Covid-19: Médicos guineenses cépticos
em relação à estratégia do país para combater a doença
Bissau,
06 Mai 20 (ANG) – Dois médicos guineenses do Hospital Simão Mendes de Bissau,
Mboma Sanca e Malam Sabali, disseram hoje à Lusa estarem céptico com a
estratégia da Guiné-Bissau para combater a pandemia do novo coronavírus.
Mboma Sanca |
O
Centro de Emergência de Saúde da Guiné-Bissau registou já 457 infecções por
covid-19 no país, incluindo 24 recuperados e duas vítimas mortais.
Mboma
Sanca trabalha no único serviço de Cuidados Intensivos e Malam Sabali é
médico-cirurgião nos serviços de urgência.
Ambos
afirmam que o Simão Mendes, hospital de referência da Guiné-Bissau, lugar preparado
para receber e tratar doentes afectados pela covid-19, não tem, actualmente, as
mínimas condições exigidas.
Nas
contas de Malam Sabali, até 6% dos doentes infectados pela covid-19 vão
precisar de um internamento nos Cuidados Intensivos, dada a gravidade da sua
situação, mas naquela unidade, disse, “não há oxigénio nem ventiladores”.
Sabali
afirmou que a unidade é a única naquele hospital com um sistema de canalização,
já montado, para levar oxigénio até ao paciente, mas que actualmente não
funciona por falta daquele produto.
A
unidade de produção do oxigénio do Simão Mendes está avariada e Malam Sabali
entende que a solução passa pela sua rápida recuperação, antes que qualquer
doente com a covid-19 seja internado nos Cuidados Intensivos.
Médico
de medicina interna, Mboma Sanca disse que é a própria estratégia guineense que
“se está a relevar um fracasso”, a começar pela forma como é feita a
comunicação pelas autoridades sanitárias.
“Não se
identificou a real estratégia de combate que devia assentar na comunicação e
prevenção, porque mesmo os Estados Unidos de América com todo o seu arsenal de
equipamentos, não estão a conseguir evitar as mortes”, defendeu Mboma Sanca.
Para o
clínico guineense, a doença deixou de ser uma ameaça para o país a partir do dia
25 de Março quando foram diagnosticados os primeiros casos e “era tempo
suficiente para uma outra abordagem”, frisou.
Malam
Sabali antevê “dias complicados” a partir do momento em que comecem a dar
entrada no Simão Mendes casos graves e lembrou que o primeiro paciente com
aquele quadro acabou por falecer 48 horas depois de dar entrada no hospital.
Sabali
até compreende os esforços das autoridades, mas defendeu ser urgente equipar o
Simão Mendes, formar a equipa médica e dotá-la de material de protecção que
disse não passar, neste momento, de máscaras cirúrgicas e luvas.
“Esta
batalha não é de curto prazo, devemos pensar que vai levar algum tempo. Temos
máscaras e luvas, mas em pequena quantidade e é preciso dotar o pessoal médico
com touca, batas, botas e outros materiais”, sublinhou Sabali.
Para
Mboma Sanca, mais do que pensar no tratamento é a própria estratégia que deve
ser orientada no sentido de incentivar o distanciamento social da população,
isolamento de casos positivos e protecção do grupo de risco, pessoas portadoras
de outras doenças, nomeadamente AVC, diabetes, hipertensão e VIH/Sida.
É desse
grupo que Malam Sabali aponta para os 6% de doentes que serão considerados
casos graves e para os quais, disse, o país ainda não se preparou. Segundo
disse, 80% de infectados terão manifestações ligeiras e 14% terão manifestações
severas.
A
Guiné-Bissau tem 475 casos confirmados da doença e dois mortos.
O
Presidente Umaro Sissoco Embaló,
prolongou, pela segunda vez, o estado de emergência no país até 11 de Maio.
No
âmbito do combate à pandemia, as autoridades guineenses encerraram também as
fronteiras, serviços não essenciais, incluindo restaures, bares e discotecas e
locais de culto religioso, proibiram a circulação de transportes urbanos e
interurbanos e limitaram a circulação de pessoas ao período entre as 07:00 e as
14:00 horas.
O
número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu hoje para 1.959, com
mais de 49 mil casos da doença registados em 53 países, segundo as estatísticas
mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível
global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19
já provocou mais de 254 mil mortos e infectou quase 3,6 milhões de pessoas em
195 países e territórios.
Mais de
um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.ANG/Inforpress/Lusa
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