Haiti/ Primeiro-ministro apresenta demissão perante vaga de violência
Bissau, 12 Mar 24 (ANG, O Primeiro-ministro interino
do Haiti, Ariel Henry, perante a vaga de violência e a pressão de grupos
armados, que controlam entre 80% a 90% da capital, Porto Príncipe cedeu à
pressão dos parceiros regionais do país e apresentou a sua demissão.
Ariel Henry estava bloqueado em Porto Rico desde a sua viagem ao Quénia,
onde deveria abordar a vinda de uma força policial sob supervisão queniana.
O primeiro-ministro demissionário comunicou, à distância, a sua decisão
e terá deixado indicações para uma transição pacífica do poder. "O
governo que lidero não pode permanecer insensível a esta situação. Como sempre
disse, nenhum sacrifício é demasiado grande para a nossa pátria, o Haiti", afirmou
Airel Henry.
"Saudamos a demissão do primeiro-ministro com a criação de um
conselho presidencial de transição e a nomeação de um primeiro-ministro
interino. Quero agradecer ao primeiro-ministro Henry por ter servido o país,
pelos seus compromissos ao povo haitiano e peço que o aplaudam", declarou o Presidente da
Guiana e da Caricom, Mohamed Irfaan Ali.
Esta segunda-feira, 11 de Março, os países das Caraíbas estiveram
reunidos de urgência na Jamaica com representantes da ONU e de vários países,
incluindo a França e os Estados Unidos, para tentar encontrar uma solução para
o Haiti, assolado pela violência dos gangues e por uma crise de governação.
A demissão de Ariel Henry "veio abrir novas
perspectivas porque até o dia da sua demissão, a situação estava bloqueada e a
piorar", defende o professor haitiano radicado em França, Rafael
Lucas. Questionado sobre a possibilidade do primeiro-ministro demissionário
deixar a política haitiana e se manter nos Estado Unidos, Rafael Lucas acredita
que Ariel Henry não vai ter "hipótese de voltar para o Haiti
porque é um dos Presidentes mais impopulares que houve na história do Haiti. É
até meio estranho que não tenha sido assassinado, como aconteceu com o
Presidente Jovenel em 2021".
O professor haitiano radicado em França mostra-se céptico quanto à
possibilidade do país organizar um escrutínio, numa altura em que grupos
armados controlam o país. "É impossível organizar eleições num
país em que os bandidos ocupam o Palácio de Justiça há três meses e em que
também estão a ocupar quase 50% da capital. Eles estão muito bem armados, têm
até carros blindados. Vai ser difícil. É uma nova Somália. Vai ser difícil
restabelecer uma ordem institucional num caos desses".
Sem eleições desde 2016, o Haiti não tem nem Parlamento, nem Presidente.
O último chefe de Estado, Jovenel Moïse, foi assassinado em 2021. A onda
de violência protagonizada por grupos armados aumentou quando a 28 de Fevereiro
se soube que Ariel Henry, que devia ter deixado o poder a 7 de Fevereiro, nos
termos de um acordo de 2022, se tinha comprometido a realizar eleições no Haiti
apenas em 2025.
No início deste mês de Março, Ariel Henry assinou em Nairobi um acordo
para permitir o envio de uma força multinacional do Quénia para o Haiti.
ANG/RFI
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