Bissau, 21 Out 16 (ANG)O presidente de França, François Hollande está a ser criticada por toda a
gente, da extrema-direita à esquerda, dos magistrados aos futebolistas, pelas
confidências que revela num livro polémico.
A obra que deveria “salvar”
a face de Hollande parece estar a “enterrá-lo” num mar de críticas.
“Un président
ne devrait pas dire ça…” (Um presidente não deveria dizer isso…),
livro escrito por dois jornalistas do Le Monde, Gérard Davet e Fabrice Lhomme,
com base em conversas com Hollande, coloca o chefe de Estado de França no
centro das críticas de todos os quadrantes políticos, da esquerda à direita.
As “balas” contra Hollande chegam até do ministro dos Negócios Estrangeiros de França,
Jean-Marc Ayrault, considerado próximo de Hollande ou não tivesse sido seu
primeiro-ministro entre 2012 e 2014.
“Um presidente não devia dizer isto… A resposta está no título, é a única
coisa interessante do livro”, salienta Ayrault, citado pelo 20minutes.fr.
Este azedume todo justificar-se-á também porque
Hollande fala de Ayrault no livro como alguém “tão leal que é inaudível” e que
“faz o seu trabalho sem entusiasmo excessivo”.
O livro deveria ser uma espécie de “operação de
resgate” do presidente francês, conforme aponta o jornal Le Figaro, nas vésperas das
eleições presidenciais em que Hollande espera ser eleito para um segundo
mandato.
O objectivo seria a “reconciliação” com a esquerda, mas as “confissões do chefe de
Estado não param de provocar reacções hostis”, sustenta o diário francês.
Entre as revelações mais surpreendentes do livro,
François Hollande revela ter “decidido, pelo menos, quatro assassinatos selectivos“,
pretensamente de terroristas jihadistas, destaca o Le Figaro, realçando
que terão sido feitos ao abrigo das chamadas “Operações Homo” (sendo “homo” de
homicidas).
A direita critica a revelação de um segredo militar e o líder do Partido de Esquerda,
Jean-Luc Mélenchon, fala em actos passíveis de serem julgados no Tribunal Penal Internacional, de
acordo com o 20minutes.fr.
E ninguém considera válida a defesa de Hollande que
diz que “outros presidentes fizeram o mesmo” – talvez por nunca o terem
assumido num livro.
Os incómodos com a obra estendem-se à Frente Nacional
de Marine Le Pen e especialmente
pela ideia de Hollande de que “a mulher com véu de hoje em dia, será a Marianne
de amanhã”.
Marianne é a figura simbólica da República Francesa e
o partido de extrema-direita não gostou da comparação e nem a contextualização
feita pelo presidente no livro alivia o desconforto.
“De uma certa maneira, se lhe oferecermos as condições
para o seu florescimento, ela libertar-se-á do seu véu e tornar-se-á uma
francesa, continuando a ser religiosa se o quiser ser”, afiança Hollande na
obra onde assume ainda que o “Islão
da França” é “um problema” por “exigir locais, reconhecimentos”.
Outra das confidências do presidente francês que está
a causar desconforto, mas mais à esquerda, é a ideia de que há demasiados imigrantes, princípio
contrário àquilo que o presidente socialista tem defendido publicamente.
“Há demasiadas chegadas, imigração que não devia
acontecer”, aponta Hollande que fala ainda da necessidade de “um acto de
liquidação”, de um “hara-kiri” para o
Partido Socialista.
Ele diz que gostaria de acabar com o partido que já
dirigiu para criar um novo partido progressista, um dado que deixou a actual
direcção socialista em fúria.
Mas as revelações de Hollande também incomodam na
Grécia, já que revela no livro que o governo de Alexis Tsipras terá pedido a
Vladimir Putin para “imprimir dracmas na
Rússia porque eles já não tinham impressoras para o fazerem”, referindo-se
à moeda grega antes da passagem ao Euro.
Das 61 conversas que os dois jornalistas autores da
obra tiveram com Hollande, conforme adianta o 20minutes.fr, saltam ainda as
críticas aos magistrados, acusados por Hollande de “cobardia” e de fazerem “o
jogo das virtudes”.
O Conselho Superior da Magistratura de França já
reagiu com desagrado, considerando que são declarações “perigosas e injustas”, conforme cita o Le Figaro, e Hollande foi
forçado a escrever um pedido de desculpas.
O presidente também dispara contra os futebolistas “sem referências, sem valores”
que passaram de “rapazes mal educados a vedetas riquíssimas” e diz que a
Federação Francesa deveria organizar “formações” tipo “musculação do cérebro”
para os jogadores.
Diz o Le Figaro que as palavras até tiraram do sério o
pacato Zinédine Zidane!
Ninguém sabe como reagiu Nicolas Sarkozy, o antecessor de Hollande na presidência de França
e possível rival na corrida ao próximo mandato no Eliseu, que é descrito como “um coelho Duracell, sempre em vias de
se agitar”, obcecado pelo dinheiro. dominado pelo “cinismo”.
A política francesa está assim, em polvorosa com estas
“declarações surpreendentes”, “revelações incríveis” e “segredos bolorentos”,
como refere a editora do livro no seu site, realçando que “nunca um
Presidente da República tinha sido empurrado a entregar-se a este ponto”.
ANG/SV/ZAP
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