Reafirmação do papel da organização marca mandato de Murargy
Bissau, 28 Out 16 (ANG) – O secretário-executivo da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) destacou o balanço e reflexão
sobre o futuro e a reafirmação do papel da organização na Guiné-Bissau como os
principais traços do seu mandato, que termina em Dezembro.
Em vésperas da cimeira da CPLP, onde deverá ser
designada a sua sucessora - a são-tomense Maria do Carmo Silveira -, Murade
Murargy lamentou que, nos quatro anos em que liderou o secretariado-executivo
da organização, não tenha conseguido avanços mais concretos na promoção da
mobilidade dos cidadãos lusófonos nos nove países da organização.
“É uma grande angústia que eu levo”, disse, em
entrevista à Lusa.
O secretário-executivo ressalvou que já há acordos
bilaterais para facilitar a circulação, mas essa ainda não é uma realidade
entre os nove países do bloco lusófono.
“Nem todos os países têm passaporte electrónico, há
países que têm um certo receio de terem as suas soberanias violadas ou que
ainda se debatem com problemas de segurança interna”, justificou.
O secretário-executivo garante que se empenhou
“bastante” neste tema e afirma esperar que “não se chegue aos 30 anos da CPLP a
falar do mesmo problema, sem que se tenha encontrado uma saída”.
Em jeito de balanço dos últimos quatro anos, Murade
Murargy considerou que “o barco CPLP não afundou, está a navegar, firme e com
um horizonte bem definido”, apesar de “tempestades que vieram no meio da
navegação”.
O diplomata moçambicano descreveu que a sua primeira
medida foi “recolocar a CPLP no seu caminho em relação à Guiné-Bissau”,
dialogando com todos os atores políticos guineenses.
O país estava em crise, devido ao golpe de Estado, mas
não havia sintonia entre os Estados-membros sobre como agir.
“Quando uma família está com problemas, o resto dos
membros não fica de braços cruzados, mas era o que estávamos a fazer”, afirmou.
O mandato foi, principalmente, marcado por uma
reflexão sobre os três pilares da CPLP: a concertação político-diplomática, a
língua e a cooperação.
Se quanto ao primeiro ponto, Murade Murargy considerou
que “está consolidado”, já quanto à língua portuguesa, defendeu era necessário
avançar.
“Era uma questão do passado, a língua da colonização.
Era preciso transformar a língua, entrar para o diálogo dos negócios, do
comércio, do investimento”, sustentou.
Quanto à cooperação, Murargy afirmou que os projectos
são ainda de pequena dimensão, mas que “têm impacto junto dos cidadãos”,
exemplificando os projectos na energia, trabalho infantil, género, educação das
crianças de rua ou contacto com escolas.
O secretário-executivo assinalou a necessidade de
“procurar outras fontes de financiamento, além dos Estados”, nomeadamente o
Banco Africano, o Banco Mundial ou a União Europeia, para garantir “capacidade
para se realizarem projectos multilaterais”.
Uma reflexão que pretendeu preparar a nova visão
estratégica, que propõe o rumo da organização, que celebra 20 anos, na próxima
década. A proposta deverá ser aprovada na XI conferência de chefes de Estado e
de Governo da CPLP, que decorre nos dias 31 de Outubro e 01 de Novembro em
Brasília, Brasil.
Com o mandato a terminar no final deste ano, Murade
Murargy considerou que tem a “missão cumprida” e garante que a CPLP é “uma
organização com futuro”, mas deixou um alerta: para tal, é preciso que a
“vontade política seja reafirmada” e que todos os países se “empenhem numa agenda
única”.
“Se houver uma única agenda, não haverá desinteresse
da CPLP”, assinalou.
ANG/Lusa
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