“Novo ECO pode bloquear união monetária na África Ocidental”, diz
a Capital Economics
Bissau,
10 fev 20 (ANG) – A consultora Capital Economics considerou domingo que a substituição
do franco africano CFA pela nova moeda, o ECO, vai ter poucos efeitos
económicos e corre até o risco de bloquear a união monetária na região.
“Renomear
o franco africano por ECO vai ter poucos efeitos económicos, já que a nova
moeda deverá ser governada pelo mesmo regime cambial que o seu controverso
antecessor, mas esta iniciativa pode atrasar os planos para uma união monetária
a nível regional”, lê-se numa análise da Capital Economics à iniciativa
apresentada no final do ano passado.
“Os
presidentes da Costa do Marfim e da França surpreenderam toda a gente ao
anunciar que os países da União Económica e Monetária dos Estados da África
Ocidental (UEMOA) tinham decido substituir a moeda”, admitem os analistas,
acrescentando que apesar de a iniciativa “ser uma tentativa de refrescar um
sistema antigo de 70 anos que atraiu crescente oposição nos últimos anos”, a
ideia é “mais uma evolução do que uma rotura súbita”.
A
Capital Economics argumenta que ainda que haja um efeito económico irrelevante,
“a estabilidade do franco africano impediu a oscilação abrupta dos preços que
se verificou noutros países africanos”.
O
lançamento do ECO pode, continuam, “ser o primeiro passo de uma reforma mais
ampla, já que no comunicado que dá conta da intenção se refere que a
estabilidade do ECO face ao euro ‘será mantida nesta fase da reforma’, mas
qualquer mudança para uma flexibilização da taxa de câmbio iria implicar um
significativo, e politicamente difícil, aumento da autonomia e credibilidade
das instituições monetárias da região”.
Os
planos abriram rapidamente uma discussão sobre a integração monetária na África
Ocidental, explica a Capital Economics, apontando que o Gana, que faz fronteira
com países da UEMOA em três lados, rapidamente se mostrou interessado em
aderir, mas só se a indexação ao euro fosse abandonada.
“A
Nigéria, por seu turno, teme que a iniciativa faça descarrilar a sua proposta
de uma moeda única para esta região, cujo nome é também, e de forma confusa,
Eco”, escrevem os analistas, concluindo que “não é claro se a Nigéria, que vale
quase 70% do PIB regional, quer juntar-se aos países mais pequenos, e Paris,
que aceita ajudar pequenas economias como o Mali, deverá fugir a garantir as
finanças de um país anglófono cujo PIB vale mais de 400 mil milhões de
dólares”, cerca de 362 mil milhões de euros.
As
mudanças ao acordo de cooperação monetária da União Económica e Monetária da
África Ocidental (UEMOA) com a França foram anunciadas pelo Presidente da Costa
do Marfim, Alassane Ouattara, a 21 de dezembro, na presença do Presidente da
França, a antiga potência colonizadora vão entrar em vigor quando os acordos
forem formalmente anunciados, algo que pode acontecer já este ano, mas ainda
sem um calendário definido.
A nova
moeda engloba três grandes alterações: mudança do nome, que passará de CFA para
ECO; eliminação do depósito de pelo menos 50% das reservas internacionais do
BCEAO no banco central francês, e retirada da França dos órgãos de governação
das entidades financeiras do WAEMU (conselho de administração, comité de
política monetário e comissão bancária regional).
O CFA
foi criado em 1945, com o acrónimo a representar as Colónias Francesas de
África, tendo depois mudado o nome completo para Comunidade Financeira de
África.
O novo
acordo monetário com a França mantém a indexação ao euro com o mesmo nível de
paridade (ECO655,957 por EUR1), e a garantia de notas continua a ser assegurada
pelo Tesouro francês.
Os
Estados que compõem a WAEMU são o Benim, Burkina Faso, Costa do Marfim,
Guiné-Bissau, Mali, Niger, Senegal e Togo.
O BCEAO
é o Banco Central dos Estados da África Ocidental, e é sediado em Dakar no
Senegal, de onde serão emitidas as novas notas. ANG/Inforpress/Lusa
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