quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Retrospectiva

         Ano 2016: Crise social e política agravou-se na Guiné-Bissau
Bissau,15 Dez 16(ANG) - O ano de 2016 na Guiné-Bissau foi dominado pela instabilidade política - três primeiros-ministros sem orçamento de Estado e sem programa de governo aprovado no parlamento.
 
Segundo a retrospectiva do ano 2016 publicada pela Lusa, quase todos os aspetos do quotidiano no país acabaram por ser afetados pela crise política que nasceu no seio do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), vencedor incontestado das eleições gerais de 2014, mas após um congresso interno em que já se notavam as divisões.

Braima Camara
O Presidente da República, José Mário Vaz, demitiu o primeiro-ministro (e presidente do partido) Domingos Simões Pereira em agosto de 2015 e desde então não voltou a haver um governo que conseguisse pôr o parlamento a funcionar.

Foi um balde de água fria para os doadores internacionais que poucos meses antes, em março, tinham prometido mil milhões de euros de ajuda externa à Guiné-Bissau e que agora pedem governabilidade para retomar os projetos. Mas estabilidade, nem vê-la.

Florentino Mendes Pereira
O ano de 2016 foi um prolongamento da crise política semeada em 2014 e colhida em 2015, agora com crispações pessoais e políticas a chegarem ao rubro, relegando para segundo plano a grave situação social do país.

As escolas públicas estiveram fechadas durante quase todo o primeiro período devido a uma greve geral de professores, houve deterioração de equipamentos e serviços de saúde, suspensão de projetos de novas infraestruturas rodoviárias e a atividade legislativa paralisou.

Até no futebol, que os guineenses tanto amam, o campeonato foi interrompido a meio devido a alegada falta de verbas a atribuir pelo governo.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos lançou um alerta no início de dezembro: a crise tem levado a que o país deixe de contar com políticas públicas devido a “ausência de um governo legítimo” para as elaborar.

É um regresso à estaca zero do país em que nunca um governo cumpriu o respetivo mandato até ao fim.

Por outro lado, com a instabilidade há menos controlo do erário público e a Liga refere que a corrupção têm crescido no aparelho de Estado.

O Presidente Vaz e o PAIGC aprofundaram o fosso que os separa, com o chefe de Estado a demitir o veterano Carlos Correia (segundo primeiro-ministro da legislatura) e dar posse a um governo formado pelo principal partido da oposição (PRS) e 15 deputados dissidentes do PAIGC.

Mas sem o controlo da comissão permanente da Assembleia Nacional Popular (nas mãos do PAIGC), esta nova maioria parlamentar nunca conseguiu por o hemiciclo a funcionar e o seu governo acabou por cair.

O terceiro primeiro-ministro do ano foi Umaro Sissoco, general na reserva aos 44 anos, figura desconhecida das lides políticas e que não gerou consenso junto dos partidos – apesar de resultar do Acordo de Conacri, mediado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para resolver a crise.

Nas ruas houve manifestações organizadas que juntaram cerca de mil pessoas a pedir a renúncia do Presidente da República, José Mário Vaz, mas acabaram por ser proibidas e até reprimidas pelo Governo da “nova maioria”, no que foi considerado pela Liga dos Direitos Humanos como um sinal de retrocesso no domínio das liberdades.

A organização chegou a falar da tentativa de impor um novo regime, com censura na Rádio Difusão Nacional e na Televisão da Guiné-Bissau, com o objetivo de silenciar a população.

Só o golo do guineense Éder que fez de Portugal o novo campeão europeu de futebol e o apuramento da Guiné-Bissau para o Campeonato Africano das Nações (CAN) parece salvarem o ano .Resta saber se a seleção terá verbas para participar na prova a partir de 14 de janeiro, no Gabão.
ANG/LUSA

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