quatro sanções de bloqueio em duas grandes instituições financeiras: o VEB e o Banco Militar”, lembrou Joe Biden. “Cortamos ao governo russo a possibilidade de ter acesso a financiamento do Ocidente. Também não poderá comercializar a sua nova dívida nos mercados europeus nem americanos”, acrescentou.

Em conferência de imprensa, o Presidente da Rússia anunciou o envio de tropas russas para o Donbass, no leste da Ucrânia, consoante a evolução da situação no terreno, onde se registam confrontos. Vladimir Putin pediu o reconhecimento internacional da soberania da Rússia sobre a Crimeia, península ucraniana que Moscovo anexou em 2014.

Esta terça-feira, o chefe de Estado falou ainda da autorização do Senado quanto ao envio de tropas russas para fora do país.

"Não disse que as tropas vão para lá agora, já a seguir", acrescentando que, para já, é "impossível" prever o que vai acontecer e tudo dependerá da "situação concreta no terreno"

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres voltou a sublinhar a “violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia” cometida pela Rússia. “Estou empenhado em que esta crise se resolva sem mais derramamento de sangue”, vincou o secretário-geral da ONU.

Segundo o responsável, a acção unilateral de Moscovo foi “entra directamente em conflito com os princípios da carta das Nações Unidas”, sendo também “inconsistente com a chamada Declaração de Relações Amigáveis da ONU” e “um golpe fatal nos Acordos de Minsk”. ANG/RFI

 

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