segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Desenvolvimento de África


Carlos Lopes da ONU acredita no potencial do continente

Bissau, 20.Out. 14 (ANG) “ A África tem vento favorável ,neste momento ,que deve ser transformado num crescimento de qualidade”,afirmou este fim-de-semana em Bissau, o Secretário Executivo da Comissão Económica para África,  Carlos Lopes .

Lopes falava numa “Conferência sobre os Desafios Contemporâneos da África”, organizada pela Confederação Empresarial dos Países da africanos da Língua Portuguesa e a ONG “Tiniguena”.

Comentando a recente projecção do Fundo Monetário Internacional (FMI) que avança num crescimento económico do “continente negro” em 5.1por cento , a maior em relação à todas as regiões do mundo, Carlos Lopes defendeu  o modelo de  “transformação estrutural,” criticando duma forma implícita as políticas macroeconómicas do conhecido “Ajustamento Estrutural” dos anos 70/80 nos países como a Guiné-Bissau.

Transformação essa, segundo as suas palavras, que passa pela industrialização da África, a única região no mundo que até neste momento  não conhece este fenómeno.

Sobre o crescimento económico “histórico” vivido no continente neste momento, este alto responsável da ONU destaca  como razões fundamentais, o crescimento do consumo da classe média africana, das recentes melhorias dos preços das matérias-primas exportadas pelo continente e daquilo que chama de “expansão de serviços”.

No que tange ao crescimento do  consumo, Lopes afirma, a título de exemplo, que a África hoje tem mais telefones celulares do que  a Índia ou os Estados Unidos de América.

Em relação ao alargamento de serviços, assegurou que em consequência, a África está a registar mais empregos, não obstante a sua maioria, ser serviços precário e de sobrevivência, do que propriamente de trabalho decente.

Para aproveitar este crescimento, Carlos Lopes afirma que a África pode fazer um modelo de industrialização diferente da “falhada”nos anos 70/80 em muitos países em vias de desenvolvimento e da América Latina que optou pela via de “substitui coes de importações”.

A África, segundo disse,  precisa de um  modelo industrial  voltado para o “mercado interno”,  e cita como exemplo, a fabricação de pastas de dente (produto até então importado) para cerca de um bilhão de  habitantes no continente.

Carlos Lopes ainda falou sobre a necessidade de uma  industrialização que tenha em conta “a vantagem da África no mercado global”, ou seja, de a África ser das regiões com mais matérias-primas que, até agora, não transforma.

Segundo ele, a África exporta tudo sem transformação. O que significa que o continente transporta também, o emprego para outras paragens do mundo.

Por exemplo, questiona a  razão de Gana e Costa do Marfim, dois países responsáveis pela produção mundial de 62 por cento de cacau,  não serem fabricantes de chocolate.

Outro activo, segundo o SECEA é que a África possui poupança financeira e energia, sobretudo renovável, para materializar a sua industrialização.

Mas antes, recomenda uma agricultura virada para a industrialização e não a que apenas garanta a sobrevivência das populações camponesas.

Em relação aos constrangimentos do continente, este responsável sénior da ONU criticou o modelo da agricultura no continente que, apelida de cariz social, em vez do “produtivo”.
E, isto, segundo as suas palavras, leva o sector agrário a ocupar apenas seis por cento do total da economia do continente africano.

Também nesta conferência foi apresentado o livro sobre o pensamento do fundador das nacionalidades guineense e cabo-verdiana com o título inglês: “Claim for no easy”- o legado de Cabral, resultado das investigações dos estudiosos africanos, americanos e europeus.

Na ocasião, um dos coautores desta obra, o sociólogo e investigador, Miguel de Barros criticou a não introdução do pensamento de Amílcar Cabral no sistema educativo guineense, censura corroborada pelo Carlos Lopes que disse ter feito um livro sobre Cabral que está a ser estudado  na africa francófona.

Para além do público e dos representantes dos organismos internacionais sedeados no país, o acto foi marcado pela presença do Primeiro-ministro e dos membros do seu executivo, tendo  o chefe do governo realçado  a importância do evento e da presença de Carlos Lopes no país que o viu nascer.

Galardoado recentemente com o prémio “Lifetime África Achievement Prize (LAAP), na categoria “Acção para África” pela “Millennium Excellence Foundation”, devido ao seu contributo para reverter o destino económico de África, Carlos Lopes, de nacionalidade Bissau guineense, assume as funções do Secretário Executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África desde Julho de 2012. 

ANG/QC/SG  


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