Bissau, 17 Nov 16 (ANG)
- O Governo da Gâmbia notificou esta semana a ONU sobre a decisão do país de
retirar-se do Tribunal Penal Internacional (TPI), juntando-se à África do Sul e
ao Burundi, que também anunciaram a decisão de abandonar o organismo.
“Recebemos a notificação
oficial da Gâmbia sobre a sua retirada do TPI”, disse o porta-voz das Nações
Unidas, Farhan Haq.
Yaya Djemé |
Ao justificar a decisão,
o ministro gambiano da Informação, Sheriff Bojang, afirmou que o Tribunal Penal
Internacional tem sido usado para processar apenas africanos, especialmente os
seus líderes, ignorando crimes cometidos nos países do Ocidente.
A retirada da
Gâmbia do Tribunal Penal Internacional, acrescentou Farhan Haq, tem efeitos um
ano depois da notificação.
A medida do Governo
gambiano constitui mais um revés para o Tribunal Penal Internacional e para a
sua procuradora-chefe, Fatou Bensouda, depois de as autoridades de Pretória e
Bujumbura terem ignorado apelos do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no
sentido de reconsiderarem as suas posições em relação ao TPI.
A Namíbia, Quénia e
Uganda estão também a ponderar o abandono do Estatuto de Roma, tratado fundador
do TribunalPenal Internacional.
Ao aprovar em Outubro,
por maioria qualificada, uma proposta para retirar o Burundi da alçada do
Tribunal Penal Internacional (TPI), o Parlamento burundês tomou uma decisão
inédita, que tornou o país no primeiro a recusar a jurisdição do tribunal
criado pelo Estatuto de Roma, em 1998, e abriu um precedente para outros países
africanos fazerem o mesmo.
No ano passado, o então
presidente da União Africana, Robert Mugabe, anunciou em Addis Abeba, numa
Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da organização, que o continente podia
desvincular-se do TPI, e propôs a criação de um Tribunal de Justiça e Direitos
Humanos para África.
Em 2013, o presidente em
exercício da União Africana, o primeiro-ministro etíope Hailemariam Desalegn,
acusou o TPI de promover “uma espécie de perseguição racial” ao “acusar apenas
dirigentes africanos”. Quando o TPI foi criado, o objectivo era evitar todo o
tipo de impunidade, “mas agora o processo degenerou numa espécie de perseguição
racial”, disse Hailemariam Desalegn.
Na segunda-feira, a
procuradora -Chefe do TPI disse ter “razões concretas” para acreditar que
militares norte-americanos e a CIA cometeram crimes de guerra no Afeganistão e
anunciou uma investigação que “pode culminar em acusações e mandatos de
prisão”.
EUA, Rússia e China,
assim como Angola, assinaram o tratado fundador do Tribunal Penal
Internacional, mas não o ratificaram.
ANG/JA
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