“Década atual deve
ser a mais quente já registrada”, diz ONU
Bissau, 04 dez
19 (ANG) - A atual década (2010-2019) está destinada a ser a mais quente já
registrada na história, adverte a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em um
relatório anual publicado nesta terça-feira (3).
No relatório apresentado no início da
Conferência sobre o Clima da ONU (COP25), a OMM indicou que as temperaturas
globais superaram nos primeiros 10 meses do ano em 1,1 ºC a média da era
pré-industrial (1850-1900). A organização prevê ainda que 2019 será o
“segundo ou terceiro ano mais quente”, desde 1850, quando os registros
sistemáticos começaram a ser feitos.
Cada uma das últimas quatro décadas foi
mais quente que a anterior. Além disso, as emissões provocadas pelo homem
devido, por exemplo, aos combustíveis fósseis, a construção de infraestruturas,
o aumento dos cultivos e o transporte provavelmente contribuirão para um novo
recorde de concentração de dióxido de carbono, o que aumentará o aquecimento,
afirmou a OMM.
Os
oceanos, que absorvem parte dos gases do efeito estufa, continuam registrando temperaturas
recordes e uma acidificarão maior, o que ameaça os ecossistemas marinhos
dos quais bilhões de pessoas dependem para alimentação ou trabalho.
Em
outubro, o nível do mar também alcançou um recorde, alimentado sobretudo pelas
329 bilhões de toneladas de gelo derretido na Groenlândia em um ano.
Milhões de pessoas já sofrem as
consequências da mudança climática, o que evidencia que esta não é apenas uma
ameaça para as futuras gerações, mas também para as atuais.
No primeiro semestre de 2019 mais de 10
milhões de pessoas foram deslocadas dentro de seus países, segundo o
Observatório de Situações de Deslocamento Interno. Deste total, sete milhões o
fizeram por causas relacionadas com fenômenos meteorológicos extremos como
tempestades, inundações e secas, um número que pode alcançar 22 milhões para o
conjunto do ano.
Em 2019 foram registradas secas na América
Central e Austrália, ondas de calor na Europa e Japão, assim como
supertempestades no sudeste da África e incêndios devastadores no Brasil e na Califórnia
(EUA).
"Mais uma vez, em 2019, os riscos
ligados ao tempo e ao clima afetaram duramente", disse o secretário-geral
da OMM, Petteri Taalas. "As ondas de calor e as inundações que antes
aconteciam uma vez por século estão se tornando eventos regulares",
advertiu.
Taalas destacou que a pluviometria mais
irregular, somada ao crescimento demográfico, representará "desafios
consideráveis em termos de segurança alimentar para os países mais
vulneráveis". Em 2018, a tendência decrescente da fome no mundo foi
revertida, com mais de 820 milhões de pessoas afetadas.
Ao ritmo atual, a temperatura poderia
aumentar até 4 ºC ou 5 ºC no fim do século. Mesmo se os países respeitarem seus
compromissos atuais de redução das emissões, o aumento poderia superar 3 ºC, enquanto
o Acordo de Paris prevê limitar o aquecimento a menos de 2 ºC e, de modo ideal,
a 1,5 ºC.
A COP25, que começou na segunda-feira (2)
em Madri, tem o objetivo de estimular a luta contra o aquecimento global.
"Os Estados não têm desculpas para bloquear os avanços nem recuar quando a
ciência mostra que é urgente atuar", reagiu Kat Kramer, da ONG Christian
Aid. ANG/RFI/AFP
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