População do sul da
Guiné-Bissau anuncia abandono da Mutilação Genital Feminina
Bissau,09 Dez 16(ANG) - A população de
40 aldeias do sul da Guiné-Bissau decidiu publicamente abandonar a prática de
Mutilação Genital Feminina (MGF), anunciou quarta-feira Fatumata Djau Baldé,
presidente do comité para o abandono de práticas nefastas à saúde da mulher e
criança.
Fatumata Baldé, antiga ministra dos
negócios Estrangeiros guineense, mostrou-se "feliz e convencida" em
como "pouco a pouco" as comunidades começam a perceber que a MGF
"é uma prática nociva à saúde da mulher e das raparigas e que não tem nada
a ver com a religião".
A presidente do comité para o abandono
das práticas nefastas à saúde da mulher e criança (instituição criada pelo
Estado guineense) realçou o simbolismo do anúncio feito pela população das 40
aldeias pelo facto de serem localidades com acentuada presença de costumes
islâmicos.
A vila de Quebo, principal posto
administrativo da zona onde foi declarado o abandono da prática da mutilação
genital feminina, é um conhecido centro de aprendizagem do Alcorão (livro
religioso dos muçulmanos) e alguns líderes deste centro têm-se vindo a
posicionar contra a lei que criminaliza a prática.
Um líder religioso de Quebo, Rachide
Djaló, anunciou publicamente que vai liderar uma campanha de recolha de
assinaturas para pedir ao Parlamento que anule a lei que proíbe a MGF, que
considera "uma determinação islâmica".
O Parlamento guineense aprovou, em
junho de 2011, a lei que criminaliza a prática, mas são raras as autoras da
excisão julgadas e condenadas na justiça.
Para Fatumata Baldé, constatar que a
população das 40 aldeias da zona de Quebo decidiram voluntariamente largar a
prática da excisão significa que "não estão a seguir os líderes religiosos
de forma cega", notou.
Até ao final do ano, a presidente do
comité acredita que serão cerca de 100 aldeias do interior da Guiné-Bissau a
abandonarem a prática, sobretudo por se terem apropriado das campanhas de
sensibilização e de informação.
A presidente do comité para o abandono
das práticas nefastas à saúde da mulher e criança diz que a excisão tem vindo a
baixar na Guiné-Bissau mas apela para o reforço da vigilância junto da
população rural.
Dados da Organização Mundial da Saúde
apontam que cerca de 50 por cento das mulheres e raparigas da Guiné-Bissau
tenham sido submetidas à prática da excisão.
ANG/LUSA
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