Vaticano apresenta cimeira sobre protecção de crianças
e abusos sexuais na igreja
Bissau,
19 fev 19 (ANG) - A cimeira sobre
protecção de crianças e abusos sexuais na Igreja, que reunirá no Vaticano os
presidentes de todas as conferências episcopais de 21 a 24 de Fevereiro, foi
apresentada segunda-feira em conferência de imprensa.
Na conferência de imprensa, no Vaticano, estiveram presentes
figuras que se têm destacado no trabalho desenvolvido a pedido do papa
Francisco para combater os abusos sexuais na Igreja, entre os quais o arcebispo
de Malta e secretário adjunto da Congregação para a Doutrina da Fé, Charles J.
Scicluna.
Charles J. Scicluna foi o enviado do papa ao Chile no
início de 2018 para uma investigação, tendo produzido um relatório que inclui
64 testemunhos e que acabou por desencadear a renúncia em bloco dos bispos
chilenos.
O papa assumiu na altura o compromisso de reparação
dos danos e de mudanças na Igreja, as vítimas aplaudiram e as autoridades
policiais avançaram com uma investigação que ainda decorre e que já levou à
identificação de mais de 200 vítimas.
No encontro de hoje com os jornalistas estará ainda o
arcebispo de Chicago, Blase J. Cupich, o presidente da Fundação Vaticana Joseph
Ratzinger - Bento XVI, padre Federico Lombardi, e o presidente do Centro para a
Protecção de Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana e membro da
Pontifícia Comissão para a Protecção de Menores, padre Hans Zollner.
O escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros
da Igreja Católica foi um dos grandes desafios do papa em 2018.
O abuso sexual contra crianças durante anos e anos
chegou a ser classificado pelo secretário do papa emérito Bento XVI como
"o 11 de Setembro da Igreja Católica", um momento apocalíptico com
incontáveis vítimas.
Os relatos e as notícias de abusos tiveram também
impacto na Igreja dos Estados Unidos, onde um relatório de um grande júri da
Pensilvânia revelou que pelo menos mil crianças foram vítimas de 300 padres nos
últimos 70 anos, e que gerações de bispos falharam repetidamente na adopção de
medidas para proteger a comunidade e punir os violadores.
No sábado, o Vaticano expulsou do sacerdócio o
ex-cardeal e arcebispo emérito de Washington Theodore McCarrick, acusado de
abusos sexuais a menores e a seminaristas.
A expulsão surgiu na sequência de uma investigação
ordenada pelo papa Francisco, tendo a Congregação para a Doutrina da Fé imposto
a McCarrick a redução ao estado laico.
Os casos estendem-se ainda a países como a Alemanha,
Irlanda, Holanda, Austrália, França e Espanha.
Na Alemanha, um relatório interno encomendado pela
Conferência Episcopal alemã aponta para 3.677 casos de abusos sexuais cometidos
por 1.670 elementos da Igreja Católica entre 1946 e 2014 e na Holanda pelo
menos 20 bispos e cardeais holandeses foram associados a abusos sexuais.
Na Austrália, o cardeal George Pell, que dirigia a
Secretaria da Economia do Vaticano, foi considerado culpado por um tribunal em
Melbourne de abuso sexual a duas crianças.
Em Agosto, a poucos dias de uma visita à Irlanda, o
papa escreveu a todos os católicos do mundo, condenando o crime de abuso sexual
por parte de padres e exigindo responsabilidades.
Na carta, o papa Francisco pediu perdão pela dor
sofrida e disse que os leigos católicos devem envolver-se na luta para
erradicar o abuso e o seu encobrimento.
Na Irlanda, o papa Francisco encontrou-se com vítimas
de abusos sexuais e lamentou a forma como a Igreja irlandesa respondeu aos
crimes.
Mais de 14.500 pessoas declararam-se vítimas de abuso
sexual por parte de padres e a hierarquia da Igreja irlandesa é acusada de ter
encoberto centenas de sacerdotes.
No dia 12 de Setembro, Francisco decidiu marcar uma
cimeira sobre os abusos sexuais na Igreja, convocando os presidentes de todas
as conferências episcopais.
ANG/Angop
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